PUBLICIDADE

Tradição das máscaras venezianas luta para sobreviver

Loja abriu unidade na China para enfrentar concorrência

14 fev 2019 - 14h14
(atualizado às 15h08)
Compartilhar
Exibir comentários

Veneza é repleta de lojas de máscaras. É praticamente impossível caminhar mais do que 500 metros nas "calli" de seu centro histórico sem encontrar um único lugar que venda os disfarces que mais simbolizam seu carnaval mundialmente famoso. E em meio à concorrência de uma enxurrada de produtos feitos em países como Albânia ou China, lojas tradicionais lutam para sobreviver nos novos tempos.

Atelier Marega produz máscaras artesanais desde 1981
Atelier Marega produz máscaras artesanais desde 1981
Foto: Reprodução/Facebook / Ansa

Um delas, a Atelier Marega, fundada em 1981, encontrou até uma saída inusitada: levar suas máscaras e fantasias venezianas diretamente para o gigante asiático, com uma loja que busca fidelizar o crescente número de turistas chineses já na origem.

O ateliê foi fundado por Carlo Marega, um filho de Murano que iniciara a vida profissional seguindo a tradição de vidraceiros deste pequeno arquipélago veneziano, mas que aos poucos passou a se dedicar à carreira de "mascheraio".

Antigamente, o Atelier Marega mantinha quatro lojas em Veneza, agora restou apenas uma, no distrito de San Polo, resultado dos novos tempos. "Os artesãos são verdadeiramente poucos, dá para contar nos dedos das mãos. Enquanto uma máscara simples, para nós, tem um custo de 24 euros, uma similar à nossa é vendida por 10, 12 euros", diz à ANSA Chandra Marega, filha de Carlo, fazendo referência às máscaras produzidas em países com custo de mão de obra muito menor e com materiais de qualidade inferior.

"O turista que vem a Veneza, se é um turista 'morde e foge' [aqueles que só passam o dia na cidade], tende a comprar uma coisa que custa menos ao invés de uma feita artesanalmente em Veneza", acrescenta. Chandra trabalha com seu pai no ateliê, que se mantém como uma empresa familiar.

No dia da entrevista, no início de fevereiro, Carlo estava na China, que ganhou uma unidade do Atelier Marega na cidade de Changsha, com produtos feitos em Veneza. O projeto nasceu em 2016, por iniciativa da empresa chinesa de entretenimento Huayi Brothers (HB), que criou uma espécie de parque temático que reproduz um vilarejo italiano inspirado nas arquiteturas de Veneza, La Spezia e Assis.

O local abriga restaurantes, reproduções de edifícios históricos e lojas de artesãos italianos, incluindo o Atelier Marega. "É um projeto em colaboração com as regiões de Marcas e Úmbria e com o governo, com o objetivo de levar a beleza do 'made in Italy' à China. Chamaram artesãos de vários setores e deram a eles uma loja", conta Chandra.

Segundo ela, o ateliê criou máscaras e fantasias específicas para o público chinês. "Italianos, europeus e até brasileiros têm padrões físicos muito diferentes, um brasileiro não tem o biotipo de um chinês, então criamos fantasias próprias para esse público", explica.

Sobrevivência

Mas essa não é a única estratégia da loja dos Marega para sobreviver. O ateliê aposta tanto na modernidade quanto na tradição para seguir em frente. Além de investir nas redes sociais, a loja tem hoje em seu site sua principal plataforma de vendas.

As máscaras mais baratas saem por menos de 30 euros (R$ 127, pela cotação atual), porém as mais caras chegam a 180 euros (R$ 765). "A internet é muito importante para sobreviver, hoje vendemos mais na internet do que na loja", diz Chandra.

O ateliê também criou demonstrações de 45 a 50 minutos, nas quais seus mestres contam a história da máscara veneziana, do carnaval da cidade e da empresa e explicam as técnicas por trás da confecção das fantasias.

"Com isso, os turistas passam a ter uma mentalidade diferente, porque quem vem a Veneza quer entender a beleza do artesanato de nossa cidade. Eles veem como se faz as coisas, ficam contentes e percebem a diferença entre a nossa máscara e uma de cinco euros", afirma Chandra.

As máscaras venezianas surgiram no século 12 e foram bastante populares até o 18, quando eram usadas não apenas no Carnaval, mas de outubro a junho do ano seguinte, com exceção dos períodos do Advento e da Quaresma.

Os disfarces eram símbolo de liberdade e transgressão e serviam para diversão e para o rompimento de diferenças sociais, além de aumentar a sensação de liberdade e mistério.

A tradição foi interrompida com a queda da República de Veneza, a "Sereníssima", no fim do século 18, por temor de desordens e rebeliões por parte da população. As máscaras só retornaram plenamente em 1979, como principal tradição do Carnaval de Veneza. Em 2019, as celebrações vão de 16 de fevereiro a 5 de março. 

Veja também:

Galinha doméstica curte passeio de stand up paddle:
Ansa - Brasil   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade