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INTERLÚDIO (Notorious)

de Alfred Hitchcock

Mais lembrado como um mestre do suspense (ou até do terror, o que não deixa de ser um erro), Hitchcock também fez vários filmes policiais e de espionagem. "Interlúdio" é um dos melhores, com um trama simples, mas bem eficiente, e um desempenho admirável de Ingrid Bergman. Dizem que Hitchcock referia-se a seus atores como "gado". Também dizem que suas heroínas não passavam de louras geladas e desmioladas. "Interlúdio", contudo, desmente estas bobagens.

Alicia (Bergman) - linda, mas com uma péssima reputação - é a filha americana de um espião nazista, que é condenado e preso nos Estados Unidos, suicidando-se logo após. Devlin (Cary Grant) trabalha para o governo dos EUA e tem a missão de transformar Alicia numa contra-espiã. Para isso, ela deve viajar para o Rio de Janeiro e encontrar-se com Sebastian, um alemão suspeito de espionagem que já esteve apaixonado por ela (o que facilita muito as coisas). Mas há um problema: Alicia e Devlin apaixonam-se no começo do filme.

A trama até pode parecer rocambolesca (e é), mas aí aparece o talento de Hitchcock. Ele não está interessado na espionagem em si, nem nas conseqüências do conflito para os agentes americanos e alemães da história, e muito menos para as duas nações. Ele está interessado nos dramas mais íntimos de seus personagens, que envolvem, como sempre, amor e sexo. Ou melhor: amor, sexo e culpa. Patriotismo, como diz Alicia no próprio filme, não passa de um assunto que dá dor de cabeça.

O conflito básico envolve a dificuldade de Alicia e Devlin para fingir que não estão apaixonados e, mais do que isso, para impedir que a sua relação atrapalhe a espionagem de Alicia. Ingrid Bergman está muito longe de ser uma loura burra e gelada em "Interlúdio". Ela é muito quente e muito esperta, tanto que antecipa o que será obrigada a fazer, dizendo que vai agir "como Mata Hari, que se entregava para obter segredos".

As velhas preocupações morais de Hitchcock afloram a todo momento. Apesar de discreto em relação à imagem, os diálogos de "Interlúdio" são bastante explícitos. Alicia fica noiva, transa e depois casa com Sebastian, mesmo apaixonada por Devlin, para cumprir o papel que esperam dela. Devlin, por sua vez, morre de ciúmes, mas é orgulhoso demais para compreender o sacrifício de sua amada. Bobamente, acha que Alicia voltou à sua vida de festas, bebidas e amores inconseqüentes.

Grant sempre fez muito bem esse papel de idiota romântico sob a pele de um homem de ação. A cena final, realizada com o costumeiro cuidado de Hitchcock com os enquadramentos e os movimentos de câmara, sustenta-se exclusivamente pelas motivações dos personagens.

Não há um só tiro em "Interlúdio". Ninguém corre nem eleva o tom da voz. Em compensação, há o prazer de ver o velho Hitch em plena forma, rindo de si mesmo e de seus pobres personagens, enquanto nós, espectadores, nos deliciamos com um cinema sofisticado, capaz de reunir suspense e bom-humor numa mesma seqüência. O melhor de tudo é que "Interlúdio" é apenas uma amostra. Corra para a locadora e descubra tudo o que aquele velho careca era capaz de fazer com uma câmara e uma loura.


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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

 

 

 

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