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'O vírus não é imparável quando o país se mobiliza com liderança forte'

Manuel Gomes é professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e assessora o governo de Portugal na resposta à epidemia do novo coronavírus

27 mar 2020 - 12h11
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Professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Gomes assessora o governo de Portugal na resposta à epidemia do novo coronavírus. "Quando um país entra em negação, mais semana menos semana, perde-se o controle da situação, e as consequências são pesadas", diz.

Que lições podemos tirar desde o início dessa epidemia há três meses?

Presentemente, o mundo é um laboratório epidemiológico ao vivo, onde ocorrem experiências que nos dão ensinamentos. Vemos que os resultados de lidar com o mesmo fenômeno de forma diferente conduz a resultados diferentes. Num extremo, temos a China e a Coreia; no outro, parece estar o Irã. No meio, temos a Alemanha, a Espanha, a Itália, e muitos outros.

Quando um país toma medidas proativas draconianas (China e, depois, a Coreia), é possível controlar a covid-19, mesmo quando o ponto de partida é muito mau e predomina transmissão comunitária da doença. O vírus não é imparável quando a sociedade se mobiliza sob liderança forte.

E quando essas medidas não são adotadas?

Quando um país entra em negação, mais semana menos semana, perde-se o controle da situação, e as consequências são pesadas. De início, parece que o número de casos aumenta muito devagar, mas de repente disparam exponencialmente e tornam-se imparáveis. No Irã, a situação está descontrolada e há pouca informação.

O senhor acha que a Itália esteve em negação?

Na Itália, passamos de zero para dez mil casos num abrir e piscar de olhos. Não diria que o país esteve em negação, nada disso, mas a Itália aparenta ter estado toda a fase inicial da epidemia a reagir, em vez de tomar medidas proativas. Tudo isto está a passar-se à nossa frente. Podemos aprender as lições e aplicar, ou ignorar. O Brasil teve tempo para se preparar.

Estadão
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