As montadoras começaram a reajustar os preços neste mês alegando tratar-se de repasse geral de custos, não apenas por causa do aumento salarial dado a seus funcionários. Na sexta-feira, a Volkswagen anunciou reajustes de 1,5% a 5% para as linhas Gol e Parati e hoje deve divulgar os índices dos demais modelos. A Fiat aumentou em 1,9% os preços do Palio Young e do Uno Smart, os mais baratos da marca, e a Ford aplicou o mesmo índice para o Fiesta de 3 portas. Na avaliação de Corrado Capellano, diretor da consultoria Roland Berger, o custo de produção em São Paulo é 2% a 3% maior do que em outros Estados e a diferença só não é maior porque ainda há vários problemas de logística nas regiões. "Esses índices representam muito dinheiro para quem tem de remunerar os acionistas."
Mão-de-obra
A mão-de-obra representa de 10% a 15% do custo de produção de um carro de médio porte, e de 15% a 20% para um modelo popular, de acordo com a consultoria. Um reajuste de 10% nos salários resulta num impacto médio de cerca de 1% no preço final dos automóveis, calcula Corrado Capellano.
Alguns analistas, entretanto, consideram exagerada a reação das montadoras. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, tem cálculos diferentes. Com base em dados de grandes fornecedores de autopeças, ele diz que a folha de pagamento representa de 6% a 8% dos custos das montadoras. Um reajuste de 0,5% no preço final do carro, segundo ele, cobriria o impacto do aumento de 10% nos salários dos trabalhadores diretos e indiretos.
Para Rogério Aun, da Arthur Andersen, as montadoras estão operando num mercado bastante competitivo, e cada centavo de aumento de custo pode significar corrosão nas margens de lucro. "É bom ressaltar que não é feio ter lucro, porque só assim as empresas conseguem gerar mais investimentos e crescer", diz. O que assusta as montadoras é o fato de o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) ter concordado com o aumento solicitado pelos metalúrgicos, sem levar em conta as alegações de que a produção em São Paulo vai crescer menos do que no resto do País, que deverá apresentar resultados 20% superiores aos de 1999.
Prejuízo
A Volkswagen do Brasil calcula que terá um custo extra de R$ 233,5 milhões por conta do reajuste de 10% concedido aos funcionários em novembro e dos prejuízos com a paralisação da produção por quatro dias. O valor supera o montante gasto neste ano na reestruturação da fábrica de São Bernardo do Campo, de R$ 200 milhões, e, segundo a montadora, pode comprometer os resultados positivos esperados para 2000.
A Fiat também concedeu reajuste de 10% para boa parte dos seus 11 mil funcionários que ganham até R$ 1.200. Apesar de estar situada em Betim (MG), onde o movimento sindical não é tão forte como no ABC, a empresa opera com preços próximos aos da concorrência.