Pensamento humano é muito complexo para máquinas
Segunda, 10 de setembro de 2001, 12h47
"Gatinho Chesshire, começou Alice, Podes-me dizer que caminho tomar? Isso depende de aonde queres chegar, disse o gato." Trecho do livro Alice no país das maravilhas, encontrado no site www.citi.pt sobre Inteligência Artificial (IA). No site https://alicebot.org/, em uma "conversa" com um computador chamado A.L.I.C.E.(Artificial Linguistic Internet Computer Entity), que se define como "uma entidade feminina", a resposta para a pergunta acima é um pouco mais pretensiosa: "Claro! Onde você quer ir, para que eu lhe mostre o caminho?". O gato da fábula é um pouco mais sensato do que A.L.I.C.E., e talvez ainda leve um bom tempo até que "ela" se dê conta da complexidade de símbolos e valores que envolvem uma tomada de decisão para um ser humano. A.L.I.C.E. é uma das aplicações de uma das áreas mais fascinantes da computação, tanto para profissionais da área como para leigos: a I.A. (Inteligência Artificial). Há outras máquinas interativas na Internet, como a brasileira SeteZoom (www.setezoom.com.br), que tem até "corpo" e já posou para o site The Girl (www.thegirl.com.br) de fotos sensuais. Um outro exemplo é ChatBot, o robô que dá as boas vindas no site do filme Artificial Intelligence (https://aimovie.warnerbros.com/) de Steven Spielberg, em cartaz em todo o Brasil. O mito das máquinas "inteligentes", com capacidade de discernimento e interação com seres humanos, já rendeu muitas bilheterias no cinema, e até hoje assusta muitos incautos, como é o caso do robô programado para amar do filme de Spielberg, e que faz disso uma obsessão. Mas a realidade parece ser um pouco menos assustadora. "Esses chats com máquinas 'inteligentes' são mais brincadeiras com o tema do que propriamente aplicações de I.A.", afirma Tarcísio Pequeno, diretor do LIA - Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade Federal do Ceará. Tarcísio afirma que a I.A. hoje já chegou bem mais longe do que a simples capacidade de deduções lógicas do computador, mas a grande limitação, segundo ele, "é que as atividades humanas são muito complexas. Ver um objeto e reconhecê-lo, para uma máquina, é muito difícil. É verdade que o ser humano tem modelos finitos. Mas seja como for, ainda estamos muito longe". O principal objetivo das aplicações de Inteligência Artificial, afirma o diretor do LIA, é colocar um certo grau de inteligência em algumas aplicações simples. Como exemplo, ele cita um sistema de navegação na Internet que consiga traçar um perfil de preferências para o usuário, ou sistemas de busca inteligentes, que separem o que é ou não pertinente, e tragam somente endereços que possam ser úteis. Um outro exemplo de aplicação de I.A. é o citado pelo professor João José Furtado, da Unifor. Ele é orientador de um projeto de mestrado na área, que se propõe a desenvolver um sistema de busca de relações implícitas entre dados aparentemente desconexos. Parece um pouco complicado, mas um objetivo específico do projeto pode ajudar a entender como o sistema funciona. Segundo o orientando do professor João José, Ricardo Rebouças, uma das aplicações possíveis para o sistema resultante do projeto seria fazer um rastreamento entre os contribuintes da Secretaria da Fazenda do Estado - Sefaz, para descobrir incompatibilidades entre rendas declaradas e movimentação financeira, auxiliando o trabalho dos fiscais.
O Povo
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