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Lago do Céu, a última fronteira não militar da Coreia do Norte

2 fev 2017 - 06h01
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O Lago do Céu, situado na cratera do Monte Changbai, é o único ponto em que qualquer pessoa pode pisar livremente no solo norte-coreano sem medo das minas terrestres e patrulhas de fronteira.

Uma sinalização de pedra indica aos visitantes a separação entre China e Coreia do Norte, mas não há nenhum tipo de vigilância militar na região. Os mais atrevidos podem colocar o pé no país mais fechado do mundo.

O peculiar local de fronteira está situado na parte sul do Lago do Céu - Tianchi, em chinês -, o ponto mais importante de um parque natural pertencente à província de Jilin (no nordeste da China) que, apesar das temperaturas de 30 graus abaixo de zero em janeiro, se consolidou como atração turística.

Embora a maior parte dos visitantes frequente o local na primavera e no verão, os meses de inverno também registram grande atividade.

Os turistas precisam esperar longas filas para conseguir assento em um dos carros que os levam até o cume do Changbai por uma estreita estrada na qual a nevasca não deixa ver muito além do capô. A montanha, cujo nome em chinês significa "sempre branca", chega a 2.603 metros sobre o nível do mar.

O nome em coreano é Paektu ("cabeça branca") e, segundo a propaganda da Coreia do Norte, é o lugar de nascimento de Kim Il-Sung, o fundador do país e da ideologia Juche ("autossuficiência"), a versão norte-coreana do comunismo.

De fato, este vulcão é considerado nas culturas coreana e manchu - a minoria étnica mais populosa da China - como o lugar de origem de seus povos.

As congelantes rajadas de vento aterrorizam os turistas que se aglomeram na margem ocidental do lago de cratera, que aproveitam os poucos minutos que as baixíssimas temperaturas permitem estar no exterior para tirar o maior número possível de fotos.

"Nunca senti tanto frio em minha vida", exclamou Wang, um dos muitos turistas locais que tiraram selfies e voltaram o mais rápido possível à agradável temperatura do centro de visitantes, que também é usado como refúgio.

Não é difícil encontrar um rastro da influência da cultura coreana nesta região do nordeste da China. Basta olhar os cartazes nas estradas, restaurantes e lojas para perceber como praticamente tudo está escrito em mandarim e hangul, o alfabeto oficial nas duas Coreias.

A beleza do lago congelado se une ao mistério da margem em frente. "Eu me pergunto o que há no outro lado", disse outro dos turistas, chamado Chen.

Apesar de os chineses terem mais facilidade para entrar na Coreia do Norte, a maioria das viagens organizadas provavelmente não passarão por Samjiyon, situada ao pé da montanha na parte norte-coreana.

No lado chinês da fronteira, o distrito de Erdao desfruta de grande atividade graças à proximidade ao parque natural. O turismo ativou a economia local e não é difícil encontrar restaurantes e hotéis, até mesmo alguns de cinco estrelas, que aproveitaram as águas termais do Monte Changbai para construir balneários.

Ao contrário da maioria dos rios da região, que permanecem totalmente congelados nos meses de inverno, as águas quentes do vulcão adormecido abrem passagem entre a grossa camada de neve e fluem a temperaturas de até 80 graus, chegando a alcançar uma diferença de mais de cem graus com o frio externo.

Alguns vendedores cozinham espigas de milho e ovos na água dos riachos, enquanto outros preferem tirar fotos do Tianchi ou levar uma lembrança mais exótica, como uma coleção de diferentes cédulas norte-coreanas que custam 30 iuanes (R$ 13).

Seja pela proximidade com o país mais misterioso do mundo ou pela beleza natural, a certeza é que a longa viagem - oito horas de ônibus a partir de Changchun, a capital regional - e o frio extremo são compensados pela breve, mas intensa visita ao Monte Changbai, a última fronteira pacífica da Coreia do Norte.

EFE   
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