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Habilidades no autismo são "turbinadas" por ruído neural

Altas taxas de excitabilidade neuronal geram o chamado ruído neural, que é mais exacerbado no autismo

1 abr 2024 - 17h42
(atualizado às 22h54)
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Abril é o mês de conscientização sobre autismo, e uma descoberta recente vem para lançar luz sobre os processos cognitivos inerentes da condição e o mecanismo que "turbina"

algumas propriedades em pessoas no espectro autista. Afinal, por que pessoas autistas performam melhor em determinadas tarefas do que outras fora do espectro? A resposta pode finalmente ter sido revelada.

Foto: Freepik / Canaltech

A ciência vem, por décadas, tentando entender o que leva o autista a ter dificuldades em aspectos sociais, cognitivos, comportamentais e até mesmo de comunicação.

Para além dessas características, os mesmos estudos também evidenciam como pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) encaram problemas diários realizando tarefas de maneira peculiar, muitas vezes com excelência. 

Afinal, existe vantagem no autismo? Segundo estudos recentes, sim. Alguns mostram que, em determinadas áreas, pessoas autistas são mais assertivas por enxergarem o todo de uma maneira diferente. A resposta pode estar no chamado "ruído neural".

Ruído neural: altos e baixos nas sinapses são maiores no autismo (Imagem: Freepik)
Ruído neural: altos e baixos nas sinapses são maiores no autismo (Imagem: Freepik)
Foto: Canaltech

O que é ruído neural?

Já ouviu falar de ruído rosa, branco e afins? Pois bem: parta desse mesmo princípio para entender o que seria o ruído neural. A atividade cerebral gera flutuações aleatórias quando o cérebro está em atividade de processamento, o que resulta em ruídos cerebrais, ou neurais. Isso acontece com todas as pessoas.

Como o padrão desses ruídos é aleatório, significa que, quando um mesmo estímulo é aplicado diferentes vezes sobre o mesmo cérebro, nem sempre a resposta será a mesma, com a mesma intensidade. Há momentos em que o cérebro está mais ativo, por exemplo. Fato é que nossas respostas a um estímulo podem flutuar de maneira contínua, dependendo do estado de alerta do cérebro.

Variáveis importantes podem influenciar nossas respostas cerebrais, como horário do dia, hábitos de sono, alimentação e, claro, condições neurológicas.

Autismo e ruído neural

Para falarmos do ruído neural no autismo, vamos primeiro ilustrar como um cérebro típico lida com essas informações. Primeiramente, tudo é resultado de processos bioquímicos das sinapses nervosas, ou seja, da atividade neuronal de cada pessoa. As fontes desse ruído podem variar bastante, o que influencia em como os neurônios se excitam e se acalmam durante uma atividade, um pensamento ou um comportamento.

O cérebro autista performa de maneira diferente, respondendo com mais excitação a um estímulo (Imagem: Garakta-Studio/Envato)
O cérebro autista performa de maneira diferente, respondendo com mais excitação a um estímulo (Imagem: Garakta-Studio/Envato)
Foto: Canaltech

O cérebro típico tem seus mecanismos para lidar com esses ruídos neurais. Nosso sistema de memória, por exemplo, reside no hipocampo — e ali, as células podem usar o ruído neural para melhorar a codificação das nossas memórias e fazer com que nos lembremos delas.

Já no autismo, evidências apontam para uma atividade cerebral aumentada, culminando em mais ruído neural. Isso explicaria por que alguns autistas identificam uma forma geométrica camuflada em um emaranhado de desenhos complexos com tamanha facilidade, por exemplo. 

Estudos mostram que, em crianças autistas, existem mais flutuações neurais durante as sinapses, tornando-as menos previsíveis, uma vez que existe uma maior variação de respostas frente ao mesmo estímulo.

Em outras palavras, em cérebros típicos, um eletrocardiograma simples mostraria gráficos mais harmônicos, enquanto em pessoas com TEA, as diferenças entre picos e vales da atividade elétrica cerebral se mostrariam muito mais intensas, com muito mais "sobes e desces". Traduzindo esses gráficos, pode-se dizer que há mais amplitude de ruído neural no cérebro autista.

Muito ruído neural é bom ou ruim?

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Glasgow, embora o aumento de ruído neural seja uma desvantagem para pessoas com TEA, essa mesma característica pode evidenciar desempenho acima da média em tarefas específicas. Isso acontece graças a um fenômeno chamado ressonância estocástica. 

Quando há esse tipo de ressonância, quantidades ideais de ruído podem turbinar o desempenho da pessoa autista, levando-a a se destacar em atividades como música, matemática, pintura, escrita, etc. 

Pesquisas que buscam compreender os mecanismos cerebrais no autismo são necessárias, não apenas para clarificar os processos cerebrais, mas também para conscientizar a população e reduzir o estigma e o preconceito em relação ao transtorno.

Fonte: The Conversation; Developmental ScienceFrontiers

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