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JOHN HUSTON (1906-1987)

Neste tempos em que cinema é sinônimo de indústria, e os cineastas são, cada vez mais, homens de negócios, a obra e a vida de John Huston assumem um caráter definitivamente romântico. Huston viveu intensamente, fez filmes mais intensos que a própria vida e, sem nunca ter merecido todo o crédito que merece, nos deixou um legado extraordinário, que é parte fundamental da história do cinema. Seu estilo foi humanista por excelência. Em suas mãos, diversos atores alcançaram desempenhos muito acima do que mostravam em outros filmes, porque, para Huston, ou o personagem era de verdade, e tinha cheiro de ser humano, ou não era nada. Não é a toa que sua galeria de perdedores é imensa, enquanto a de heróis é bastante limitada.

Filho do ator Walter Huston, John cresceu dividido entre o mundo intelectual (escrevia e fez pequenas pontas em filmes) e o mundo "de verdade": lutou box e aprendeu a andar a cavalo. Depois viajou bastante, adquirindo assim uma experiência cultural que depois se tornaria muito útil em sua carreira. Sua atividade profissional em Hollywood começou em 1938, como roteirista (relativamente tarde, pois já tinha 32 anos), mas, a partir daí, trabalhou num ritmo alucinante.

Em 1941, estréia na direção filmando "Relíquia macabra", com Humphrey Bogart, hoje um clássico absoluto do cinema "noir". As marcas pessoais de Huston já são evidentes neste filme: pessimismo, sem perder a ironia; romantismo, sem perder a realidade de vista. Em 1947, depois da guerra (durante a qual fez três documentários) roda mais um clássico, "O tesouro de Sierra Madre", história de aventura, em que, mais uma vez, os heróis não têm força suficiente para controlar o destino.

Em 1952, com "Uma aventura na África", consagra-se como grande diretor de atores, criando um dos casais mais conhecidos do cinema, Katharine Hepburn e Humphrey Bogart, ambos em desempenhos fantásticos. Hollywood aposta no talento de Huston, aumentando seus orçamentos e convencendo-o a dirigir super-produções, como "O bárbaro e a gueixa" e "Moby Dick". Neste último, volta a acertar a mão, obtendo um clima perfeito para a adaptação do livro de Melville, além de dar mais uma aula de direção de ator, desta vez consagrando Gregory Peck como o obstinado capitão Ahab.

"Os desajustados", realizado em 1961, mostra uma Marilyn Monroe tão talentosa quanto desesperada, numa história muito triste escrita por seu marido, o dramaturgo Arthur Miller. A partir daí, nas décadas de 60,70 e 80, Huston parece oscilar entre a sua vontade e a dos estúdios, pois alterna filmes nitidamente pessoais com obras de encomenda. Não se vê muito de Huston em "A lista de Adrian Messenger" (1963), nem em "Cassino Royale" (co-direção, 1967), ou "Carta ao Kremlim" 1970). Muito menos no fracassadíssimo "Fuga para a vitória" (1981), em que dirigiu Pelé numa história absurda, quase patética.

Mas, quando tinha as rédeas nas mãos, Huston ainda era capaz de construir seus clássicos. "O homem que queria ser rei" (1975) é uma aventura baseada em Kipling, retomando o estilo de "O tesouro de Sierra Madre". "Cidade das ilusões", filme "pequeno" no orçamento e nas pretensões comerciais, é uma obra-prima sobre boxeadores fracassados, com a inesquecível canção "Help Me Make It Through the Night", de Kris Kristofferson, nos créditos inciais.

No fim da vida, com o rosto e o corpo já marcados por todas as brigas que venceu e perdeu, pelas bebedeiras que tomou, pelos jogos de cartas em que apostou tudo o que tinha e pelos muitos amores que viveu, ainda teve energia para fazer mais três clássicos: "À sombra do vulcão", "A honra dos poderosos Prizzi" (em que brilha sua filha Anjelica) e "Os vivos e os mortos". Neste último, teve a suprema audácia de adaptar James Joyce. E com sucesso! Ninguém poderia pedir mais a este homem selvagem.

FILMOGRAFIA

1. The Maltese Falcon (Relíquia Macabra, 1941)
2. In This Our Life (Nascida Para o Mal, 1942)
3. Across the Pacific (Garras Amarelas 1942)
4. Report from the Aleutians (doc., 1944)
5. The Battle of San Pietro (doc., 1945)
6. Let There Be Light (doc., 1943-1945)
7. The Treasure of Sierra Madre (O Tesouro de Sierra Madre, 1947)
8. Key Largo (Paixões em Fúria, 1948)
9. We Were Strangers (Resgate de Sangue, 1949)
10. The Asphalt Jungle (O Segredo das Jóias, 1950)
11. The Red Badge of Courage (A Glória de Um Covarde, 1957)
12. The African Queen (Uma Aventura na África, 1952)
13. Moulin Rouge (idem, 1953)
14. Beat the Devil (O Diabo Riu por Último, 1954)
15. Moby Dick (idem, 1956)
16. Heaven Knows Mr. Allison (O Céu por Testemunha, 1957)
17. The Barbarian and the Geisha (O Bárbaro e a Gueixa, 1958)
18. Roots of Heaven (Raízes do Céu, 1958)
19. The Unforgiven (O Passado Não Perdoa, 1960)
20. The Misfits (Os Desajustados, 1961)
21. Freud (Freud, Além da Alma, 1962)
22. The List of Adrian Messenger (A Lista de Adrian Messenger, 1963)
23. The Night of the Iguana (A Noite do Iguana, 1964)
24. The Bible... in the Beggining (A Bíblia no Princípio, 1966)
25. Cassino Royale (idem, co-dir., 1967)
26. Reflection in a Golden Eye (Os Pecados de Todos Nós, 1967)
27. Sinful Davey (O Irresistível Bandoleiro, 1968)
28. A Walk with Love and Death (Caminhando com o Amor e a Morte, 1969)
29. The Kremlin Letter (Carta ao Kremlin, 1970)
30. The Fat City (Cidade das Ilusões, 1972)
31. The Life and Times of Judge Roy Bean (Roy Bean, o Homem da Lei, 1972)
32. The Mackintosh Man (O Homem de Mackintosh, 1973)
33. The Man Who Would Be King (O Homem que Queria Ser Rei, 1975)
34. Wise Blood (1979)
35. Phoebia (1980)
36. Victory (Fuga Para a Vitória, 1981)
37. Annie (idem, 1982)
38. Under the Volcano (À Sombra do Vulcão, 1984)
39. Prizzi's Honor (A Honra do Poderoso Prizzi, 1985) 40. The Dead (Os Vivos e os Mortos, 1987).



Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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