O que acontecerá com Augusto Pinochet?
Será declarado inocente
Será preso
Será declarado incapaz
Morrerá antes de ser julgado

Viviana Díaz:
NÃO SOMOS POUCOS

A presidente da Associação de Familiares de Detidos Desaparecidos conta à Terra sua opinião sobre os últimos acontecimenentos políticos do país. Assegura que não descansará até saber a verdade.

Se os corpos dos detidos desaparecidos forem encontrados, o que a Associação de Familiares de Detidos Desaparecido vai fazer?
Quem dera pudessemos encontrar os restos das 1.197 pessoas detidas desaparecidas. Esse tem sido para nós a razão de ser da organização. Porque para nós é importante encontrá-las, mas também fazer justiça. É importante saber quem foram as pessoas capazes de detê-las, torturá-las e fazê-los desaparecer.

Ou seja se os restos forem encontrados vocês não irão se conformar com uma lei de ponto final?
Não, porque nós não temos somente procurado por nossos desaparecidos para dar-lhes sepultura digna, mas também para fazer justiça através dos tribunais que existem. Os mesmos que no passado foram tão adversos a nós e que foram muito responsáveis pelo que se passou com nossos familiares.

Se estão buscando soluções por quê a Associação decidiu ficar de fora da mesa de diálogo?
Porque dissemos ao ex-presidente Eduardo Frei que não deveria-se buscar caminhos alternativos aos tribunais de justiça. Nós sabemos quem são os responsáveis pelo que ocorreu depois do golpe militar e que essas pessoas devem entregar a informação aos tribunais e não buscar um caminho alternativo, como a Mesa de Diálogo, para que lhes seja garantida a impunidade.

O que a incomoda então, é a impunidade dos militares?
Acreditamos que crimes tão atrozes não podem ficar sem castigo. Não por um desejo de vingança, mas para que isto nunca mais ocorra em nosso país. Para nós não há casos emblemáticos. Todos os detidos desaparecidos são iguais para a associação.

Augusto Pinochet Hiriart (filho do ex-ditador) disse, em uma entrevista a Terra, que os familiares de detidos desaparecidos são "uma pequena parte", considerando os 15 milhões de chielenos. O que você acha desta afirmação?
Não podemos ver o sofrimento sob a ótica das cifras porque quando está em jogo a vida de seres humanos, são todos importantes porque atrás de cada desaparecido há uma família. Para nós 1.197 são muitos.

Você aceita a versão de que no golpe de estado de 73 também morreram muitos militares e carabineros?
Temos que lembrar que em nosso país houve um golpe militar contra um povo indefenso. Se pegarmos os casos de cada um dos presos desaparecidos veremos que foram detido em seus lugares de trabalho, na rua, em suas casas e nenhum portava armas, nenhum reagiu. Nos casos de detidos desaparecidos está provado que foram capturados desarmados.

Mas você reconhece que também morreram militares e carabineros?
Eu diria que no dia 11 de setembro (dia do golpe militar) podem ter havido baixas militares, mas foram apenas nos primeiros dois ou três dias, nos quais as pessoas não sabiam como defender-se. Há alguns casos, mas não foi o mesmo que aconteceu depois contra chilenos que foram presos, torturados e assassinados por pensar diferente.

As Forças Armadas insistem que o que aconteceu foi uma guerra civil e que a esquerda era financiada por recursos vindos do exterior para promover o terrorismo. Qual sua opinião sobre esta afirmação? Seu pai, que era subsecretário geral do Partido Comunista, recebeu ajuda do exterior?
Não. Se deturpa a história ao dizer que houve uma guerra civil. Isso poderia ter acontecido se o povo tivesse armas para defender-se. O que houve foi uma guerra unilateral das poderosas Forças Armadas. contra chilenos indefensos. Meu pai jamais andou armado, nunca usou uma arma. Por isso que o defendo e o procuro. Por isso quero justiça para todos os presos políticos desaparecidos, porque eles não cometeram nenhum crime. Pensar diferente no Chile não é um crime, mas para o Exército eles foram.

Acredita que, na atual situação do Chile, o senador Pinochet perderá sua imunidade?
A corte Suprema, que hoje pode faze isto, teria que tirar sua imunidade e ratificar a decisão da Corte de Apelação. Os antecedentes que estão aí falam por si só.

