Em meio ao barulho feito pelo governo e pela imprensa em torno da comemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, no dia 22 de abril, distoa a voz de protesto de quem já estava aqui antes dos colonizadores portugueses chegarem: os índios, que se consideram excluídos da festa. "A comunidade indígena não tem motivo para comemorar nada: não temos saúde, não temos terras demarcadas e não temos respeito", disse à Reuters Neusa Matos de Oliveira Indígena Arari, 37, líder das mulheres indígenas do sul da Bahia, em entrevista concedida pelo telefone celular.
Segundo Arari, para a comunidade indígena local, os Pataxós, a comemoração oficial é ``inválida''.
No dia 22 de abril, o Governo Federal transferirá sua sede para Porto Seguro, na Bahia, nomeando-a "Capital do Descobrimento".
Enquanto a cidade se prepara para a festa que deve atrair a imprensa e autoridades - entre as quais os presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Jorge Sampaio, de Portugal- os índios organizam seu protesto pacífico.
Comunidades indígenas inteiras saíram de diversos pontos do Brasil no dia 28 de março em uma marcha de protesto pela "violência, expropriação de terras e extermínio de índios ocorridos nesses 500 anos".
A marcha chega a Brasília na quinta-feira, passa pelo Monte Pascoal, o primeiro ponto do território brasileiro avistado pela esquadra de Pedro Álvares Cabral, no dia 16 de abril, e chega no dia 18 no território indígena de Coroa Vermelha, na cidade de Santa Cruz Cabrália, onde cerca de 2.000 índios devem se reunir para uma conferência.
Após a conferência, está programado um ato público em Porto Seguro e em Coroa Vermelha.
"A manifestação será pacífica, faremos uma passeata exigindo a demarcação de terras", disse Ariri.
Os índios alegam sentir-se "xcluídos" da cerimônia, que vêem como um evento para autoridades e imprensa, reclamação feita também por moradores de Porto Seguro.
As tensões aumentaram depois do dia 4 de abril, quando 200 policiais militares destruíram um monumento erguido pelos índios no território de Coroa Vermelha em memória dos povos extintos, às lideranças massacradas e às lideranças atuais.
O monumento, um mapa da América do Sul preenchido por objetos artesanais e figuras representativas aos índios, havia sido erguido ao lado da cruz de metal instalada pelo governo no local onde antes estava uma cruz de madeira para marcar o ponto da celebração da primeira missa no Brasil, em 26 de abril de 1.500.
"Estamos muito tristes com o que aconteceu. O movimento vai ser construído novamente por um índio, em outro local, mas não é a mesma coisa", disse Ariri. "Estamos ofendidos porque fomos chamados ontem para fazer um acordo (sobre a construção) do monumento e nos ofereceram uma indenização de R$5 mil."