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No Distrito Federal, lojas abrem e banco tem fila de 3 horas

Em cidades próximas de Brasília, ambulantes desafiam restrições impostas por governador

7 abr 2020 - 21h40
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BRASÍLIA - O espetinho de churrasco que o presidente Jair Bolsonaro visitou duas semanas atrás em Taguatinga, na região do entorno de Brasília, segue rodeado de pessoas. Em descumprimento ao decreto baixado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que proibiu o funcionamento do comércio ambulante até o dia 3 de maio, o vendedor Edvaldo de Almeida trabalha tranquilamente. "Vendo uns 70, 80 espetinhos por dia", comenta ele, enquanto dá o troco a um cliente.

O espetinho do Almeida não é exceção. Ao seu redor, dezenas de barraquinhas estão montadas em Ceilândia e Taguatinga, a 25 quilômetros do Palácio do Planalto. A reportagem percorreu as regiões do DF e encontrou lojas de roupas, de cosméticos, de utensílios domésticos, salões de beleza e de cabeleireiros, entre outros pontos comerciais,funcionando normalmente.

Todos esses estabelecimentos estão, por lei, impedidos de funcionar no DF por causa da quarentena. Em diversas ocasiões, a reportagem encontrou lojas com as portas de aço abertas pela metade, mas funcionando normalmente, com diversos clientes no interior.

Entre as maiores aglomerações de pessoas, nenhuma situação superava a fila da agência da Caixa, em Ceilândia. Cerca de cem pessoas se aglomeravam na calçada, em uma espera média de três horas para atendimento. A agência ainda colocou faixas na parte externa do banco, para que as pessoas respeitassem uma distância mínima de cerca de 1,5 metro, mas ninguém obedecia. De máscara, um gerente ainda tentava convencer as pessoas a se distanciarem umas das outras, mas ninguém lhe dava ouvidos.

No entorno do DF, parte da população tem ignorado os constantes avisos de isolamento social e circula sem máscaras pelas ruas.

DF pode ser alvo de expansão descontrolada do vírus

O Distrito Federal, que pode ser alvo, nos próximos dias, de uma expansão descontrolada do coronavírus, como alerta o Ministério da Saúde, foi o primeiro local do País a decretar suspensão de aulas nas escolas, em 12 de março. Esse prazo já foi prorrogado e as escolas permanecerão fechadas ao menos até 31 de maio. Segundo o governo federal, o Distrito Federal, São Paulo, Rio, Ceará e Amazonas são os locais que devem entrar em fase de expansão descontrolada do surto.

Por lei, o DF determinou o fechamento, até 3 de maio, de uma longa lista de estabelecimentos, como bares, restaurantes e, inclusive, quiosques, food trucks e trailers de venda de refeições que aglomerem pessoas.

Apesar da extensa lista de proibições, o governo do DF tem flexibilizado as medidas, permitindo a abertura de alguns setores, como concessionárias e empresas de tecnologia. Os locais autorizados a funcionar incluem ainda lojas de materiais de construção, postos de combustíveis e lojas de conveniência - mas sem consumo no local. Estão liberados ainda pet shops e lojas de medicamentos veterinários. Lavanderias e floriculturas com entrega em domicílio também estão autorizadas a abrir as portas, além de atividades industriais, como a construção civil.

Há preocupação com o descumprimento da quarentena e com um afrouxamento nos cuidados pela população, justamente em um momento que Brasília poderá viver o pico de contaminações. A cidade, diz o governador, reúne características que a faz um local de maior risco na pandemia da covid-19: a população é mais idosa que a das demais cidades do País, é local de grande deslocamento de pessoas para outras regiões e tem mais de 160 organizações nacionais e internacionais presentes em um mesmo local.

Nesta terça-feira, 7, o DF somou 492 casos de coronavírus e 12 mortes confirmadas pela doença. Para evitar o travamento do atendimento à população, um hospital de campanha está sendo montado na estrutura do Estádio Mané Garrincha. "Sabemos que, se tivermos um colapso na rede de saúde, vai ser muito grave", disse Ibaneis Rocha.

Estadão
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