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O desafio de educar o cérebro hiper-conectado da Geração Z

Diretor do laboratório de psicologia do desenvolvimento e educação infantil do CNRS-Sorbonne e defende uma aprendizagem adaptada a essas mudanças

23 fev 2015 - 09h54
(atualizado às 11h24)
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Composta por pessoas nascidas entre os anos de 1990 e 2010, a chamada Geração Z é formada por jovens inquietos, pouco fiéis às marcas e habituados a desempenhar tarefas múltiplas
Composta por pessoas nascidas entre os anos de 1990 e 2010, a chamada Geração Z é formada por jovens inquietos, pouco fiéis às marcas e habituados a desempenhar tarefas múltiplas
Foto: Ollyy / Shutterstock

A Geração Z, que cresceu com os videogames e os celulares, ganhou aptidões cerebrais no que se refere à velocidade dos automatismos, em detrimento de outras como o raciocínio e o autocontrole, explica o professor de Psicologia Olivier Houdé.

Diretor do laboratório de psicologia do desenvolvimento e educação infantil do CNRS-Sorbonne e autor do livro "Aprender a resistir", Houdé defende uma aprendizagem adaptada a essas mudanças.

O cérebro das crianças nascidas na era digital é diferente?

Olivier Houdé: O cérebro é o mesmo, mas os circuitos utilizados mudam. Diante das telas, na vida em geral, os nativos digitais tem uma espécie de trem de alta velocidade cerebral que vai do olho ao polegar. Utilizam sobretudo uma zona do cérebro, o córtex pré-frontal, para melhorar essa rapidez de decisão e de adaptação multitarefa, ligadas às emoções. Mas isto acontece em detrimento de outra função dessa zona, mais lenta, de distanciamento, de síntese pessoal e de resistência cognitiva.

O que você chama de "resistência cognitiva"?

Olivier Houdé: Existem três sistemas no cérebro humano. Um é mais rápido, automático e intuitivo, altamente requerido no uso de telas. O outro é mais lento, lógico e reflexivo. Um terceiro sistema no córtex pré-frontal permite decidir entre os dois primeiros: o coração da inteligência. Permite inibir os automatismos do pensamento quando se faz necessária a aplicação da lógica ou da moral. É a resistência cognitiva. Inibir é resistir. Os nativos digitais devem reaprender a resistir para pensar melhor.

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Como isso pode se manifestar na vida das crianças?

Olivier Houdé: É um processo de adaptação notável, de distanciamento que permite resistir às respostas impulsivas. Mas o amadurecimento desse processo é lento no caminho do desenvolvimento da criança e do adolescente. É por isso que se deve educá-los e treiná-los intensamente no colégio. É o que eu chamo de 'aprender a resistir', uma pedagogia do controle cognitivo. Nós demonstramos em laboratório, mas ainda falta mostrar suas aplicações na escola. É útil para o raciocínio, para a categorização, mas também para a leitura ou para matemática.

Este mecanismo cerebral pode ter utilidade social?

Olivier Houdé: Permite, por exemplo, evitar decisões absurdas, às vezes de maneira coletiva, em uma empresa. Permite também resistir, em nossas democracias, nas crenças errôneas: as teorias de complô, por exemplo, ou estereótipos muito ancorados. E a resistência cognitiva também é um fator de tolerância. Permite a inteligência interpessoal, ou seja, a capacidade de silenciar seu próprio ponto de vista para favorecer o do outro. Quando os atentados de Paris levam a falar de "desradicalização", do que se trata essa resistência cognitiva. Educar o cérebro é ensiná-lo a resistir à sua própria irracionalidade. Um verdadeiro desafio para as ciências cognitivas e para a sociedade atual.

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