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Como é andar na Lua? Veja o que dizem antigos astronautas

Quatro americanos relatam escuridão total, sensação de vazio e outras coisas que sentiram e viram ao pisar no satélite natural

28 mai 2018 - 14h28
(atualizado em 29/5/2018 às 16h54)
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Doze astronautas americanos já caminharam na Lua
Doze astronautas americanos já caminharam na Lua
Foto: NASA / BBC News Brasil

A última missão americana à Lua, a Apollo 17, partiu pouco depois da meia-noite de 7 de dezembro de 1972. Sua tripulação passou três dias na superfície lunar, coletando amostras e conduzindo experimentos.

Desde então, nenhum ser humano caminhou na Lua, embora a China prometa uma missão ao satélite em 2030.

A morte, no último sábado, do antigo astronauta americano Alan Bean, significa que restam apenas quatro homens vivos que podem descrever por experiência própria como é pisar na superfície lunar.

A partir de entrevistas e textos escritos por eles, a BBC resgata essas descrições:

Short presentational grey line
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Foto: BBC News Brasil

Charles Duke, nascido em 3 de outubro de 1935

O astronauta Charles Duke foi a pessoa mais nova a pisar na Lua e sua voz ficou famosa ao narrar que estavam respirando de novo após a Apollo 11 pousar
O astronauta Charles Duke foi a pessoa mais nova a pisar na Lua e sua voz ficou famosa ao narrar que estavam respirando de novo após a Apollo 11 pousar
Foto: AFP / BBC News Brasil

Uma das vozes mais importantes da exploração espacial americana, Duke serviu como comunicador de aeronaves - ou "capcom" - durante a missão Apollo 11, quando Neil Armstrong se tornou a primeira pessoa a caminhar na Lua.

Estima-se que 600 milhões de telespectadores tenham escutado sua voz. "Estamos respirando de novo", disse, em frase que ficou famosa, assim que o pouso da Apollo 11 foi confirmado.

Poucos anos depois, ele liderou sua própria missão lunar.

"Vocês gostariam de ir à Lua comigo?", ele perguntou a seus filhos antes da missão Apollo 16, em 1972. Como piloto do módulo lunar, ele ficou encarregado de inspecionar e coletar amostras de uma região acidentada e montanhosa da Lua.

Quando seus filhos disseram que sim, queriam ir junto, Duke prometeu levar consigo um retrato da família - e deixá-lo ali, na Lua. O retrato deve estar lá até hoje.

"Eu sempre planejei deixar (o retrato ali)", ele disse em entrevista de 2015. O verso da foto tinha os escritos: "Esta é a família do astronauta Charlie Duke, do planeta Terra, que pousou na Lua em 20 de abril de 1970."

Charles Duke pousou no Oceano Pacífico com mais dois colegas ao retornar da missão Apollo 16, em 1972
Charles Duke pousou no Oceano Pacífico com mais dois colegas ao retornar da missão Apollo 16, em 1972
Foto: NASA / BBC News Brasil

Em 1999, Duke relatou à Nasa sobre a experiência de conduzir um veículo lunar na superfície do satélite. "Eu estava tirando fotos e descrevendo o terreno que estávamos passando", disse ele. "O carro era incrível. Era elétrico, tração nas quatro rodas e subia uma inclinação de 25 graus."

"Até onde a vista alcançava, era apenas o terreno ondulado da superfície lunar. Foi realmente uma visão impressionante. Meu único arrependimento de toda a missão foi que nós não tiramos fotos suficientes com as pessoas neles."

David Scott, nascido em 6 de junho de 1932

David Scott disse que apenas um artista ou um poeta poderiam transmitir a verdadeira beleza do espaço
David Scott disse que apenas um artista ou um poeta poderiam transmitir a verdadeira beleza do espaço
Foto: NASA / BBC News Brasil

Nascido em San Antonio, no Texas, David Scott formou-se na Força Aérea dos EUA antes de ingressar na Nasa em 1963.

Ele foi para o espaço três vezes e, como comandante da Apollo 15, foi a sétima pessoa a andar na Lua, a primeira a dirigir nela e o último americano a voar sozinho na órbita da Terra.

David Scott com o veículo lunar da Apollo 15, em 1971
David Scott com o veículo lunar da Apollo 15, em 1971
Foto: NASA / BBC News Brasil

"Eu me lembro de levantar minha mão até o ponto onde a Terra estava suspensa no céu negro", escreveu ele no livro Two Sides of the Moon (Dois Lados da Lua).

"Levantando meu braço devagar até que meu polegar duro debaixo da luva ficasse pra cima, descobri que ele podia apagar completamente o nosso planeta. Um pequeno gesto e a Terra toda se foi", conta.

