Buenos Aires - Os principais jornais argentinos misturaram doses iguais de ufanismo e bom humor para contar a história da derrota brasileira por 2 a 1 no estádio Monumental de Nuñez.
Enquanto os jornais de maior circulação como o El Clarín e o La Nación seguiam o clássico caminho patriótico de manchetes como ``Grande Argentina, deu tudo e deixou o Brasil ferido'' (Clarín) e ``Um só coração, apoiado no amor próprio, a seleção argentina virou um resultado adverso'' (La Nación), o diário esportivo Olé não teve tanta piedade dos brasileiros e apelou para o discurso torcedor.
``São tão filhos nossos que demos um gol de presente e nem assim...'', provocou o jornal.
O Olé recebeu um incentivo extra para atacar os brasileiros com seu humor ferino. Logo após o gol brasileiro, no início do jogo, vários torcedores do Brasil mandaram e-mails provocando a redação do jornal e cantando vitória antecipadamente.
A reação do dia seguinte foi uma resposta à altura da gozação entre torcedores. Na primeira página, o Olé colocou a reprodução da bandeira argentina, onde o sol aparece rindo sobre a legenda: ``Cumprimentamos o Brasil por ter tentado''.
E mais, o pôster central da edição de quinta-feira do Olé traz a foto do gol contra de Cris com um ``muito obrigado'' em letras garrafais.
O colunista Marcelo Guerrero foi logo com o dedo na ferida: ''Brasileiros, vocês são muito alegres, não mudem esse caráter se tiverem que assistir ao Mundial pela TV'', diz ele.
Na noite do jogo, comentaristas da televisão argentina e torcedores no estádio foram bem mais agressivos com o momento vivido pela seleção brasileira.
Uma faixa colocada perto da arquibancada onde costuma ficar a torcida do Boca Juniors dizia ``Brasil, sorte em Alemanha 2006''.
A poucos metros dali, outra faixa, essa escrita em português, levantava suspeitas sobre o atacante da Inter de Milão Ronaldinho. ``Ronaldo, você não existe''.
A situação das faixas no estádio estava tão desfavorável aos brasileiros que a torcida verde e amarela foi obrigada a apelar ao tênis, colocando a inscrição ``Guga'' em uma das muradas do estádio.
O tradicional racismo esportivo argentino não faltou na festa patriótica do Monumental de Nuñez. ``Vai começar o baile. Hoje vamos jantar os negros do Brasil'' foi a música que os argentinos cantaram nos primeiros e nos últimos momentos do jogo.
Os jornais mais confiáveis como o El Clarín e o La Nación reconheceram que a Argentina teve um primeiro tempo ruim, porém usou essa constatação para valorizar ainda mais a virada do time local.