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Colunistas do 'Estadão' alertam para riscos de reabertura econômica pelo Brasil

Para eles, retomada de atividades foi prematura, o que pode levar a um recuo, após novo aumento do número de casos

23 jun 2020 - 05h12
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O atual estágio da pandemia do novo coronavírus no Brasil preocupa o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto e o infectologista Sérgio Cimerman. Os dois colunistas do Estadão participaram de uma live no Facebook na tarde de ontem. "A curva diminuiu sua velocidade de crescimento, mas não está decrescente. É um momento em que você vê o resultado do isolamento social, mas não é o resultado esperado. Tínhamos de ter pelo menos 14 dias com os resultados em queda. Vejo com preocupação o que vai acontecer nos próximos dias porque o aumento de probabilidade de contato leva ao aumento da probabilidade de casos", afirmou Gonzalo Vecina, que ainda cita o problema de subnotificação.

Sérgio Cimerman concorda e cita o avanço da doença para o interior de São Paulo como exemplo. Pela primeira vez, segundo número apresentado pelo governador João Doria, o número de casos é maior fora da capital. "Você vê o sistema de saúde entrando em colapso em cidades como Marília, Campinas, Presidente Prudente... É por causa de um plano estadual forçado, até entendemos pela questão econômica, mas agora terão de fechar por 15 dias para uma reavaliação", afirmou.

Para ele, o Brasil tem de se espelhar em países que adotaram uma flexibilização e depois tiveram de recuar por causa do aumento de casos, como Israel, Irã e Portugal. "Não é vergonha retroceder, não é vergonha você assumir que perdeu o controle da situação e precisa orientar novamente a população. O duro é continuar errando. Aí é burrice", disse. "Esses países retrocederam e os casos estão diminuindo novamente."

Gonzalo Vecina alerta que o Brasil precisa tomar decisões importantes neste momento para que o cenário possa melhorar lá na frente. O médico sanitarista defende que o País entre com força na briga para construir fábricas capazes de produzir uma vacina quando ela for aprovada.

"Temos de jogar o jogo. E como se joga o jogo? Sendo um bom jogador. Temos de fazer contas. Quanto é o investimento em uma fábrica? Qual o custo caso não dê certo? Quem paga esta conta?", afirmou. "Tudo isso passa por decisão política, que passa por cabeça inteligente", continuou.

Caso contrário, segundo ele, o Brasil poderá ter de pagar muito mais caro pela vacina. "Vamos ter de comprar pelo preço que as multinacionais quiserem vender porque elas não fazem filantropia. Vivemos em um mundo capitalista. E ainda teremos de aguardar na fila quando esta vacina for aprovada e iniciar uma produção."

O médico criticou o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello. "Criaram uma comissão para tomar decisões sobre medicamento, compra de itens, tratamento... E decide por voto. O que é isso? Não pode decidir pelo desempate, tem opinião de quem entende. Estamos à deriva", disse. "Temos de caminhar para uma liderança em Brasília que tome decisões que precisam ser tomadas", finalizou.

Estadão
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