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Startups conectam pequenas empresas a serviços médicos

Plataformas dão acesso a consultas e exames com preços mais baixos; modelo, porém, não dá mesma cobertura que plano de saúde

9 ago 2018 - 03h11
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Donos de uma agência de publicidade no Rio, Gabriel Medeiros e Alexandre Stefani decidiram neste ano oferecer um plano de saúde para os 11 funcionários. O problema era o custo. Em busca de um plano B, eles recorreram a uma startup, que dá acesso a consultas e exames com preços mais baratos. Diante do valor elevado dos convênios médicos tradicionais, plataformas que conectam pequenas e médias empresas a serviços médicos têm ganhado força.

Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar(ANS) mostram que, nos últimos quatro anos, a crise econômica fez com que em torno de 3 milhões de pessoas no País tivessem de abrir mão do plano de saúde. Só um em cada quatro brasileiros (24%) têm convênio. E a maior parte desse público - cerca de 80% - depende de planos coletivos, como os empresariais.

"Sabemos que, se o funcionário ou alguém da família dele tem um problema de saúde, isso se reflete aqui dentro. Se ele falta um dia, isso faz toda a diferença. É nossa obrigação fazer o máximo para que as pessoas cheguem com uma cabeça boa para trabalhar", diz Medeiros.

Eles escolheram a startup Doutor Já, que em maio lançou cartão com foco em pequenas e médias empresas. "A demanda delas por esse tipo de benefício para colaboradores é uma tendência", diz Gustavo Valente, CEO da Doutor Já, que hoje atende 15 empresas. O serviço dá acesso a descontos em farmácia, acesso telefônico a farmacêuticos - para tirar dúvidas sobre bula, posologia - e consultas a partir de R$ 55.

A Consulta do Bem descobriu esse nicho quando percebeu que parte dos agendamentos de consulta feitos na plataforma informava não o CPF de um paciente, mas sim o CNPJ de uma empresa. "Vimos que, muitas vezes, o patrão agendava a consulta para um funcionário doente, por causa da dificuldade de obter atendimento no SUS", conta Rafael Morgado, CFO da startup. "Metade de nossos usuários cadastrados hoje é funcionário de empresas assinantes e nossa meta é crescer 400% por trimestre até 2019."

A Doutor123 está investindo "massivamente" no nicho corporativo, conta o CEO Maurício Sanches. Mas, para ele, o foco não se resume a pequenas e médias empresas. "Estamos falando também de grandes empresas em áreas onde a oferta de plano de saúde não está prevista em convenções coletivas, como supermercados e construção civil", afirma Sanches.

O plano da Doutor123 para empresas prevê, por exemplo, parcelamento de consultas, orientação por telefone com profissionais de enfermagem, seguro de vida e funerário e a chance de inclui parentes sem custo adicional na mensalidade. Não envolve, contudo, gastos com internação.

É neste aspecto - da internação - que outra startup decidiu investir. A Vida Class lançou, no fim de 2017, um seguro para pessoas de 18 a 70 anos, que dá acesso a um valor predeterminado, caso precisem ser internadas - a opção, que não requer pagar franquia, cobre duas internações por ano, de até dez diárias cada, e o valor é oferecido mesmo se a internação for pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A meta da empresa é chegar a 10 mil seguros até o fim deste ano e a 80 mil em 2019. Tem havido interesse, segundo o CEO da empresa, Vitor Moura, de PMEs e de grandes empresas.

"Para quem não está em grandes corporações e tem plano de saúde, uma internação pode significar parar de aferir renda - se um taxista não trabalhar, ele não ganha", diz Moura.

Garantias

Como não são planos de saúde, a ANS não regula a oferta desse tipo de serviço. Em 2014, a agência divulgou cartilha sobre os serviços de cartões de desconto e cartões pré-pagos, chamando a atenção para o fato de que eles não garantem acesso ilimitado aos serviços garantidos por um plano de saúde - cirurgias estão fora da lista, por exemplo.

"Nos preocupa que o consumidor não seja adequadamente informado das limitações desse atendimento, que se restringe a consultas. Esses serviços podem ser úteis em situações pontuais, mas não são planos de saúde nem atendem integralmente o indivíduo. E não devem ser acionados em casos de emergência ou urgência médica", diz Ana Carolina Navarrete, advogada e pesquisadora em saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Inovação será um dos temas do Summit de Saúde

Inovação na área de saúde será um dos temas discutidos no Summit Saúde Brasil, realizado pelo Estado pelo terceiro ano consecutivo no dia 17 de agosto. O evento será no Sheraton WTC (Av. das Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo).

"O setor de saúde tem grandes barreiras para crescimento e inovação: pouco investimento para o desenvolvimento de novos produtos e pouca regularização de novas atividades", diz Camilla Junqueira, diretora-geral da Endeavor Brasil. No evento, ela participa de um debate com foco em startups e na busca por um sistema de saúde popular.

Também participam do encontro Vitor Moura, CEO do Vida Class, Marcus Vinicius Gimenes, CEO do Consulta do Bem, e Maria Del Pilar Muñoz, vice-presidente de Sustentabilidade & Novos Negócios da Eurofarma. Em 2017, a empresa farmacêutica lançou, em parceria com a Endeavor, o Synapsis, programa de aceleração de startups.

"Estamos buscando soluções que possam colocar a saúde em um novo patamar e possam servir a médicos, pacientes, hospitais ou outros", afirma Maria del Pilar Muñoz.

A programação do evento também vai contemplar a aplicação de big data e inteligência artificial na saúde e as regulamentações necessárias nessa era digital, entre outras novidades.

Assinantes do Estado podem adquirir os ingressos com desconto. Também há preços promocionais para associados das apoiadoras. Amil, Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab), Hospital Leforte, Roche e Siemens Healthineers patrocinam o evento.

Estadão
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