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Sensor de movimentos ajuda postura de crianças com autismo

Sensores de movimento ajudam cientistas da UFMG a entender o controle postural de crianças com TEA (transtorno do espectro autista, conhecido como autismo)

22 fev 2024 - 16h15
(atualizado às 18h45)
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O TEA —  transtorno do espectro autista, conhecido popularmente apenas como autismo — afeta o neurodesenvolvimento e compromete fatores como a coordenação motora, o equilíbrio e a propriocepção (percepção do corpo no espaço). Diante dessa questão, uma equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) passou a testar sensores de movimento para analisar o controle postural de crianças com o transtorno.

Foto: stevanovicigor/envato / Canaltech

O chamado Sistema de Análise do Movimento Tridimensional captura o movimento humano em três dimensões com a ajuda de marcadores reflexivos colocados em pontos anatômicos específicos do corpo, como articulações e segmentos corporais, para rastreá-los.

A tecnologia conta com câmeras infravermelhas que capturam a imagem dos marcadores em várias posições ao longo do tempo. Em seguida, softwares capazes de determinar a posição tridimensional de cada marcador em relação ao espaço analisam e processam essas posições. O procedimento também envolve uma série de análises específicas, como:

  • Cinemática: movimento sem considerar as forças que o causam, ou seja: "o quê" e "quão rápido" o corpo se move, mas não "por que" se move dessa maneira.
  • Cinética: forças que agem sobre os corpos em movimento, fricção, gravidade e como essas forças afetam o movimento.
  • Amplitude de movimento: extensão completa de movimento de u ma articulação.
  • Velocidade e aceleração: o tempo que leva para uma parte do corpo mudar de posição.

A tecnologia também deve analisar a postura das crianças quando estão sentadas, e não apenas quando estão de pé. Isso é importante, uma vez que tal posição pode impactar o desenvolvimento de várias habilidades na infância, considerando que para o público infantil, passar o dia sentado é um hábito comum, por conta da escola.

Desafios motores do autismo

As crianças com autismo podem ter hipersensibilidade sensorial, então essa sobrecarga de estímulos sensoriais (como luzes, sons e texturas) pode interferir diretamente no envolvimento em atividades motoras, especialmente aquelas que envolvem contato físico.

Assim, as dificuldades na integração sensorial (processar e interpretar informações sensoriais) pode gerar consequências no que diz respeito à capacidade de coordenar movimentos e responder adequadamente a um ambiente.

Sensores de movimentos podem ajudar crianças com autismo (Imagem: Acervo Pessoal/Letícia Paes Silva/UFMG)
Sensores de movimentos podem ajudar crianças com autismo (Imagem: Acervo Pessoal/Letícia Paes Silva/UFMG)
Foto: Canaltech

As preferências sensoriais limitam a disposição (ou, dependendo do caso, a capacidade) de participar de atividades motoras que estão fora de suas zonas de conforto ou que não se alinham com suas preferências sensoriais específicas.

Consequências

Como consequência das limitações do TEA, os envolvidos podem ter problemas para andar (fazendo isso de maneira descoordenada), dificuldades com manipulação de objetos e escrita, problemas para coordenar os movimentos entre os lados esquerdo e direito do corpo entre os diferentes membros.

Em outros casos, esse público pode ter baixo tônus muscular e problemas para manter a postura ou o equilíbrio. Outros ainda podem ter problemas com ações como pegar uma bola ou imitar os movimentos de outras pessoas, e com o planejamento de uma série de movimentos ou gestos.

Fisioterapia para crianças com autismo

Ao Canaltech, Letícia Paes Silva — mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação (PPGCR) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) — conta que "tradicionalmente, as deficiências motoras não são descritas como características inerentes às pessoas com TEA", então essas crianças não eram reportadas para a fisioterapia, e não se tinha muita atenção a essas questões motoras.

No entanto, a fisioterapeuta diz que a situação tem mudado: "Ao longo dos anos, a literatura vem crescendo e demonstrando a presença das dificuldades motoras das crianças com TEA e hoje em dia a gente já tem uma evidência robusta". Na prática, existem crianças com TEA com maiores dificuldades motoras e existem aquelas com menores dificuldades. 

Como o sensor de movimento ajuda?

De acordo com Letícia, esse sistema é considerado o padrão-ouro para análise do movimento em geral. "É a partir dele que a gente consegue fazer as avaliações mais detalhadas e entender a fundo como é essa dificuldade, de onde vem, e depois de entender um pouco da base de como esse movimento acontece, seguir no caminho de melhores intervenções, um raciocínio clínico mais apurado, mais específico e correto", esclarece a pesquisadora.

A especialista explica por que os sensores são colocados em pontos específicos do corpo: "A gente marca pontos específicos [proeminências ósseas, por exemplo] para que depois, no sistema, a gente consiga reconstruir o esqueleto. A partir dessa reconstrução, eu consigo analisar toda a cinemática do movimento da criança, as dimensões corporais. É importante que esses pontos anatômicos sejam identificados de maneira correta", conclui. 

Filme Avatar

Uma curiosidade é que a ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Análise de Movimento (LAM) da EEFFTO em parceria com a Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB) teve, como principal ponto de partida, a ideia dos sensores de movimento usados na franquia Avatar, de James Cameron.

Vale lembrar que esses trajes de captura de movimento de Avatar já foram usados para detectar doenças como a neurodegenerativa ataxia de Friedreich, ou a Distrofia Muscular de Duchenne, caracterizada pela fraqueza muscular progressiva).

Por enquanto, os pesquisadores da UFMG buscam voluntários de seis a oito anos — tanto crianças com o TEA (autismo) quanto crianças sem nenhuma peculiaridade de saúde — que possam participar do estudo envolvendo o sensor de movimentos. Os interessados devem preencher um formulário.

Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Spectrum

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