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Com Manaus em nível vermelho de risco da covid, Amazonas decide reabrir parte do comércio

Capital está na fase vermelha da classificação de risco, considerada alta. Governador Wilson Lima sustenta que decisão foi baseada em indicadores em queda na região. Estado vive colapso no sistema de saúde

19 fev 2021 - 20h45
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MANAUS - O governo do Amazonas decidiu reabrir parcialmente o comércio no Estado a partir da próxima segunda-feira, 23, mesmo com a capital ainda na fase vermelha (risco alto) da avaliação de risco da covid-19. O interior se encontra em situação ainda mais grave, a roxa (risco muito alto).

O anúncio foi feito pelo governador Wilson Lima (PSC) no início da tarde desta sexta-feira, 19, em transmissão nas redes sociais. Ele disse que a decisão foi baseada na análise dos indicadores da doença, que apresentaram ligeira queda nos últimos 14 dias.

Após o afrouxamento das medidas restritivas de circulação de pessoas ao longo de 2020, o Amazonas foi castigado por uma segunda onda da pandemia no início desse ano e na capital Manaus foi identificada uma nova variante do vírus causador da covid-19, o SARS-CoV-2, que os pesquisadores acreditam ter uma maior capacidade de transmissão. Com mais de dez mil mortos, o Estado tem sofrido com a falta de leitos de UTI, escassez de insumos hospitalares, como oxigênio, e teve morte de pacientes asfixiados em janeiro.

Diante do colapso da rede hospitalar, o governo decretou medidas mais duras, como o fechamento do comércio e das atividades não essenciais e a restrição da circulação de pessoas nas ruas durante 24 horas por dias a partir de 28 de janeiro. Desde então, em meio à pressão de representantes dos setores do comércio e serviços e com a redução discreta dos indicadores da pandemia, o decreto vem sendo flexibilizado. O toque de recolher, por exemplo, foi reduzido para o horário entre 19h e 6h.

A alteração anunciada será publicada no Diário Oficial e, segundo Lima, deve valer até o dia 28. Ela prevê a reabertura do comércio das 9h às 15h e de shoppings, das 10h às 16h, de segunda a sábado. Os restaurantes poderão receber clientes, com 50% da capacidade, entre 6h e 16h, também de segunda a sábado. Antes, esses estabelecimentos só estavam autorizados a funcionar com entregas (delivery) e no sistema de drive-thru. A Defensoria Pública informou que vai analisar os termos do decreto.

Na transmissão nas redes sociais, no início da tarde, foram apresentados os dados epidemiológicos e da capacidade de atendimento da rede de saúde que subsidiaram o governo na decisão pela reabertura. Segundo Lima, Manaus saiu da fase roxa de risco para a vermelha, enquanto os municípios do interior, sobretudo Parintins, seguem em fase roxa porque mantêm o ritmo de aumento dos casos, internações e óbitos pela doença.

"Todas as decisões que tomamos aqui, relacionadas ao decreto, são baseadas nos dados técnicos da Fundação de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Saúde, entendendo a nossa ampliação da rede, abertura de novos leitos e também em consideração aos aspectos sociais e econômicos, entendendo que tudo que a gente faz aqui é para encontrar um equilíbrio", disse Lima.

Estado tem 275 pacientes na fila

Conforme o diretor-presidente em exercício da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Cristiano Fernandes, o Amazonas apresentou redução na média móvel de casos da doença e de óbitos nos últimos 14 dias, de -24,7% e -17,7%, respectivamente. "A gente deve manter as medidas de prevenção e controle visto que nós ainda temos uma alta carga de doença, apesar desses dados mostraram uma redução importante", observou.

A taxa de transmissão (RT) passou de 1.3 em janeiro para 0.95 no Amazonas, fazendo o Estado sair de 1º colocado para 22º. De acordo com a modelagem RT, cada 100 pessoas infectadas no início do ano transmitiam o coronavírus para outras 130. Agora, cada 100 infectados transmitem para 95, segundo o indicador. "Essa desaceleração é fruto das medidas que já foram adotadas" disse Fernandes.

O secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo, informou que as taxas de ocupação de leitos para covid-19 estão atualmente em 74% leitos clínicos e 93% de UTI. Até esta quinta-feira, 18, 275 pacientes aguardavam na fila para serem internados, 198 diagnosticados com covid-19. "Vale lembrar que em janeiro esse número chegou a ser 657", disse.

Campêlo informou que, durante o plano de contingência da pandemia, a rede de saúde foi ampliada, saindo de 312 leitos clínicos de covid-19 para 1.039. A rede também passou de 130 leitos de UTI para 439 até a próxima semana, com a abertura de mais 30 leitos.

A classificação em cores

A classificação de risco em cores é um instrumento criado em junho para apoiar a tomada de decisão dos gestores na resposta à covid-19. A estratégia foi desenvolvida por representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS).

Levando em consideração os indicadores epidemiológicos, como a variação e óbitos e de novos casos de coronavírus, e dados sobre a capacidade do atendimento da rede de saúde, como o percentual de ocupação dos leitos, o documento descreve orientações sobre as medidas de distanciamento social que devem ser tomadas em cada cenário.

A escala gradual de cores vai de verde (o melhor cenário, com risco muito baixo) a amarelo, laranja, vermelho e roxo (de risco muito alto, quando há descontrole total do contágio e superlotação nos hospitais). Os outros estágios são baixo (amarelo), moderado (laranja) e alto (vermelho).

Conforme o documento, a fase vermelha é adotada quando a taxa de ocupação de leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para covid-19 e SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) está entre 70% e 85%. Para se enquadrar na vermelha, também é preciso que novos casos e de óbitos por SRAG tenha registrado aumento de 5% a 20%, no máximo, nas duas últimas semanas. A taxa de positividade para covid-19 de amostras analisadas deve girar entre 30% e 50%.

Estadão
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