Se pudesse estar cara a cara com Augusto Pinochet o que lhe diria?
Lhe diria que assumisse sua responsabilidade institucional pelo que fez, que ele deu a ordem para que se cometesse estes crimes e que libere as consiências de todos aqueles que foram seus subordinados, para que se decidam a entregar aos tribunaies de justiça a informação que tenham sobre cada um de nossos familiares.

Acredita que a esquerda ou a oposição do governo de Pinochet deveria pedir perdão também?
O problema não se resolve com um pedido de perdão. Este é individual. Para nós nada do que ocorreu antes do golpe justifica o que aconteceu depois.

Como você viveu o dia 11 de setembro de 1973?
Foi o dia que mudou a vida da minha família porque desde este instante meu pai teve que abandonar nossa cassa para não voltar mais. Ele viveu 32 meses na clandestinidade até o dia em que foi detido em uma operação que mobilizou 25 agentes da Dina (polícia secreta subordinada diretamente a Pinochet). Desde este momento a minha vida se centrou em procurá-lo, porque eu cheguei à Vicaría de la Solidaridad com o desejo de poder encontrá-lo, jamais imaginei que ele desapareceria. Eu e minha família acreditávamos que ele seria submetido a um julgamento justo, se é que as FF.AA pensavam que ele tinha cometido algum delito. Pensamos que ele iría para a prisão. Nunca imaginamos que fosse desaparecer como centenas de chilenos.

Teve alguma pista do destino de seu pai?
Muitas. Esteve em Villa Grimaldi até outubro, um centro de tortura. Muitos prisioneros contam que o viram, torturado, incomunicável, amarrado, trancado em celas.

Acredita que ele está morto?
Depois de conhecer todas as torturas senti que eram capazes de cometer...

Você passou quase 30 anos lutando por esta causa. Se sente frustrada?
Não. Passei 24 anos buscando meu pai. Mas nestes anos tive a oportunidade de conhecer cada um dos detidos desaparecidos e acredito que quando uma luta pelas defesa da vida, para que isto não se repita, nunca será em vão. Para nós é importante que tenhamos contribuido para que nos primeiros anos da ditadura militar não houvessem mais desaparecidos e é importante que Augusto Pinochet tenha sido detido em Londres e que a comunidade internacional nos tenha dado razão. Antes de Londres as coisas eram muito difíciles para nós. Temos denunciado tudo isto fazem muitos anos, 25 ou 26 anos pelos menos.

Acredita que poderia acontecer um novo golpe militar no Chile?
Acredito qua as condições atuais do nosso país são absolutamente distintas das dos dias que antecederam o golpe de 73, mesmo assim, no futuro as Forças Armadas, para impedir que Augusto Pinochet tenha a sua imunidade cassada, podem fazê-lo porque eles nunca quiseram assumir institucionalmente o que aconteceu com nossos familiares. Alegam que isto seria obra de agentes de organizações do estado...nós acreditamos que o que houve foi terrorismo de estado, que se usou a infraestrutura do estado, o aparato que reprimiu os chilenos foi implementado com os recursos de todos os chilenos.

Sua associação é manipulada pelo Partido Comunista?
As pessoas são enganadas, tenta-se confundir a opinião pública dizendo que nós somos manipulados pelo Partido Comunista. A Associação é uma reunião de familiares de presos desaparecidos, na qual a opção política pessoal nesta etapa de transição não interfere no que fazemos como organização. Nós nos reunimos e em conjunto programamos o que faremos e como vamos solucionar nossos problemas.

Existem membros da associação que tem identificação com a direita?
A grande maioria dos detidos desaparecidos eram de esquerda. Na associação não há gente de direita. Mas existem presos desaparecidos que foram membros de partidos de direita.

Quando Pinochet estava preso em Londres, quem financiava as viagens de membros de sua associação para a Europa?
Estas viagens sempre foram feitas como respostas a convites, principalmente, de organizações internacionais e de chilenos que vivem no exterior. As organizações femeninas pagaram algumas passagens e a Casa la Morada contribuiu para financiar várias viagens.





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