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Maurício de Souza tenta salvar mercado de tirinhas de quadrinhos

Maurício por ele mesmo: apesar de líder no mercado, empresário quase abandonou o gênero. (Imagem: Reprodução)

Sexta, 06 de julho de 2001, 12h52

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A partir deste mês, os 250 jornais com circulação diária em todo país deverão ser bombardeados com um produto diferenciado dos estúdios de Maurício de Souza. Mais especificamente, as tiras em quadrinhos de Mônica e sua turma. Alguém pode perguntar: ora, mas Maurício não aparece em jornais há mais de 40 anos? Sim, mas nos últimos seis o empresário quase abandonou o gênero, quando sua produção caiu de 14 para 3 tiras. O número de jornais que publicavam seu material foi reduzido de 80 a 100 para pouco mais de 20. Nesse período, ele optou por priorizar outros produtos, como cinema, televisão e merchandising.

O retorno às tiras, no entanto, não é à toa. Maurício tem uma preocupação que não é só sua: o anunciado desaparecimento dos quadrinhos por causa da perda de leitores. Pela lógica do desenhista, as tiras de jornais, além de divertir jovens e adultos, atraem a atenção das crianças e estabelecem um vínculo para formação de futuros leitores de gibis e até livros. Suas revistinhas, apesar de liderarem o mercado, também foram atingidas pela crise. Não vendem mais como há dez anos, quando chegaram a 4 milhões de exemplares mensais — circulam atualmente com variação um pouco acima de 2 milhões.

Sua estratégia prevê a produção de tiras exclusivas para a imprensa diária e que tratam de temas mais próximos dos leitores de jornal. Se vai conseguir convencer os editores, Maurício acredita que sim. Ele quer revitalizar sua presença num mercado dominado há um século pelos syndicates americanos — agências distribuidoras de comics para jornais e revistas. O segredo do sucesso dessas empresas é simples: vender barato para lucrar no atacado, fato que aniquila os mercados locais.

Brasilidade

Esta prá brasileiros. Nesse período, um outro fenômeno curioso aconteceu: se até os anos de 1980 cerca de 80% das tiras de jornais vinham de fora, com a entrada da Fundação Nacional de Arte (Funarte) na distribuição de autores brasileiros, coordenada por Ziraldo, o percentual se inverteu. Em 1990, o presidente Collor fechou a Funarte, mas, graças à Pacatatu, os brasileiros ocupam ainda 50% do espaço. O Dia, do Rio, por exemplo, só publica tira nacional. Ao mesmo tempo, muitos jornais têm aberto espaço para autores locais, como Diário de Minas (Belo Horizonte) e A Tarde (Salvador). De acordo com cálculos da Intercontinental, menos da metade dos jornais diários publicam tiras de quadri- tica acabou por desestimular os jornais de comprar material nacional.

Com a crise que avassalou o mercado mundial de quadrinhos nas duas últimas décadas, muitos syndicates desapareceram e os maiores resistem com algum vigor em seu país de origem, muito mais por causa do licenciamento de personagens para cinema e TV. O Brasil, ainda um dos maiores consumidores do mundo de tiras made in USA, aparece como um bom exemplo da decadência dos syndicates. Além da falta de interesse do público pelos quadrinhos, as sucessivas crises econômicas têm levado os jornais a cortar gastos, principalmente na parte de entretenimento. A principal queixa dos distribuidores, nesse sentido, aparece na inadimplência que atinge o setor. Como conseqüência, nos últimos 15 anos as duas maiores distribuidoras de tiras americanas — as cariocas Record e Ica Press — deixaram de existir. A agência Keystone também parou de vender o produto no país.

Todos eles foram absorvidos pela agência de notícias Intercontinental Press, única a atuar no segmento com material estrangeiro. Sua concorrente é a Pacatatu, que distribui somente autores nhos e o espaço destinado ao gênero sofreu uma redução média de 75%. O Globo, do Rio, que ficou conhecido pelas duas páginas inteiras que publicavam 40 tiras por dia, limita-se agora a dez e somente uma delas (Urbano) é nacional. O Jornal do Brasil publica apenas três, todas estrangeiras. O mercado também absorveu outra mudança: quase 100% dos diários não publicam mais histórias seriadas porque concluíram que o leitor não tem paciência de acompanhar a série — lógica, aliás, que contraria quase um século de tradição, quando as tiras continuadas tinham a função de prender e garantir a fidelidade do leitor, no mesmo formato do folhetim. Tal medida tirou de circulação heróis clássicos como Flash Gordon, Príncipe Valente, Brucutu, Fantasma e Dick Tracy.

Calvin

A Intercontinental trabalha com um catálogo de mais de uma centena de personagens dos syndicates United Media, Editors Press Service e King Features — o maior do mundo e o mais antigo no ramo. Entre eles, bestsellers como Calvin, Garfield, Snoopy, Hagar e Recruta Zero. Nos bons tempos, Calvin chegou a sair em 50 jornais brasileiros todos os dias. No momento, circula em 20. Nos EUA, o mesmo personagem sai em 1.876 jornais. Lá, aceita-se mais as tiras pela situação econômica e pela disponibilidade de mercado, que permite colocar mais molho no jornal, avalia Renato Luis Pereira, diretor da Intercontinental. Sua clientela já chegou a mais de 200 jornais e está hoje em torno 80. Pereira explica que procura conhecer os clientes de todas as formas.

