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Festival de Gramado 98

Curta focaliza mãe de Glauber

A mãe de Glauber Rocha, Lúcia, de 79 anos, chorou duas horas sem parar na madrugada de domingo para segunda-feira. Pensava no filme A Mãe, a que assistira poucas horas antes na mostra competitiva do 26º Festival de Gramado.

Só parou de chorar ao refletir sobre uma frase do documentário, pronunciada por ela própria: "Lágrimas não resolvem problemas".

No documentário, dirigido por Umbelino Brasil e Fernando Belene, Lúcia fala dos filhos mortos e faz o elogio da vida.

O documentário já é um dos favoritos ao Kikito de melhor curta. E sua protagonista, Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber e da atriz Anecy, é uma das figuras mais admiráveis de todo o Festival de Gramado.

Depois da exibição de A Mãe, ela passou a ser abordada por atores, produtores e jornalistas no Palácio dos Festivais e no Hotel Serrano. As pessoas querem ouvir seus comentários bem-humorados, suas lembranças únicas sobre os anos de glória do Cinema Novo e sua história particular de enfrentamento da dor.

Lúcia Rocha perdeu três filhos. Ana Marcelina morreu aos 11 anos, vítima de leucemia. A atriz Anecy Rocha, no auge da carreira, despencou no fosso de um elevador. Glauber, cineasta consagrado, teve câncer.

"Outras pessoas se jogariam numa cama e não parariam de chorar. Achavam, inclusive, que eu faria isso. Quando perdi o terceiro filho, a vida perdeu o sentido. Tenho um medo de morrer que me pelo, mas naquela hora eu não queria mais viver. O ator Geraldo Del-Rey foi quem cuidou de mim", conta Lúcia.

O que deu novo impulso para ela foi o nascimento da bisneta, Sara. Em seguida, veio o desejo de montar um acervo de pesquisa com documentos que Glauber havia deixado.

No caminho, reuniu e catalogou cerca de 50 mil documentos, disponíveis hoje no acervo Tempo Glauber, em Botafogo, no Rio.

Lúcia acompanhou de perto as filmagens de clássicos como Barravento, Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, fez amizade com figuras como o cineasta Nelson Pereira dos Santos e gosta de dizer que ela não descobriu o cinema e sim o contrário.

Lição de vida

Quando era menina, em Vitória da Conquista na Bahia, a cidade nem tinha sala de projeção, mas ela já colecionava fotografias de artistas franceses e norte-americanos.

A mulher que fez a cabeça do mais revolucionário cineasta brasileiro passou a infância no sertão lendo clássicos da literatura e poemas de Castro Alves. Conta que o pai e a mãe tinham preguiça de forçar a vista e obrigavam as filhas a ler em voz alta trechos da Bíblia ou Os Miseráveis, de Victor Hugo.

Mais tarde, tanta leitura ajudou-a a alfabetizar os filhos. Glauber tinha sete anos quando, certo dia, chegou mais cedo em casa, trazendo pela mão as duas irmãs.

        – Não volto mais à escola. Nem eu, nem as meninas - anunciou.

        – Que houve, menino? – quis saber a mãe.

        – Não tolero burrice. A professora disse que, antes de Pedro Álvares Cabral, não tinha gente no Brasil. Será que ela acha que índio não é gente?

Quando Lúcia foi à escola, encontrou uma professora aliviada:

        – Que bom. Esse menino é terrível e ainda fica contaminando os colegas com as suas idéias. (Agência RBS)

  

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