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Coronavírus

Hospitais privados abrem mais leitos covid-19

Após aumento de internações, Einstein e Samaritano, de São Paulo, diminuíram nº de procedimentos não urgentes e remanejaram vagas

4 dez 2020 - 04h41
(atualizado às 08h32)
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Com o novo aumento de casos de covid-19, hospitais privados de São Paulo aumentam leitos e reduzem cirurgias não urgentesesperando uma segunda onda e unidades do Rio e da Região Sul já enfrentam um pico de infecções tão severo quanto o do primeiro semestre.

Fachada do Hospital Israelita Albert Einstein, Zona Sul de São Paulo (SP)
Fachada do Hospital Israelita Albert Einstein, Zona Sul de São Paulo (SP)
Foto: FLAVIO CORVELLO / Futura Press

Em São Paulo, nove hospitais consultados pelo Estadão tiveram aumento expressivo de internações no último mês e se viram obrigados a ampliar as alas dedicadas à covid. No Albert Einstein, o total de internados com covid, que há um mês era estável em 55, chegou a 106 na quarta-feira, 2. A instituição reduziu o número de cirurgias eletivas agendadas e vem transformando leitos comuns em UTIs.

"Hoje mesmo (quarta-feira, 2) transformamos dez leitos em semi-intensiva. Quando observamos o aumento de casos, colocamos um limite de 110 cirurgias agendadas por dia", explica Sidney Klajner, presidente do Einstein. Antes da alta de infecções, o hospital chegou a fazer mais de 150 operações diárias.

No Samaritano e demais hospitais do Grupo Americas, o volume de leitos dedicado à covid foi ampliado em novembro e está sendo adotada gradual redução de cirurgias eletivas de menor complexidade.

No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, uma análise do comitê de gestão de crise determinou a abertura de mais 15 leitos de UTI para covid nas últimas semanas. Hoje, o hospital tem 89 internados com a doença. "O volume de atendimentos poderá crescer e é fundamental que a população esteja mais consciente e tenha adesão às medidas protetivas", diz Antonio da Silva Bastos Neto, diretor executivo médico do Oswaldo Cruz.

Na BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a UTI covid, com 30 leitos, já está lotada e a enfermaria chegou a 85% da sua capacidade, com novos leitos sendo adaptados a cada dia para pacientes com coronavírus. "Temos estrutura física grande, com algumas alas muito flexíveis. Há uma UTI com 53 leitos na unidade Paulista que podemos adaptar para covid caso necessário", diz Luiz Bettarello, diretor executivo médico e de desenvolvimento técnico da BP.

Na rede São Camilo, o total de internados nas três unidades chega a 170 - no período de baixa da pandemia, eram 10. "Temos leitos reversíveis que conseguimos adaptar como UTI e já deixamos como reserva para covid", afirma Fernanda Fontanezi, diretora de unidade do São Camilo. Alguns hospitais já apresentam dados comparáveis aos picos do 1º semestre.

O Santa Catarina, por exemplo, teve recorde diário de 73 internados entre os meses de maio e junho. Hoje, são 66 hospitalizados com covid. A ocupação geral dos 310 leitos é de 83%. A diretora técnica do hospital, Christiane Nicoletti, conta que as cirurgias eletivas (não urgentes) não foram canceladas. Por outro lado, todos que se internam no hospital, seja para cirurgia ou urgência, são testados para covid. "Seguimos monitorando diariamente a evolução da covid no País e adequando nossos leitos de acordo com a demanda", afirma.

O Hospital Nove de Julho tem 30% mais internações. No Santa Paula, a alta é de 50%. A Santa Casa de São Paulo disse estar perto da capacidade máxima de atendimento, diante de aumento de 25% dos casos de covid e de síndrome gripal. "Além do aumento do número de pacientes da pandemia, os leitos estão com sua ocupação próxima à capacidade máxima, principalmente em decorrência de outros doentes, incluindo da emergência e de cirurgias consideradas eletivas", diz a entidade.

"É bom que o Estado volte a pensar em aumentar leitos de terapia intensiva, em recriar hospitais de campanha e não ser displicente às grandes aglomerações", diz o presidente do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo), Francisco Balestrin. Levantamento da entidade aponta que a taxa de ocupação das UTIs em hospitais privados atinge 84% e que 35% das instituições entrevistadas têm adiado cirurgias eletivas (não urgentes).

