Rio - Entre uma baforada e outra em seu charuto cubano, Eurico Miranda resolveu finalmente quebrar o silêncio. E, como de hábito, não deixou pedra sobre pedra. Disse que a Rede Globo e a Vasco da Gama Licenciamentos (VGL) estão unidas para asfixiar o Vasco, que não aceita estrear no Brasileiro enfrentando o Gama em Brasília, como manda a tabela, e que muitos deputados só o atacam para ficar mais conhecidos. O cartola disse ainda que Romário é o seu principal aliado.

Eurico foi ao ataque no momento em que ele pode perder o mandato de deputado.

Refeito da perda do Campeonato Estadual para o maior rival, o Flamengo, Eurico prometeu reabrir os portões de São Januário a partir de segunda-feira para que a imprensa possa acompanhar os treinamentos do time.

É muito ruim perder para o Flamengo?

Eurico Miranda: Da mesma forma que a melhor coisa do mundo é vencer o Flamengo, a pior coisa do mundo é perder para eles. Em qualquer esporte. Até em corrida de velocípede. Quando perco para o Flamengo, tenho de me recolher por três ou quatro dias, para não fazer bobagem como torcedor. Sou também um dirigente.

O senhor acha que a rivalidade exacerbada entre os dois clubes faz os vascaínos tremerem em finais?

EM: Não acredito nisso. Defendo o Estadual, essa rivalidade, por uma razão cultural. Não há nada melhor do que mexer com o jornaleiro ou o motorista de taxi flamenguista após uma vitória do Vasco. Não tem graça alguma encarnar em um torcedor do Grêmio ou do Internacional.

Como o maior rival do Vasco, o Flamengo é seu maior inimigo?

EM: Não. O meu maior inimigo hoje é a Rede Globo. Ela comanda o futebol brasileiro. A Globo fez um acordo com a VGL para asfixiar economicamente o Vasco. O senhor Marcelo Campos Pinto disse que o futebol não é mais feito para o proletariado. Por isso eles marcam jogos para as 22 horas. O torcedor que trabalha não pode ir. E o que não trabalha, também não, por motivos de segurança.

De que maneira a Rede Globo está asfixiando o Vasco?

EM: Ela e a VGL até agora não puseram um centavo sequer no Vasco. O clube rescindiu o contrato com a VGL por não receber o que lhe era de direito. Estou sobrevivendo há seis meses só com a receita do Vasco. Eles teriam de pagar ao Vasco dois milhões de dólares por mês. Faz sete meses que não recebo um centavo.

Por que o senhor acha que a Rede Globo o persegue?

EM: Porque dizem que sou mau. Mas a verdade é que tenho opiniões e as deixo extravasar. Sou polêmico. Quem tem opinião e sucesso incomoda terrivelmente. Sou de opinião e ação, tudo traduzido em sucesso. Os outros realizam seus projetos com concordância e adesão. Eu não. Sou independente.

O senhor se sente perseguido?

EM: Eles vivem me perseguindo. Mas não há problema. Nunca encontraram nada. Sei que mais coisas virão pela frente. Alugaram até uma casa em frente a do meu funcionário Lima (Aremithas José de Lima). Tentaram até molestar sua família. Ofereceram dinheiro para algumas pessoas falarem mal de mim.

O senhor mesmo afirmou que a Rede Globo comanda o futebol. Como mudar isso ou resistir?

EM: Vou brigando. Aos poucos modificamos alguma coisa. A final do Estadual seria, pela vontade da Rede Globo, no sábado. E a do Paulista, no domingo. Mas como era o Vasco o finalista, sabiam que eu não concordaria. Também não admito jogar uma partida contra o Flamengo em uma sexta-feira, como está previsto para este Campeonato Brasileiro. Jogar contra o Gama na estréia, só se for no Rio. O Vasco é o campeão brasileiro e tem que estrear em casa.

O senhor assiste a algum programa da Rede Globo? Permite que sua família assista?

EM: Só assisto ao Jornal Nacional e de vez em quando, se houver tempo.

Quando o senhor não pode ir ao estádio e o jogo só é transmitido pela Rede Globo, o que faz?

EM: Assisto, mas tiro o som. Quando escuto certas besteiras, me dá vontade de entrar pelo vídeo. Nos esportes amadores, eles vendem a transmissão, não pagam ao clube e se acham no direito de me esculhambar.

Por que o senhor proibiu o acesso da imprensa aos treinos do Vasco?

EM: Não tenho o direito de escolher quem eu quero que entre em São Januário. Por isso, em alguns períodos, como este de asfixia pelo qual o Vasco está passando, quanto menos contato com a imprensa, melhor. Vão ficar perguntando sobre salários atrasados e isso atrapalha.

Até quando pretende manter em vigor a lei da mordaça?

EM: A partir de segunda-feira a imprensa entrará em São Januário.

