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Secretário do Amazonas vê dias duros até o fim do mês e risco de crise nacional por oxigênio

Entrega de oxigênio a Manaus pode se normalizar até este sábado, 16, se der certo a operação de guerra montada para levar cilindros à cidade, diz Marcellus Campêlo

15 jan 2021 - 21h01
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BRASÍLIA - Secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo afirma que a entrega de oxigênio a Manaus pode se normalizar até este sábado, 16, se der certo a operação de guerra montada para levar cilindros à cidade. Ainda assim, ele estima que a capital amazonense deve viver dias duros até o fim deste mês, com "muita pressão" sobre a rede de saúde. Ele diz ter alertado outros Estados sobre um risco de uma crise nacional pela falta do gás, essencial para o tratamento de casos mais graves de covid-19.

"Acredito que com esse impacto agora haja um pouco mais de colaboração da população. Mas acho que ainda ficaremos pelo menos até o fim do mês, lá pelo dia 25 de janeiro, com muita pressão na rede em função desse novo pico", disse o secretário ao Estadão na noite de quinta-feira, 14.

Segundo Campêlo, a nova variante do coronavírus que circula em Manaus causou "forte impacto" e "aumento súbito de internações".

"Pacientes chegam precisando muito de oxigênio. Pode haver crise em outras regiões do País, em regiões também isoladas. Se agravar o País todo junto, pode haver uma crise nacional. Os governantes precisam incentivar cuidados sanitários", disse ele.

O secretário afirmou que a variante do vírus preocupa e que os médicos já vinham percebendo "algo diferente" e quadros mais graves entre os pacientes."Triplicamos nosso número de internações pela covid-19. Um absurdo a quantidade de casos. Em menos de 15 dias houve explosão da necessidade de internação. Temos de considerar a nova cepa como possível causa", afirmou.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Eduardo Pazuello apontam como um dos principais fatores para a crise de Manaus a falta do "tratamento precoce", ou seja, o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19, como a hidroxicloroquina.

O secretário de Saúde do Amazonas evita confrontar a versão do governo federal. Afirma que a atenção básica precisa ser melhorada em Manaus e que todos os medicamentos têm de estar disponíveis. "Quando fui contaminado em setembro, meu médico me receitou esse tratamento. Atribuir a cura ao tratamento? Não sei, não posso saber", disse o secretário, que é engenheiro.

Campêlo nega falta de planejamento do governo local. Ele disse que desde setembro o governo percebia a alta de casos e acionava novos protocolos. Em dezembro, parte da população protestou e fez o governo local recuar do fechamento do comércio.

O secretário liga a disparada de casos às aglomerações e festas de fim de ano. A demanda por oxigênio no Estado, que era de até 10 mil metros cúbicos antes da pandemia, chegou a 30 mil no pico de 2020 e explodiu para 73 mil nesta semana, segundo Campêlo.

Questionado se houve falha dos governos local, federal e até da população para evitar as aglomerações, o secretário afirma que "é difícil mudar a mentalidade da população". "Mas é necessário que compreendam que temos de ter cuidado."

Campêlo também declarou que, com a ajuda do ministério, que enviou respiradores, entre outros insumos, seria possível abrir mais 132 leitos de UTI e 150 clínicos. Os espaços, porém, estão ainda vazios, pela falta de oxigênio. "Estavam prontos para serem usados, quando fomos surpreendidos pelo colapso."

Os pacientes de Manaus começaram a ser transferidos para oito Estados nesta sexta-feira, 15. A estimativa é de que 700 pessoas podem precisar de atendimento fora do Estado.

Campêllo disse que não há opção descartada para o transporte dos pacientes e a compra de cilindros de oxigênio. Há articulação com a Venezuela e os Estados Unidos para encontrar o produto.

"Vírus e aglomeração não combinam. Só em favor do vírus. É necessário evitar aglomerações. Precisamos de uma grande campanha de conscientização", declara o secretário, que também cobra agilidade na entrega das vacinas.

Estadão
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