PUBLICIDADE

'Ele tinha muito medo de pegar covid, dizia que se pegasse esse bicho não resistiria'

Neta de vítima em Santa Catarina relata dificuldade para encontrar leito de UTI e piora do quadro do avô, que acabou morrendo com uma pneumonia decorrente da doença. "Ficou um vazio", lamenta

3 mar 2021 - 15h11
Compartilhar
Exibir comentários

Depoimento de Heloiza Abreu da Silva, jornalista, neta de Manoel Quirino de Abreu, de 84 anos, que morreu em dezembro de 2020.

"Meu avô foi mineiro nas minas de carvão de Criciúma (SC). Ele tinha uma pequena lesão pulmonar desse tempo, mas viveu a vida toda sem nunca ter tido qualquer complicação com isso. Cuidava da horta, criava galinha e ia todas as semanas no bailão. Cansei de ver ele carregando uma bananeira inteira nas costas.

Ele tinha muito medo de pegar covid, dizia que se "pegasse esse bicho" não resistiria. Suspeitamos que ele tenha pego no mercado ou na peixaria, os poucos lugares que ia. Ficou de segunda até quinta com sintomas e quando chegou no hospital (Hospital São José de Criciúma) estava ardendo em febre.

Primeiro ficou na ala de covid, ele não tinha nem feito o teste. Na primeira noite, passou frio e fez as necessidades ali mesmo. Ele piorou e foi difícil achar uma UTI. Ficou na fila de espera e aconteceu o que a gente temia. Uma pessoa mais nova acabou passando na frente dele. Ele acabou conseguindo a vaga na UTI e ficou mais de 20 dias internado, passou o Natal no hospital. Nessa noite, ele teve uma melhora e encheu a gente de esperanças, mas no outro dia piorou e faleceu em 27 de dezembro de uma pneumonia em decorrência da covid-19.

Ele para mim era um orgulho. Eu tinha uma paixão muito grande por ele, éramos muito grudados. Minha mãe ainda não consegue falar sobre isso, ficou um vazio. /DEPOIMENTO A FÁBIO BISPO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade