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Ang Lee impressiona com o épico sobre kung fu "O Tigre e o Dragão"



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Vinte minutos de projeção do filme O Tigre e o Dragão, o novo trabalho do cineasta chinês Ang Lee, e o público já está aplaudindo. Sob o céu enluarado de uma Pequim do século 19, duas guerreiras wudan se enfrentam como se estivessem dentro de um jogo de videogame Nintendo.

Por vários minutos são só as cabecinhas delas pulando de um lado para o outro numa noite azulada. E elas escalam muros de mais de 3 metros de altura, rodopiam em cima de telhados e voam como bruxas de contos de fadas. Mas sem vassouras ou qualquer outro truque aparente. A ordem é desafiar a lei da gravidade num espetáculo impressionante de kung fu e balé acrobático.

Sessões-teste com o público comum americano foram feitas e, passada a meia hora inicial, o estúdio Sony Classics, que lança o longa nos EUA na sexta-feira, pôde constatar algo surpreendente: a platéia ficou tão grudada na ação da história que se esqueceu que estava assistindo a um filme falado em mandarim e com legendas que brotam regularmente durante os 120 minutos de projeção, o maior empecilho para um filme estrangeiro alcançar as massas no quase impenetrável mercado americano de cinema.

Representando Taiwan na disputa do Oscar de filme estrangeiro, O Tigre e o Dragão, que será lançado em breve no Brasil - tem previsão de estréia para o dia 23 de fevereiro e é de longe o grande favorito. E os produtores sonham ainda mais alto: é possível que, assim como longa italiano A Vida É Bela, de Roberto Benigni, o trabalho de Lee consiga fazer um crossing over e ser indicado para a categoria principal do prêmio, o Oscar de melhor filme, ao lado de produções faladas em inglês.

Ang Lee deve conquistar o Oscar no dia 25 de março porque sua carreira atingiu o ápice e sua trajetória é imaculada: um diretor que surgiu fazendo filmes de arte, chegou a Hollywood e conseguiu manter o mesmo padrão, não descambando para os blockbusters como o holandês Paul Verhoeven ou filmes desinteressantes como os do grego Constantin Costa-Gavras. Ang Lee foi duas vezes indicado para o cobiçado prêmio da Academia com filmes falados em sua língua natal: O Banquete de Casamento, em 1993, e Comer Beber Viver, no ano seguinte.

No difícil rito de passagem de um filme estrangeiro para uma produção hollywoodiana, o chinês acertou outra vez. Em 95, ele rodava Razão e Sensibilidade, uma produção inglesa de época que abriu o apetite mundial para os livros de Jane Austen. O filme também revelou o talento de Kate Winslet, uma atriz com jeito de musa de Botticelli, e fez Emma Thompson ganhar um Oscar de roteiro.

O Tigre e o Dragão é um trabalho de carpintaria cinematográfica. Um primor de orquestração de roteiro, cenas delirantes de ação, música e interpretação. Mas que também fique claro, não se trata de uma obra-cabeça como os filmes de Zhang Yimou ou Chen Kaige. Lee sabe também ser bem kitsch.

E o público é lembrado disso ao deixar o cinema ao som da cantora Coco Lee, uma espécie de Céline Dion oriental.

Desafio - Foi essa mistura entre o singelo e o magistral, o kitsch e o ridículo que criou o maior desafio para o diretor.

"Na Ásia, onde meu filme foi lançado no último verão, demos um tratamento de blockbuster", explica o diretor em entrevista. "Como se trata de um épico de kung fu, tínhamos de apresentar uma fita de ação explosiva, em que elementos menos nobres também precisam ser explorados", prossegue. "Já nos EUA, ele está chegando com o status de filme de arte, devendo abrir em poucas salas de Nova York e Los Angeles, e depois expandindo para o mercado nacional."

O roteiro de O Tigre e o Dragão foi tirado do quarto tomo de uma novela de cinco capítulos escrita por Wang Du Lu. O trabalho vem da tradição do wuxia, um gênero literário muito popular na China desde os tempos de Confúcio e cujos protagonistas são guerreiros de espírito livre e que dominam todas as técnicas de artes marciais. É como se fosse uma resposta aos samurais japoneses. As histórias wuxias são repletas de melodrama e situações folhetinescas. Portanto, não demorou muito para que a Ópera de Pequim se apoderasse do gênero em suas produções. "Wuxia é a nossa pulp fiction", explica Ang Lee. "Leio livros do gênero desde que era pequeno, assim como séries de TV e filmes", continua. "Sempre pensei em fazer algo parecido, misturando o abstrato das situações e também o fato de que mulheres também protagonizam as tramas wuxias."

A atriz malasiana Michelle Yeoh (vista como parceira de James Bond em 007 - O amanhã Nunca morre) e o Tarcísio Meira de Hong Kong, o ator Chow Yun Fat são os protagonistas da história. O filme começa com o mestre de artes marciais Li Mu Bai (Yun-Fat) decidido a aposentar sua espada, conhecida como Destino Verde e esculpida há 400 anos, em troca de um existência meditativa.

Quem recebe o objeto é uma amiga do guerreira, Yu Shu Lien (Michele), outra exímia lutadora e com que Mu Bai teve um caso romântico no passado.

Yu Shu Lien está saindo para Pequim, onde visitará um amigo de seu pai. É a ele que Yu Shu deve entregar o objeto centenário. Na casa de Sir Te (Lung Sihung), ela encontra Jen (Zhang Ziyi), a bela filha de um dirigente local.

Prestes a se casar, Jen vive o dilema de abandonar um hobby secreto: o treinamento de giang hu (um tipo de artes marciais). Na noite que a veterana guerreira se encontra com a pupila, Destino Verde é roubada, dando início a explosiva seqüência aos 20 minutos de projeção.

Acredita-se que a espada tenha sido roubada a mando da guerreira-bruxa Jade Fox (Cheng Pei-Pei), a mulher que matou o mestre de Li Mu Bai e nunca foi confrontada por este. A segunda parte do filme, rodada no deserto de Gobi, é a tentativa do casal de guerreiros de trazer Jen de volta para casa, depois de ela ter fugido para viver com um guerreiro peregrino.

A atriz Cheng Pei-Pei é uma instituição no cinema de Hong Kong e Taiwan, algo como a nossa Fernanda Montenegro. "Foi uma emoção muito grande o fato de ela ter aceitado fazer O Tigre e o Dragão e, principalmente, de ela estar fazendo seu primeiro papel de má no cinema", explica Ang Lee. Mas de se prestar mesmo a atenção é a jovem Zhang Ziyi, de 20 anos, que pode ser vista a partir desta sexta no novo filme de Zhang Yimou, O Caminho para Casa, que estréia no circuito paulistano. Na verdade, foi o próprio Yimou quem ligou para Ang Lee e pediu para que ele testasse essa jovem que vem sendo chamada de a nova Gong Li. O crítico da revista Time, por exemplo, sugere que os executivos de Hollywood a contratem logo.

Paciência - O maior desafio, entretanto, foi de Michelle Yeoh, a estrela do filme e que pode tornar-se a segunda atriz oriental a ser indicada para o Oscar (em 1957, a japonesa Miyoshi Umeki conquistou o prêmio de coadjuvante por sua participação em Sayonara, ao lado de Marlon Brando).

A atriz malasiana mistura golpes de kung fu com uma sensível interpretação, que não foi lá muito fácil. "Não sei o mandarim", revela a atriz em entrevista ao Estado. "Tive de fazer a maior decoreba com o texto e, muitas vezes, nem tinha idéia a respeito do que estava falando", prossegue. "Ang Lee é um dos cineastas mais pacientes com quem já trabalhei."

Os problemas de Michelle não foram só com o idioma. Na primeira semana de filmagens, depois de uma cena de ação, ela distendeu o músculo do pé. Em Nova York em consulta a um especialista, a atriz escutou o pior. "A primeira opção é cirurgia. A segunda? Cirurgia", relembra. "Eles até levantaram a hipótese muito remota de eu fazer terapia intensiva dessas iguais a de jogadores de futebol, mas poderia demorar meses", continua. "E eu estava me preparando há um ano e meio para estrelar esse filme", diz Michelle, que fez a cirurgia e voltou ao set para suas cenas de ação, rodadas um mês depois.

As cenas de ação são um capítulo à parte no filme. Um aperitivo já foi oferecido ao público em Matrix, com Keanu Reeves, e em As Panteras, com Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu. O coreógrafo dos três filmes é o mestre chinês Yuen Wo-Ping. Os atores são amarrados com pesados cabos e levantados no ar por um guindaste, às vezes a alturas até de 18 metros.

Ajudados por uma equipe de 20 técnicos, eles fazem seus movimentos e até lutam em pleno ar. Mais tarde, os cabos são apagados do filme via ajuda de computadores, técnica que rendeu um Oscar a Matrix.

"Em meus primeiros filmes de kung fu, a gente usava cabos minúsculos e leves", explica Michelle, que podia ver constantemente um erro de continuidade ou um fio preto saindo de suas costas. "Agora estamos lidando com cabos espessos, com o mesmo peso de nosso corpo. Uma ricocheteada de um cabo desses no ar e vários hematomas no seu corpo são esperados."

O coreógrafo Wo-Ping também dirigiu alguns filmes, como o clássico Tai-Chi (já lançado em vídeo no Brasil, assim como sua continuação), com Michelle e Jet Li (o ator era idéia original de Lee para o elenco de O Tigre e o Dragão, mas, por estar filmando uma produção de Hollywood, ele foi substituído por Yun Fat). É também de Wo-Ping o melhor filme de artes marciais estrelado por Jackie Chan, Drunken Master. Para completar a excelente equipe técnica de O Tigre e o Dragão, está o compositor clássico Tan Dun, que compôs a trilha do filme, com participação especial do celo de Yo-Yo Ma. (O Estado de S. Paulo)

 

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O TIGRE E O DRAGÃO

Título Original: Wo Hu Zang Long
País de Origem:
China/ Hong Kong/ Taiwan/ EUA
Ano: 2000
Duração: 120 minutos
Diretor: Ang Lee
Elenco: Yun-Fat Chow, Michelle Yeoh, Ziyi Zhang, Chen Chang, Sihung Lung, Pei-pei Cheng










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