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Seis mulheres inspiradoras contam suas histórias de força e superação na pandemia

No Dia Internacional da Mulher, o Estadão conta histórias de quem passou por transformações recentes. Dentro de casa ou no trabalho, com os seus ou distante da família

8 mar 2021 - 05h11
(atualizado às 07h53)
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A gente acorda uma pessoa diferente todo dia, ainda mais quando se vive uma pandemia. Acontecimentos positivos, conquistas e desafios tomaram outra forma. Em uma data como a de hoje, Dia Internacional da Mulher, criada décadas atrás para reivindicar equidade de gênero, o Estadão conta histórias de quem passou por transformações recentes. Dentro de casa ou no trabalho, com os seus ou distante da família.

Entre essas mulheres, a que primeiro viveu as consequências da covid-19 foi Rafaela da Rosa Ribeiro, de 33 anos. Em Milão, onde estudava o zika, a pesquisadora de pós-doutorado viu a Itália colapsar em fevereiro. "Achava que iria durar pouco, que uns dias de lockdown resolveriam. Mas foi tomando a proporção que tomou."

Nos meses seguintes, ela passou a relatar o que ocorria a amigos, colegas de profissão e hospitais fora dos grandes eixos brasileiros, como um alerta do que poderia ocorrer. "Dei muita palestra, aula, entrevista", recorda-se. "Quando lembro, vejo que foi difícil, que aquilo transforma, faz a gente repensar bastante coisa."

Rafaela retornou ao Hospital Albert Einstein em agosto, onde seguiu com a pesquisa sobre tratamento para zika em gestantes. Em breve, continuará o estudo em uma universidade paulista. Rafaela conta que demorou para perceber diferenças de gênero em sua área, mas acredita que o último ano explicitou o protagonismo de cientistas como Margareth Dalcolmo, Ester Sabino e Jaqueline Goes. "Há uma visão maior da sociedade para as mulheres que fazem ciência", acredita.

Na mesma época que Rafaela estava em Milão, a consultora em sustentabilidade Gabriela Mekari, de 36, vivia os últimos meses da gestação de Teresa. A covid-19 trouxe receio desde o início, mas o temor de contaminação aumentou quando ela entrou no hospital para ter a bebê, em maio.

Gabriela utilizou máscara durante grande parte do parto, mas chegou um momento que não conseguia mais. "No ápice, fiquei sem pensar na pandemia. Mas depois voltei a ficar preocupada em usar máscara e a passar álcool em todos os objetos que as pessoas traziam."

Já em casa, Gabriela contou com o suporte do marido e dos pais, que estavam em home office. "Foi louco viver a maternidade na pandemia", conta. "Uma coisa que impactou foi a impossibilidade de dividir a felicidade com a família toda, com os amigos. Pessoas próximas que só conheceram (a bebê) pelas redes sociais."

Sócia em uma empresa, ela decidiu voltar ao trabalho em regime de meio período. Por isso e por ter a família presente, diz ter percebido como é privilegiada. "A maior parte das pessoas não tem essas possibilidades, a força tem de ser muito maior. Mudou toda a minha visão como mulher, como mãe."

A consultora de comunicação Vivian Lopes, de 38, também passou por grandes mudanças na vida pessoal na pandemia. Insatisfeita com o estilo de vida que levava morando no Rio e, depois, em Niterói, ela e o marido Denis Barbosa, de 42, discutiam há tempos a possibilidade de voltar para a região de Campinas, onde seus pais vivem. "Foi uma decisão para buscar paz. Não conseguia me acostumar com tiroteio, camburão, operação policial."

Após meses, eles encontraram o que procuravam em Vinhedo. Vivian, o marido e os filhos, Henrique, de 8, e Gabriela, de 12, vivem desde outubro em uma casa em um condomínio. "Vejo que a mudança foi no momento certo."

Liderança

Na pandemia, mulheres se destacaram também pelo pioneirismo e pela liderança em ações de impacto social. É o caso da chef Telma Shiraishi, de 50. Assim que a quarentena começou, ela se viu com a despensa cheia de comida em dois restaurantes, ao mesmo tempo em que notava pessoas passando dificuldade nas ruas. Com a ajuda de parceiros e voluntários, surgia ali o Movimento Água no Feijão.

O grupo chegou a fazer até 400 marmitas por dia no restaurante que ela mantém na Japan House. "Um dos conceitos japoneses mais fortes é o do 'mottainai', que é o horror ao desperdício, principalmente de alimentos", comenta Telma, que é neta de japoneses.

Depois, com a retomada paulatina nos meses seguintes e o investimento no delivery, não havia mais espaço nas cozinhas. As operações do movimento mudaram, então, para um espaço cedido em Heliópolis, no qual hoje a produção é feita por cozinheiras locais. "Em 2021, a gente quis evoluir um pouco, ampliar as frentes e impactar outras comunidades."

Aos 68 anos, a arquiteta, urbanista e professora universitária Nadia Somekh também se viu em meio a mudanças na pandemia. A rotina de viagens e aulas deu lugar a cerca de dez horas em frente a telas. Um cotidiano diferente do que tiveram seus antecessores - todos homens - na presidência do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), posto que assumiu há menos de dois meses. "Estou fazendo a gestão de 120 funcionários de forma remota. A sede, em Brasília, está fechada. Mas conseguimos nos reinventar", afirma. Os recursos que estão sendo economizados com o home office, diz ela, podem ser investidos em melhorias de moradias, por exemplo. Um trabalho feito por meio de assessoria técnica prestada a gestores públicos e a ONGs.

Conselheira federal desde 2017, Nadia diz que embora a profissão tenha maioria feminina, as arquitetas enfrentam dificuldades para atingir projeção. "Quando falei de gênero pela primeira vez, um conselheiro disse que não tinha importância. Agora, queremos incluir a perspectiva de raça."

Mais próxima

A neurocientista e biomédica Mellanie Fontes Dutra, de 28, encabeçou no início da pandemia a criação da Rede Análise Covid-19, coletivo multidisciplinar que reúne hoje cerca de 150 pesquisadores para analisar e coleta de dados sobre a doença. "É uma forma de fazer conscientização e levar informações de forma mais acessível para as pessoas", conta.

Antes mais voltada à divulgação científica em eventos presenciais, Mellanie passou a atuar de forma bem ativa nas redes sociais, com uma linguagem mais despojada, referências a memes e imagens que chamam a atenção.

A neurocientista segue com objetivos na área de estudo a que se dedica há anos, pesquisando e escrevendo sobre autismo. Mas percebe que a pandemia trouxe outros interesses, especialmente em virologia e imunologia. "Penso em expandir, começar a estudar coisas que complementam."

Estadão
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