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Manaus: crime ou insensatez?

Na cidade que teve filas para sepultamento em 2020, o fracasso da tentativa local de impor o confinamento foi produzido e comemorado por alguns segmentos econômicos e políticos aliados do presidente, incluindo um dos filhos

16 jan 2021 - 17h53
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Assimilamos a palavra inglesa "lockdown" no ano passado, equivalente a confinamento ou restrição rigorosa de atividades e circulação. O "lockdown" foi aplicado em algum momento, durante a atual onda pandêmica de Covid-19, em quase todos os países onde a transmissão se intensificou.

Entre as dezenas que adotaram medidas rígidas, como a proibição de sair de casa, ou menos severas, com fechamento de comércio e vários tipos de serviços, estão Alemanha, Portugal, Reino Unido, Hungria, Itália, Malásia, Tailândia, França, Espanha, Suécia, Noruega e mesmo alguns cujos mandatários maiores têm semelhanças de postura política com o brasileiro, como Polônia, Hungria e Filipinas. Observe-se que naqueles países onde as medidas foram mais brandas, o isolamento foi maior do que aquele que vivemos no Brasil quando houve mais rigor.

Desde o início da epidemia em nosso país, o presidente, além de negar a gravidade, sempre se opôs às restrições. Sem plano para enfrentar a epidemia e com medidas de controle executadas de forma frágil e heterogênea, vivemos a catástrofe de contar mais de mil mortes diárias ao longo de meses. Depois de um curto período de queda parcial, com números ainda trágicos, as taxas voltaram a subir ao aproximar-se o fim do ano.

Com o desastre em curso, anunciava-se o pior, decorrente da habitual aglomeração e da grande circulação de pessoas no período festivo.

Em Manaus, cidade que teve filas para sepultamento em 2020, o fracasso da tentativa local de impor o confinamento foi produzido e comemorado por alguns segmentos econômicos e políticos aliados do presidente, incluindo um dos filhos. Parte da sociedade, desinformada e dividida, ouviu os líderes que escolheu.

A legislação penal brasileira tipifica os crimes de indução ou instigação ao suicídio e de periclitação da vida. Quem se preocupa com a saúde brasileira espera que a lei seja aplicada e continuará incansável, a esmurrar facas enquanto persistir o imenso e evitável sofrimento!

*Claudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa, é médico sanitária da Fundação Oswaldo Cruz e ex-diretor de Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde

Estadão
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