O preço cobrado, por exemplo, é diferenciado em cima da tiragem e da periodicidade de cada jornal ou revista. Pode-se comprar uma única tira, mas a agência oferece pacotes mais baratos acima de três. Um lote mensal de 24 tiras de quatro personagens pode custar de R$ 50 a R$ 900. Além da falta de dinheiro, Pereira acredita que a rotatividade cada vez mais freqüente de editores dificulta a venda de quadrinhos para jornais porque quebra o contato. Antes, havia uma preocupação do dono do jornal com o produto em conjunto. Hoje, isso acabou. Se a Intercontinental tem suas estrelas americanas, os leitores parecem ter adotado em definitivo um número razoável de artistas nacionais. A Pacatatu distribui 20 deles. Os destaques são Angeli (Chiclete com Banana) e Laerte (Piratas do Tietê), cada um deles presente em 20 jornais; e Fernando Gonsales (Níquel Náusea), 10.

Ana Lúcia Pinta, diretora da agência, afirma que seu principal desafio tem sido oferecer um preço competitivo com o material estrangeiro. Não conseguiu ainda. Ela não revela a diferença de valores, mas informa que cada jornal pode render de R$ 300 a R$ 400 para o autor, sem contar a comissão da agência. O lucro para o desenhista, observa, só se torna viável a partir de cinco jornais. Mesmo com o preço mais elevado, a agência encontrou alguns bons argumentos para vender seus produtos. Ana Lúcia ressalta que, ao invés de abrir o jornal e deparar com uma tira na sobre Natal com neve, o público prefere algo mais próximo de sua realidade. "São raros os quadrinhos americanos que têm crítica social ou política, ao contrário de um artista como Nani, que faz charge política em forma de tira e agrada muito mais." Nesse mercado para poucos, um problema parece comum: o calote dos jornais.

Cobrança

A Intercontinental se protege a partir da cobrança bancária. Pereira garante que o segmento, nesse aspecto, melhorou muito porque há uma conscientização maior em relação ao respeito aos direitos autorais. Laerte, porém, tem queixas a fazer: "O mercado é muito instável, a cobrança é um pesadelo, ficamos quatro, cinco meses sem receber e contratar empresa de cobrança é inviável." Na sua opinião, seus quadrinhos são distribuídos num esquema bastante artesanal. "Nós, autores das chamadas tiras diferenciadas, fazemos quadrinhos de modo meio rock de garagem, sujeitos a falta de pagamento." Uma certeza desenhistas, produtores e distribuidores parecem ter: as tiras e os gibis não vão desaparecer. Muito menos terão apenas um público restrito a edições em livros e vendas em pontos especializados, como acreditam alguns empresários. Maurício de Souza aponta a falta de interesse dos conglomerados que produzem e licenciam quadrinhos como um dos responsáveis pela crise no setor.

"Disney, Marvel e Hanna-Barbera estão linkados a uma rede de negócios na qual os quadrinhos não são o mais importante. No nosso caso, mantemos nossa produção viva porque nossos personagens têm pais que cuidam deles." O empresário diz que se formar uma sociedade, no futuro, vai tentar manter a filosofia. "Recusei propostas nas quais senti possibilidade de alteração desse processo.” Helen Sakhr, diretora da Character Comércio e Serviços, concorda que os quadrinhos passam por uma crise sem precedentes. Sua empresa atua na área de quadrinhos, mas não distribui tiras. A Character representa a DC Comics, que detém os direitos de Batman e Superman. Helen Sakhr aponta como causas o excesso de editoras pequenas e a falta de investimentos em divulgação. "Em todo o mundo, os quadrinhos se tornaram um produto supérfluo. O Brasil viveria um momento mais grave por causa da economia e porque os contratos são em dólar."

Filão

A presença dos syndicates no Brasil se confunde com a própria história do jornalismo. E está ligada pessoalmente a grandes empresários da imprensa, como Roberto Marinho, Assis Chateuabriand, Victor Civita e Adolfo Aizen. Os quadrinhos modernos chegaram ao Brasil em 1934, quando Aizen lançou o tablóide Suplemento Juvenil. Ele chegou a propor sociedade a Marinho, que não apostou no êxito do negócio. Este se arrependeu e criou o O Globo Juvenil, em 1937. Começava, então, uma guerra entre os dois que culminou em 1939, quando Marinho se aproveitou da demora de Aizen para renovar seu contrato com o agente do King Features e tomou todos personagens de Aizen. Em 1942, Alfredo Machado e Décio de Abreu fundaram a Record, primeira distribuidora brasileira de comics e que nos anos de 1960 resultaria na Editora Record. Sérgio, filho de Machado, recorda que seu pai acabou se tornando um editor terceirizado, na medida em que tentou ajudar a criar um mercado. "Ele não mostrava o material para todo mundo porque queria o equilíbrio nas forças relativas."

De olho nesse filão, o empresário Luiz Rosemberg fundou em 1946 a Agência Periodista Latino- Americana (APLA), que passaria a se chamar Ica Press, em 1979. Apesar do nome, só atuava no Brasil e na Argentina. Com a morte de Rosemberg, em 1993, a agência foi desativada. Lourdes Belo Pereira, fundadora da Intercontinental, está há 37 anos no ramo e começou na APLA, em 1964. Ela guarda histórias curiosas de sua experiência como distribuidora. Uma delas, relacionada a Roberto Marinho. A empresária conta que o editor, mesmo após deixar suas funções no comando de O Globo, sempre fez questão de renovar pessoalmente todos os contratos de compra de tiras em quadrinhos.

Ao contrário dos outros jornais, que renovavam os contratos a cada um ou dois anos, os de Marinho sempre duraram 15 anos. "Ele publicava 40 personagens mas comprava 50. Eu perguntava por que fazia assim e ele respondia: 'Eu compro e meu concorrente não publica.' Eu dizia que ele tinha de publicar todos porque a agência internacional exigia isso. E ele: 'Tudo bem, a senhora me dá algum prazo e eu faço um revezamento dos personagens.'"

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