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Grupo faz plano para demência no Brasil

Em parceria com instituição inglesa e Unifesp, profissionais pensam estratégias para doença

29 abr 2019 - 03h11
(atualizado às 08h29)
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SÃO PAULO - O rápido crescimento da população idosa no Brasil acendeu um alerta para um problema comumente associado ao envelhecimento: a demência. Para desenvolver estratégias para o diagnóstico e a assistência aos pacientes, um grupo que reúne cientistas, governo, cuidadores e pacientes está trabalhando na elaboração do Plano Nacional para a Demência no Brasil, previsto para ser finalizado em dezembro de 2021.

"Nosso objetivo é aumentar o conhecimento da população sobre o tema, fazer uma avaliação do que já existe com foco em demência, tanto no setor público quanto no privado, e estudar os custos dessa estratégia de cuidado", explica a psiquiatra Cleusa Ferri, coordenadora do projeto Fortalecendo Respostas à Demência nos Países em Desenvolvimento (Stride).

O projeto é liderado pela London School of Economics and Political Science e fechou uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no final do ano passado.

Aumento da expectativa de vida tem deixado casos de demência mais comuns
Aumento da expectativa de vida tem deixado casos de demência mais comuns
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Pesquisas já apontam que, quanto maior o grau de escolaridade, mais tarde os sinais de demência aparecem. E esse será o ponto de partida do trabalho. O grupo vai elaborar estratégias para oferecer informações para a população e para profissionais sobre o tema, analisar pesquisas sobre o assunto desenvolvidas no País e estabelecer meios de fazer a estimulação cognitiva dos idosos.

"No Brasil, grande parte do custo da demência vem do cuidado informal - as pessoas que param de trabalhar para cuidar do idoso. Em outros países, há um número razoável de instituições de longa permanência com suporte público", diz Cleusa.

Foi o que aconteceu com a pedagoga Sheila Tabajuihanski, de 58 anos, que há cinco anos descobriu que a mãe estava com demência e percebeu que os profissionais de saúde e as próprias famílias não estão preparados para a situação.

"A médica deu um diagnóstico de Alzheimer em uma consulta de 15 minutos, sem saber mais detalhes sobre o quadro da minha mãe. No início, mesmo com convênio, não sabíamos a quem recorrer. Fomos a um geriatra particular que, depois de meses, disse que ela tinha outro tipo de demência, a por corpos de Lewy, muito associada à idade", conta.

No início, conta Sheila, a mãe, Bayla Tabajuihanski, de 84 anos, tinha alterações apenas de comportamento. Com o tempo, foi acumulando perdas cognitivas e motoras. Hoje, não consegue mais se alimentar nem tomar banho sozinha e precisa de ajuda para caminhar.

Sheila parou de trabalhar pela manhã para cuidar da mãe e, no período da tarde, conta com a ajuda de uma empregada. Somando fraldas, medicamentos, alimentação e empregada, a família gasta cerca de R$ 6 mil por mês com os cuidados à idosa.

"Com toda a minha formação, eu não estava preparada para o envelhecimento da minha mãe dessa maneira e não tinha uma visão de Brasil com demência, mas hoje sei que são muitos casos e tem gente que nem tem o diagnóstico." Segundo Cleusa, 1,7 milhão de pessoas têm algum tipo de demência no País e 77% não têm o diagnóstico.

Pesquisas

A iniciativa de criação do plano nacional integrou um simpósio realizado neste mês, em que foram apresentadas pesquisas desenvolvidas por brasileiros financiadas pelo Instituto Global de Saúde do Cérebro (GBHI) e pela Associação de Alzheimer.

Uma delas é a da neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais Elisa Resende, que avalia como a alfabetização de adultos pode contribuir na redução do risco de demência. "Se a gente conseguir provar que o programa de alfabetização vai evitar ou diminuir (os casos de demência), pode ser uma estratégia de prevenção, que é barata."

Outro é da doutoranda da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Maira Okada de Oliveira, que desenvolve um método para diagnóstico em analfabetos. "Quando você avalia um paciente e ele apresenta um desempenho ruim nos testes neuropsicológico, fica difícil de entender se ele teve esse desempenho por não ser escolarizado ou se está com algum comprometimento cognitivo."

Procurado, o Ministério da Saúde informou que o Brasil faz parte do Observatório Global de Demência e que está na fase de coleta de dados. Disse ainda que oferece assistência para pacientes com Alzheimer.

Saiba mais sobre a doença

1. O que é demência?

É uma doença mental que causa prejuízo cognitivo, de acordo com informações da Associação Brasileira de Alzheimer. O paciente com demência pode apresentar sintomas como alterações na memória, dificuldades de raciocínio e também mudanças em seu comportamento ou personalidade.

2. Quais são os fatores de risco?

Hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo estão entre os fatores de risco para a doença. Pessoas com alta escolaridade tendem a apresentar os sintomas mais tarde.

3. A pessoa que cuida do idoso também precisa de cuidados?

Sim. O cuidador pode ter quadros de estresse, depressão e ansiedade. Ele precisa de suporte emocional, social e familiar.

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