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Sobrepeso na adolescência representa risco cardíaco equivalente ao da obesidade

Testes de desempenho cardíaco foram feitos com voluntários entre 10 e 17 anos

16 mai 2019 - 16h43
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Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) sugere que adolescentes com sobrepeso têm risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares tanto quanto jovens obesos.

Testes de desempenho cardíaco feitos com voluntários entre 10 e 17 anos revelaram que os dois grupos - sobrepeso e obesidade - apresentam resultados muito parecidos.

A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi publicada na revista Cardiology in the Young. Participaram do trabalho cientistas da Kennesaw State University, dos Estados Unidos, e da Faculdade de Juazeiro do Norte, no Ceará.

"Até recentemente, o sobrepeso na adolescência não era considerado um fator de risco tão importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como é a obesidade. Constatamos que os riscos em ambas as condições são parecidos", disse Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp de Marília e coordenador da pesquisa, à Agência Fapesp.

Os pesquisadores dividiram 40 adolescentes em dois grupos, com meninos e meninas na mesma proporção e com diferentes valores de escore-z - escala usada no diagnóstico nutricional de crianças e adolescentes baseada no número de desvios padrão acima ou abaixo da média da população na mesma idade.

O primeiro grupo foi composto por adolescentes com sobrepeso, classificados pelo escore-z com um a dois desvios padrão acima da média (+ 1 e +2). O segundo grupo reuniu adolescentes obesos, identificados pelo escore-z com desvios padrão acima de dois.

Os jovens foram submetidos a um protocolo de exercícios físicos moderados, que incluía caminhada de 20 minutos em uma esteira sem inclinação. O objetivo era alcançar 70% da frequência cardíaca máxima estimada para a faixa de idade.

A variabilidade da frequência cardíaca dos adolescentes foi medida antes e depois do exercício, a fim de avaliar a velocidade de recuperação cardíaca autonômica na sequência da atividade física. Essa medida permite analisar o risco de uma pessoa apresentar uma complicação cardiovascular imediatamente após uma atividade física e também estimar o risco de vir a ter uma doença cardiovascular no futuro.

Durante os primeiros segundos de um exercício físico, há uma redução da atividade do sistema nervoso parassimpático - responsável por estimular ações que relaxam o corpo, como desacelerar os batimentos cardíacos.

Já após os primeiros 50 a 60 segundos do esforço físico há um aumento da atividade do sistema nervoso simpático - estimulando ações de resposta a situações de estresse, como a aceleração dos batimentos cardíacos, por meio dos efeitos da adrenalina.

Estudos publicados nos últimos anos indicaram que, quanto maior é o tempo que esse sistema nervoso autônomo demora para se estabilizar após o exercício e recuperar a frequência cardíaca normal, maior também é a predisposição para doença cardiovascular ou metabólica, explicou Valenti.

As análises da variabilidade da frequência cardíaca dos adolescentes com sobrepeso e obesos revelaram que não houve diferença significativa entre eles.

Os resultados das análises estatísticas também indicaram que não houve diferença na variabilidade da frequência cardíaca das meninas em comparação com a dos meninos.

"A média das variáveis do sistema nervoso autônomo foi praticamente igual para os dois grupos de adolescentes, independente do sexo", afirmou Valenti.

"Essas evidências sugerem que os adolescentes com sobrepeso têm a mesma predisposição, ou uma vulnerabilidade muito parecida com a de obesos, de desenvolver uma doença cardiovascular, como hipertensão e insuficiência cardíaca, além de distúrbios metabólicos, como diabetes, dislipidemia e alterações nos níveis de triglicérides e de colesterol", disse.

O número de adolescentes obesos aumentou em todo o mundo nos últimos 40 anos. Nos países desenvolvidos, a taxa de obesidade nesse grupo cresceu entre 30% e 50% por década, segundo estudos recentes. No Brasil, a tendência não é diferente.

Estadão
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