No total, há 3.778 leitos dedicados à covid-19 em 11 hospitais da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) na cidade de São Paulo. Conforme a entidade, que representa unidades particulares de referência, a taxa de ocupação desses leitos já chega a 83,2%. A entidade afirma que os números ainda são "insuficiente para caracterizar uma 2ª onda, cuja probabilidade não pode ser descartada, tendo em vista os recentes acontecimentos nos Estados Unidos e em alguns países europeus". E ainda faz o mesmo alerta do SindHosp "sobre o risco do adiamento generalizado de consultas, exames e cirurgias não emergenciais, que podem levar a complicações posteriores ou se tornarem fatais."

Rio de Janeiro vê sistema particular perto do limite

A reedição da alta de casos do 1º semestre acontece em outros Estados de modo ainda mais crítico. No Rio, a taxa de ocupação de UTIs da rede privada é de 98% na capital, Baixada Fluminense e Região dos Lagos. O diretor da Associação de Hospitais Privados do Estado, Graccho Alvim, afirmou à TV Globo, que há risco de "colapso total" da rede.

Alguns hospitais já estão suspendendo procedimentos eletivos. Relatos de funcionários e pacientes confirmam que não há mais vagas disponíveis para os casos mais graves de covid e que já tem paciente sendo entubado fora das unidades de tratamento intensivo. "No Rio, a situação é de calamidade", resume o presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Aldevânio Morato. "Já há filas de espera e estamos tentando fazer remoções, mas alguns já não têm mais vagas." Para ele, no caso do Rio, o fechamento de hospitais de campanha e leitos emergenciais da rede pública e o represamento dos atendimentos eletivos nos meses anteriores contribuem diretamente para a superlotação.

"Além disso, muitas cirurgias e procedimentos eletivos que tinham sido suspensos foram retomados. Estamos tentando criar mecanismos de atendimento em separado, coisa que não conseguimos fazer na primeira onda, até porque os procedimentos eletivos respondem por 30% a 40% da receita dos hospitais privados. Sm eles, nossa operação é inviabilizada", acrescenta Morato.

Em Recife, a média de novos casos diários saltou de 22 para 220 em apenas um mês. O aumento já sobrecarrega a rede privada. "Em volume de atendimentos na urgência, temos uma segunda onda em Recife que se aproxima do que aconteceu no pico da doença em maio", diz o médico Jorge Pinheiro, presidente do Sistema Hapvida, que possui 43 hospitais no País. Para ele, a quantidade de atendimentos ainda não se reflete diretamente na alta de internações por causa, dentre outros motivos, do uso telemedicina e do cumprimento dos protocolos médicos estão reduzindo as complicações e a necessidade de internações.

Em unidades de Porto Alegre, pacientes de outras doenças esperam por vaga na fila

O Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, está com ocupação máxima dos leitos da CTI covid e da enfermaria. Segundo a gerente médica da unidade, Gisele Nader Bastos, ainda há seis pacientes de outras doenças à espera de vaga na terapia intensiva. Em só duas semanas, as internações foram de 82 para 97 - somando UTI e enfermaria.

Em novembro, o Moinhos atendeu 200 casos de sintomas gripais em um só dia - número mais alto desde março, e chegou a restringir atendimento de suspeita de covid por 72 horas, diante da alta procura. "Estamos atendendo famílias inteiras infectadas", diz Gisele.

No Hospital Nossa Senhora das Graças, de Curitiba, a UTI opera "com mais de 90% da capacidade", diz o diretor executivo, Flaviano Feu Ventorim. "Há dez dias, tivemos de informar à população para não encaminhar pacientes graves para lá, pois estávamos sem leitos e equipamentos nem para reverter um enfarte." O hospital filantrópico praticamente parou cirurgias eletivas (não urgentes), remanejou leitos de outras especialidades para suprir a demanda e reforçou a equipe.

"O momento que vive São Paulo hoje, já vivemos aqui desde o fim de outubro", diz Rafael Vasconcellos, diretor técnico do Hospital Baía Sul, de Florianópolis, que espera agravamento nas próximas semanas.

Estadão
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