Scott diz que ele é frequentemente questionado sobre os momentos que passou na Lua e se isso o mudou de alguma forma.

"Eu descrevo a majestade das montanhas lunares", diz ele, "as camadas de lava vulcânica ou a beleza dos cristais cintilantes nas rochas".

E acrescenta: "Apenas um artista ou poeta poderia transmitir a verdadeira beleza do espaço."

Harrison Schmitt, nascido em 3 de julho de 1935

Harrison Schmitt integrou a equipe da Apollo 17, em 1971; para ele, foi difícil se adaptar à escuridão do espaço
Harrison Schmitt integrou a equipe da Apollo 17, em 1971; para ele, foi difícil se adaptar à escuridão do espaço
Foto: AFP / BBC News Brasil

Nascido em Santa Rita, Novo México, Harrison Schmitt tinha um histórico diferente de seus pares.

Geólogo e acadêmico, ele não serviu na Força Aérea, mas sim como astrogeólogo, inicialmente instruindo os astronautas da Nasa durante suas viagens de campo antes de se tornar um cientista-astronauta da agência espacial, em 1965.

Ele foi designado em agosto de 1971 para voar na última missão, a Apollo 17, substituindo Joe Engle como piloto do módulo lunar. Schmitt desembarcou na Lua com o comandante Gene Cernan em dezembro de 1972.

A tripulação fez a famosa fotografia Blue Marble (Mármore Azul), que se tornou uma das imagens mais reproduzidas e reconhecidas da história.

A foto Blue Marble é uma das mais famosas da Terra
A foto Blue Marble é uma das mais famosas da Terra
Foto: NASA Johnson Space Center / BBC News Brasil

Em um depoimento gravado pela Nasa em 2000, Schmitt disse que a luz projetada na Lua forneceu detalhes impressionantes.

"Você podia ver detalhes com muita clareza. Eu tive a chance de ver este magnífico vale em que estávamos, um vale mais profundo que o Grand Canyon. Montanhas com mais de 2 mil metros de cada lado, 56 quilômetros de comprimento e cerca de 5 quilômetros de largura."

Schmitt disse que uma das coisas mais difíceis foi se acostumar com a escuridão do espaço.

"O maior problema que eu acho que os fotógrafos têm com fotos do espaço é encontrar uma maneira de imprimir preto, preto absoluto. Certamente, os slides que você mostra terão um pouco de azul ao fundo, e você nunca vai conseguir o contraste que tínhamos visualmente na Lua, porque o céu era negro."

Edwin 'Buzz' Aldrin, nascido em 20 de janeiro de 1930

O astronauta Buzz Aldrin foi o segundo homem a pisar na Lua
O astronauta Buzz Aldrin foi o segundo homem a pisar na Lua
Foto: NASA / BBC News Brasil

Nascido em Nova Jersey, Buzz Aldrin tornou-se astronauta da Nasa em 1963 e fez parte da missão Apollo 11, em 1969, a primeira viagem espacial a enviar astronautas à Lua.

Durante a missão ele foi acompanhado por Neil Armstrong, que deu os primeiros passos no satélite, seguido minutos depois pelo próprio Aldrin. Os dois passaram um total de 21 horas e 36 minutos na superfície lunar.

Sua espaçonave, o módulo Eagle (Águia), pousou em uma área da Lua chamada Mar da Tranquilidade, onde eles começaram a explorar a superfície.

Fotografias tiradas por Armstrong de Aldrin descendo da Águia, que ele pilotou, e andando na superfície lunar são famosas em todo o mundo.

Buzz Aldrin descreveu a sensação de pisar na Lua de 'desolação magnífica'
Buzz Aldrin descreveu a sensação de pisar na Lua de 'desolação magnífica'
Foto: NASA / BBC News Brasil

Em 1998, Aldrin descreveu a superfície da Lua como sendo coberta por uma fina "poeira de talco" cinza escuro com uma variedade de pedras e pedregulhos espalhados.

"Se você examiná-lo sob um microscópio, você pode ver que ela é feita de gotículas pequenas e solidificadas de rochas vaporizadas resultantes de impactos extremos de velocidade", disse ele em uma entrevista publicada pela Scholastic.

Ele disse que o termo "desolação magnífica" se referia em parte à realização de estar lá, e em parte à "falta de vida".

Aldrin também descreveu a ausência de peso como "uma das experiências de voo espacial mais divertidas e agradáveis, desafiadoras e recompensadoras".

"Talvez não muito longe de um trampolim, mas sem a flexibilidade e a instabilidade de um", disse.

Desde a sua viagem à Lua, Aldrin tem dito: "Um dia, vamos enviar algumas pessoas para a superfície de Marte."

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