Essa forma de tratar a imprensa pode atrapalhar uma futura parceria?

EM: Não. Sempre que vierem me procurar para fazer uma parceria, terá de ser nos moldes do Vasco.

E como são os moldes do Vasco?

EM: Temos um perfil de independência total na administração do clube. Não aceitamos exigências. Damos apenas a oportunidade de exploração da marca.

E como está a negociação com a empresa mexicana Nova Media e a americana AIG?

EM: Vejo essa parceria com otimismo. Estou negociando com gente do ramo. Mas tudo que disseram até agora é mentira. Não falo sobre um negócio antes de ele ser concretizado.

Para o senhor, o maior inimigo é a Rede Globo. Quem é o maior aliado?

EM: O torcedor anônimo. E uma pessoa em especial, com quem tenho uma dívida de gratidão: Romário. Ele teve um comportamento excepcional, tanto nos períodos de vacas gordas quanto nos de vacas magras. Terá meu reconhecimento eternamente.

E quais são os planos para o futuro do Vasco?

EM: No futebol pretendo manter o elenco. O Vasco tem um dos melhores times do Brasil. O problema é que contribuí para que a torcida vascaína se tornasse muito exigente. Ela está acostumada a ganhar muitos títulos.

O empréstimo de Juninho Paulista termina no fim deste mês. O Vasco vai comprá-lo?

EM: Vou fazer de tudo para mantê-lo no Vasco. E acho que vou conseguir.

O Vasco tem um bom time, mas não tem um banco de reservas do mesmo nível do ano passado. Haverá contratações?

EM: Ate é verdade que perdemos alguns jogadores. Mas vamos ver com calma o que faremos.

O que realmente aconteceu no caso de Juninho Pernambucano?

EM: Juninho Pernambucano é um lobo em pele de cordeiro. Sempre disse isso. Há muito tempo ele já havia assinado contrato com o Rivaldo. Fizemos a proposta de renovação e fixamos o passe dele. Mas nunca recebi uma proposta dele. Porque ele já havia assinado e Rivaldo alugara o passe para o Lyon por cinco anos. Rivaldo, inclusive, já está pagando salário a ele. Está bancando financeiramente.

Os empréstimos de Edmundo e Felipe estão acabando. Eles voltarão para o Vasco?

EM: Acho difícil eles ficarem no Vasco. Principalmente pelas últimas declarações deles. A intenção é negociá-los. Mas tenho de receber uma proposta primeiro.

O senhor se sente traído por Edmundo?

EM: Edmundo deve saber se fiz ou não algo por ele.

E em relação aos outros esportes. Quais os planos?

EM: Vou manter o remo, por obrigação, pois é tradição no clube. E se o remo do Vasco acabar, acaba o do Brasil todo. A natação também continuará. Temos um ótimo parque aquático e não é para tomar banho de sol, banho livre. O basquete permanecerá devido ao retorno que tem dado em títulos. No atletismo, ficará só a base. Vou diminuir o pessoal de ponta. O futsal vai depender da performance. Talvez eu o mantenha apenas como forma de celeiro para o futebol de campo.

Mudando de assunto, vamos falar de calendário. Zico, em recente entrevista, disse que o senhor é quem elabora a tabela do Estadual de acordo com sua conveniência e que não entende como o Vasco ainda consegue perder nessa competição. O que o senhor acha dessa declaração?

EM: Gosto do Zico, mas ele se precipita. Se baseia em informações que são passadas a ele. Meu poder não é tão grande assim. Na final deste ano, Ubiraci Damásio estava indicado para o sorteio, mas, estranhamente, passou mal e quem acabou apitando foi Léo Feldman. Faço as tabelas por que ninguém sabe fazer. Se outro qualquer fizer, não passará da segunda rodada.

Com as CPIs da Câmara e do Senado na reta final, o senhor tem medo de ter o seu mandato cassado?

EM: Não. Já ouvi várias acusações a meu respeito mas não provaram nada até agora. Estou tranqüilo. Muitas outras denúncias virão. Já investigaram para saber se tenho filhos fora do casamento, se tenho concubina e até se sou homossexual.

O senhor acha que sentem inveja do seu poder?

EM: Muitos não entendem como tenho mais de cem mil votos. Me atacam por causa de inveja, sim. Ontem (quarta-feira), algumas crianças, com idades entre 12 e 13 anos, nos visitaram em Brasília. Todas quiseram tirar fotografia comigo e um autógrafo. Outros deputados apareceram para serem fotografados também. Sabe o que aconteceu? Perguntaram a eles quem eram. A única forma de eles aparecerem é me atacando.

Seus colegas em Brasília não ficam incomodados quando o senhor diz que é deputado do Vasco?

EM: Nunca enganei ninguém. Minha plataforma sempre foi o Vasco.

L! Sportpress