Brasília - Adversários na semifinal da Copa João Havelange, os principais dirigentes de Vasco e Cruzeiro - os deputados Eurico Miranda (PPB-RJ) e Zezé Perrella (PFL_MG) - mantêm um convívio apenas diplomático no Congresso Nacional. Há pontos comuns entre os dois: ambos foram votados graças a suas atuações como cartolas, obtiveram mais de 100 mil votos, defendem única e exclusivamente os interesses do futebol em Brasília e têm na Lei Pelé o inimigo comum. Mas há diferenças entre eles, apesar de integrarem a bancada federal da cartolagem.
Perrela cumpre seu primeiro mandato como deputado federal e foi eleito, em 98, com cerca de 185 mil votos. Eurico está no seu segundo mandato e se reelegeu com 106 mil votos. O vice-presidente do Vasco admite publicamente que seu único interesse no Congresso é o seu clube, para qual foi eleito presidente recentemente. “Sou deputado do Vasco", afirma sempre que pode. Mais contido e de um estilo menos histriônico, Perrella nunca declarou estar ali somente a serviço do Cruzeiro, mas quando pode sai em defesa de seu clube. O presidente do Cruzeiro disse, por exemplo, que não irá permitir a convocação de seu técnico, Luiz Felipe Scolari, para depor na CPI da Nike.
Os dois deputados atuam mais em bastidores. Quase nunca discursam no plenário da Câmara, seja em breves ou longos discursos. Na instalação da CPI da Nike, Perrella tentou eleger o deputado Jaime Martins (PFL), seu colega de Minas e conselheiro do Cruzeiro, presidente da comissão. Foi derrotado por uma manobra que levou Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ao cargo.
Eurico e Perrella parecem pouco afeitos às atividades próprias do Congresso. Além de não discursarem, apresentaram poucos projetos. O vascaíno propôs apenas quatro medidas, em seis anos de mandato. O cruzeirense, somente três. Todas versam sobre esportes. Em 96, Eurico chegou a requerer informações ao Ministério das Minas e Energia sobre detalhes do contrato entre a Petrobrás e o Flamengo, seu arqui-rival no futebol e também em outras modalidades. A estatal é patrocinadora do rubro-negro. Um dos projetos de Perrella é extinção de vários artigos da Lei Pelé, criticadas pelos dirigentes por extinguir a lei do passe e obrigar a transformação dos clubes em empresas.
A relação entre os dois já foi mais amistosa que hoje. No início dessa legislatura, em 99, Eurico e Perrella sentavam lado a lado nas sessões da Comissão de Educação e Desporto da Câmara. O mineiro chegou a suceder o o carioca na presidência da subcomissão de Esportes da comissão.
Na revisão da Lei Pelé, no início desse ano, começaram as divergências. Eurico foi contra a indicação de Perrella para a presidência e bateram boca. Novo embate entre os dois aconteceu na instalação da CPI da NIke. Perrella disse que recusou integrar a comissão por considerar “antiético" dirigente de clube participar das investigações. “Antiético é o clube dele ser comprado por estrangeiros", rebateu Eurico, numa alusão ao HMTF, um grupo multinacional parceiro do clube mineiro.