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Nº de obesos cresce 67,8%, mas País tem aumento de hábitos saudáveis

Crescimento foi maior entre adultos de 25 a 34 anos e de 35 a 44 anos; consumo de hortaliças e prática de atividade física avançaram

25 jul 2019 - 13h33
(atualizado em 26/7/2019 às 00h18)
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SÃO PAULO - O número de pessoas obesas no Brasil teve um aumento de 67,8% entre 2006 e 2018, segundo dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que foram apresentados nesta quinta-feira, 25, pelo Ministério da Saúde.

O levantamento, realizado no ano passado, apontou que o índice passou de 11,8% (2006) para 19,8% (2018) e que pessoas das faixas entre 25 e 34 anos (84,2%) e de 35 a 44 anos (81,1%) foram as que registraram maior crescimento da obesidade. Entre os sexos, as mulheres apresentaram maior índice de obesidade, com 20,7%, enquanto os homens ficaram com 18,7%.

Desde 2015, o índice de obesidade se mantinha estável em 18,9% - o que, para pesquisadores, pode ser só uma flutuação em meio à tendência de alta. O excesso de peso também cresceu no País. Mais da metade da população (55,7%) da população está acima do peso, e o indicador é 30,8% maior do que o registrado em 2006, quando era de 42,6%. Nesse caso, a prevalência é maior na população entre 18 e 24 anos.

"Destacamos um aumento na obesidade entre adultos, aumento no consumo abusivo de álcool. A população, por outro lado, tem ampliado a adoção de hábitos saudáveis, como o consumo reduzido de refrigerantes e bebidas artificiais, temos aumentado o consumo de frutas e hortaliças, um aumento na prática de atividade física e também redução do hábito do tabagismo", afirma o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber. "A tendência de aumento vem desde 2006 e está praticamente igual entre homens e mulheres."

As informações sobre obesidade e excesso de peso levaram em consideração o Índice de Massa Corporal (IMC). Para a pesquisa, foram ouvidas 52.395 pessoas das 26 capitais e do Distrito Federal. As entrevistas, realizadas com pessoas com mais de 18 anos, foram realizadas entre fevereiro e dezembro de 2018.

O advogado Matheus Pereira, de 46 anos, já viveu a experiência de estar acima do peso e, há 15 anos, chegou a perder 43 kg por meio de um programa de emagrecimento. Agora, com 135 kg, está novamente tentando emagrecer.

"Em 2017, quebrei a perna e fiquei um mês no hospital. Sabia que iria engordar e engordei 20 kg." Ele disse que, quando chegou aos 147 kg, resolveu mudar seus hábitos.

"Conhecei a fazer crossfit há seis meses, vou de segunda a sábado, e, há três meses, voltei para o Vigilantes do Peso. Estou com 135 kg e minha meta é chegar aos 80 kg."

Pereira diz que o ganho de peso não tem relação apenas com a alimentação, como muitas pessoas pensam. "Isso é um reflexo da nossa sociedade. Temos uma vida atribulada, queremos vencer na vida e não conseguimos comer bem, fazer exercício e cuidar da saúde. Fui relapso com a minha saúde. Agora, como salada, legumes e não mais comida industrializada, que eu comia aos montes."

Aumento dos hábitos saudáveis

Apesar do crescimento de obesidade e sobrepeso, a população brasileira está aumentando hábitos que contribuem para a saúde. Entre 2008 e 2018, foi registrado um aumento de 15,5% no consumo regular de frutas e hortaliças. O consumo é mais frequente entre as mulheres (27,2%) do que entre os homens (18,4%).

Em relação a 2009, a prática de atividades físicas cresceu 25,7%. "Os dados apontam que a prática de alguma atividade física no tempo livre é maior entre os homens (45,4%) do que entre as mulheres (31,8%)", informa o ministério.

"Quando verificado a incidência por faixa etária, o aumento é mais expressivo na população de 35 a 44 anos, com crescimento de 40,6% nos últimos dez anos."

A população adulta também está reduzindo o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas. A queda foi de 53,4% no período de 2007 a 2018. Em novembro, o ministério estabeleceu metas para reduzir a quantidade de açúcar em produtos industrializados. O objetivo reduzir 144 mil toneladas de açúcar nos produtos até 2022.

Para o ministério, apesar do crescimento dos bons hábitos, ainda são consumidos alimentos que colaboram para o aumento de peso. "Nós temos um aumento maior na obesidade em decorrência do consumo muito elevado de alimentos ultraprocessados, de alto teor de gordura e açúcar."

Diabete

Outro ponto destacado pelo ministério é que a população está mais bem informada sobre a própria saúde, principalmente em relação a diabete. Segundo a pasta, 7,7% da população brasileira foi diagnosticada com a doença no ano passado, um aumento de 40% em relação a 2006 (5,5%).

As mulheres apresentam maior porcentual de diagnóstico, com 8,1%, do que homens (7,1%). "Em ambos os sexos, quanto mais jovem, menor o porcentual de diagnóstico."

Preocupação

O professor Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), diz que pesquisas apontam o consumo de alimentos ultraprocessados - mais do que a falta de atividade física - como principal causa da obesidade no mundo. Monteiro é coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, que supervisiona a coleta de dados do estudo divulgado pelo governo.

"O que temos visto como tendência é que as pessoas estão cozinhando menos, preparando menos seus próprios alimentos", diz Monteiro. "Elas podem estar comendo mais frutas e também alimentos ultraprocessados. Não vejo uma contradição nesses dados."

Ele diz que uma explicação mais precisa para o aumento da obesidade deve vir dos dados da próxima Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que deve ser publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste ano. É a mais abrangente pesquisa sobre o padrão de consumo no País, e mostra quais alimentos o brasileiro mais consome. Desde qualquer forma, Monteiro lembra que a obesidade é "uma das doenças mais difíceis de se tratar", e a melhor estratégia contra ela é a prevenção.

Já a médica Ana Maria Malik, coordenadora do programa GV Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que os dados da pesquisa trazem preocupação com o aumento de doenças crônicas, em que a obesidade é um dos maiores fatores de risco. Para ela, não é surpresa que hábitos como alimentação saudável e prática de exercícios físicos tenham aumentado em paralelo ao crescimento da obesidade pois, sozinhos, esses dois fatores não são suficientes para barrar a tendência de alta da doença.

"Uma vez por semana não é regularidade", diz a médica. "Nos municípios onde a longevidade é maior, as pessoas não vão na academia, elas têm uma vida mais saudável, se exercitam como parte da sua rotina diária."

O coordenador do Centro Especializado em Obesidade do Hospital Oswaldo Cruz, Ricardo Cohen, argumenta que alimentação saudável e exercício físico são medidas importantes para prevenir a doença, mas não para tratar quem já têm essa condição. "Com alimentação saudável e exercício físico, vai diminuir a incidência de novos casos, mas a prevalência, que é o número atual, só vai subir até que se leve a sério a obesidade como uma doença. Não é comportamental, não é estético, não é psicológico. É como o câncer."

Estadão
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