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No auge da pandemia, mais de 60% dos serviços de radioterapia tiveram queda de atendimento

Levantamento da Sociedade Brasileira de Radioterapia apontou redução de mais de 20%; 60% das pessoas com câncer fazem o tratamento

25 nov 2020 - 10h10
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Um levantamento com 126 serviços de radioterapia do País apontou que 61% deles tiveram mais de 20% de queda no movimento durante o período crítico da pandemia no Brasil, no mês de maio. Os dados, compilados em junho, são da Sociedade Brasileira de Radioterapia, que demonstra preocupação com o agravamento do câncer em pacientes que tiveram seus tratamentos interrompidos ou adiados, assim como com o aumento da fila causado pelo represamento. Segundo a entidade, 60% das pessoas com a doença fazem o tratamento.

O País conta com 284 serviços de radioterapia e dois Estados não oferecem o tratamento: Acre e Roraima. Há municípios que também não contam com equipamento para radioterapia, de modo que pacientes precisam se deslocar para outras localidades para fazer as sessões. Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia, a distância média percorrida por um paciente varia entre 33 km (no Estado de São Paulo) a 1.605,5 km, em Roraima.

A necessidade de viajar para outros locais, o que poderia trazer risco de infecção pelo vírus, fez com que alguns médicos recomendassem o adiamento do tratamento - após avaliação do caso do paciente. Outros motivos para a queda foram o medo dos pacientes e a queda no número de novos diagnósticos de câncer, também impactos da pandemia. Os dados da pesquisa foram aprovados para publicação no periódico Advances in Radiation Oncology.

"O Brasil já tem uma carência de infraestrutura muito grande na radioterapia. Metade das máquinas está disponível e a outra está em nível de obsolescência. São 409 equipamentos distribuídos de forma não homogênea. O custo do tratamento é alto, porque é dolarizado, e aumentou ainda mais nesses últimos seis meses. A covid-19 veio para dificultar mais ainda", avalia o radio-oncologista Arthur Accioly Rosa, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e diretor de Radioterapia do Grupo Oncoclínicas.

Rosa diz que, em março, a sociedade divulgou um guia para que os serviços adotassem medidas de segurança para evitar a infecção dos pacientes pelo novo coronavírus.

"Como é um tratamento contínuo e implica o uso do equipamento, estabelecemos uma série de cuidados, como a higienização entre um paciente e outro, protocolos de triagem dos pacientes com suspeita, medidas de proteção para a equipe e revisões semanais por telemedicina ou por telefone."

De acordo com o levantamento, 52% dos serviços tiveram pacientes com covid-19 e 54% registraram casos em funcionários. As condutas adotadas foram interrupção do tratamento e isolamento do paciente e realização da radioterapia no fim do expediente.

Alguns pacientes foram remanejados para outras datas. Em outros, foi usado o hipofracionamento, técnica que reduz o número de sessões a partir da aplicação com frações mais altas de radiação, de forma segura. Com o método, pode ocorrer uma queda de 40 para até cinco sessões, preservando a eficácia do tratamento. Segundo o radio-oncologista, o incremento do uso do hipofracionamento nos serviços públicos e privados foi de quase 80%.

Diagnosticada com câncer de mama em abril do ano passado, a professora aposentada Tânia Maria Oppe Vieira Santana, de 57 anos, fez a cirurgia em dezembro e recebeu a indicação para fazer 18 sessões de radioterapia em março. Por causa da pandemia, o tratamento foi adiado para abril.

Moradora do município de Teófilo Otoni (MG), ela fez o tratamento em Ipatinga e não precisou passar muito tempo longe de casa nem fazer viagens por causa do hipofracionamento.

"No dia que eu comecei, a enfermeira falou que ia diminuir para cinco sessões por causa da pandemia para reduzir o tempo de permanência. Não tive reação, o método me ajudou e foi excelente. Não tive o risco da estrada nem de pegar o vírus."

Tratamento importante

Rosa destaca a importância da radioterapia para os pacientes com câncer. "É um dos três pilares, junto à cirurgia e à quimioterapia. Quanto mais usada em fase inicial, mais curável ela é. É um tratamento que usa radiação ionizante para incapacitar a replicação celular por meio de equipamentos chamados aceleradores lineares. Estima-se que 60% dos pacientes com câncer vão precisar de radioterapia para aliviar sintomas como dor e sangramento."

Estadão
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