"A cultura do trem no Brasil foi morta pelo Estado brasileiro", diz especialista
As lembranças de pegar um trem para o trabalho, de longas viagens sobre trilhos, ficaram nas memórias dos mais velhos e em letras de canções populares, como as de Adoniran Barbosa, brinca o economista Thiago Guimarães.
Mestre em Planejamento e Desenvolvimento Urbano pela HafenCity Universität Hamburg, na Alemanha, ele diz que o brasileiro possuía uma cultura de trem, mas que ela foi morta pelo Estado brasileiro. Guimarães explica que a defasagem nas ferrovias aconteceu, acompanhada de uma falta de investimentos de um modo geral na infraestrutura. "Primeiro a crise da dívida externa nos anos 70, depois se passa pela resseção econômica dos anos 80. E nos 90 vem a agenda do ajuste fiscal", lembra.
O economista também cita o "suposto lobby" da indústria automobilística. "O JK implanta um projeto automobilístico no Brasil e se cria um lobby muito poderoso. E ajuda a entender porque o Brasil favorece o automóvel, apesar do potencial do País para outros meios, como o transporte hidroviário e o próprio ferroviário. São mais eficientes e ambientalmente melhores", afirma Guimarães, que hoje é pesquisador do Instituto de Planejamento de Transportes e Logística de Hamburgo, na Alemanha.
Na década de 60, em torno de 100 milhões de pessoas eram transportadas por trem regionais, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). O presidente da entidade, Vicente Abate, explica que houve uma priorização, na década de 50, pelo transporte automotivo para desenvolver indústrias: "Precisávamos disso no pós-guerra. E o custo do petróleo era baixo".
Na foto abaixo, o que restou dos carros do Trem do Sertão, que passou por muitos anos em Corinto, ligando Belo Horizonte a Monte Azul, e que nos últimos anos fazia apenas o percurso Montes Claros-Monte Azul, até ser extinto, em 1996.