PUBLICIDADE

Retinoblastoma: conheça o tumor ocular que pode ser identificado em foto com flash

Doença mais comum na infância, diagnóstico precoce é essencial para a preservação do olho

10 jul 2019 - 07h14
Compartilhar
Exibir comentários

Uma doença grave, porém rara, que pode ocorrer nos primeiros anos de vida da criança e ser identificada por meio de uma foto tirada com flash. Trata-se do retinoblastoma, um câncer maligno intraocular que pode se desenvolver desde o nascimento até os cinco anos de idade. O tumor se apresenta em apenas um olho ou nos dois, e o diagnóstico precoce é fundamental para preservar a integridade do globo ocular e da vida.

Neste Dia Mundial da Saúde Ocular, celebrado em todo dia 10 de julho, o alerta é para que os responsáveis pela criança fiquem atentos ao sinal do tumor e façam o exame de fundo de olho em todas as consultas médicas.

Clarissa Mattosinho, membro titular da Sociedade Brasileira de Oftalmologia e chefe do Serviço de Oncologia Ocular do Instituto Nacional do Câncer (Inca), explica que a doença tem origem genética. "São necessárias duas mutações para acontecer. Quando um dos pais tem mutação e passa para a criança, ela poderá fazer uma segunda mutação", explica.

O retinoblastoma é uma doença hereditária, mas nem sempre familiar, ou seja, a pessoa pode carregar uma mutação vinda do pai ou da mãe, mas não manifestar a doença. Embora haja 50% de chance de a criança ter o câncer se um dos genitores teve a enfermidade, a incidência nos pequenos é de um caso para cada 14 mil a 20 mil nascidos vivos ao redor do mundo.

Fotografe seu filho com flash

Desde 2001, a Tucca - Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer promove o diagnóstico precoce do retinoblastoma quando lançou a campanha Fotografe Seu Filho com Flash. Isso porque um dos sinais da doença é uma mancha esbranquiçada na pupila, chamada de leucocoria. Muitas vezes, ela só é notada sob luz artificial quando a pupila está dilatada ou quando o flash bate sobre os olhos. Normalmente, o flash faz um reflexo avermelhado nos olhos.

Clarissa cita que há, inclusive, um aplicativo que mapeia as fotos armazenadas no celular e mostra se há alguma com indício do tumor. O Cradle White Eye Detector foi desenvolvido por um estudioso norte-americano pai de uma criança com a doença. "Acho que esse é o futuro do diagnóstico", diz a especialista. Outro sinal do retinoblastoma, segundo ela, é o estrabismo.

Atualmente, esse câncer ocular pode ser diagnosticado pelo teste do olhinho, que precisa ser feito assim que o bebê nasce, ou nos exames de fundo de olho, em que a pupila é dilatada e o médico usa um feixe de luz para verificar a cor do reflexo.

Consequências do retinoblastoma

Os exames preventivos são necessários porque a detectação tardia do tumor pode levar ao agravamento da doença. Em alguns casos, é preciso retirar o globo ocular e a enfermidade pode levar à morte se as células cancerígenas se espalharem para fora do olho e atingirem o sistema nervoso central.

Clarissa afirma que a chance de cura quando a doença ainda é intraocular é acima de 80%. Em caso de metástase, as chances são menores que 10%, ainda mais considerando que os tratamentos mais tradicionais costumam ser agressivos, com longo período de quimio e radioterapia.

Tratamento para retinoblastoma

O tipo de tratamento depende do nível da doença. Há possibilidade de quimioterapia por via venosa, radioterapia ou, em casos graves, transplante de medula óssea. Existem também medidas que são utilizadas diretamente no olho, como o laser, a crioterapia e, mais avançado, a quimioterapia intra-arterial.

Sidnei Epelman, diretor do Serviço de Oncologia Pediátrica e presidente da Tucca, diz que esse último método é extremamente delicado e trabalhoso, mas muito mais eficaz e com melhor resultado quando comparado com os tratamentos convencionais. Por meio de um cateter, a dose de quimioterapia é aplicada na artéria oftálmica. "Dessa forma, você tem condição de infundir muito menos quantidade de quimioterapia e, consequentemente, com menos efeitos colaterais", explica.

O médico destaca outros benefícios do tratamento. "O que mais chama atenção é um resultado mais positivo do ponto de vista de diminuição do tumor. Com esse procedimento, conseguimos com muito mais frequência preservar o olho das crianças e, algumas vezes, inclusive a visão", destaca.

O tratamento, porém, não é indicado para todo tipo de retinoblastoma. Tudo vai depender do tamanho do tumor e se há ou não disseminação para fora do olho. Outros critérios são avaliados individualmente. "Aqueles mais precoces podem ser resolvidos com outros tipos de tratamento, que não necessariamente necessitem do intra-arterial", diz Epelman.

O especialista diz que a Tucca recebe pacientes de todo o Brasil e realiza a terapia intra-arterial há cinco anos. O presidente diz que a maioria da rede pública de saúde não oferece o tratamento, que requer uma equipe multidisciplinar composta por oncologista pediátrico, neurorradiologista intervencionista, oftalmologista e anestesista semanal.

No Hospital Santa Marcelina, localizado na zona leste de São Paulo, o Centro de Atenção Integral à criança com retinoblastoma é mantido em parceria com o Tucca e oferece o tratamento de forma gratuita. "Sem dúvida, é um tratamento importante que só pode ser feito com uma indicação médica precisa. Não é um tratamento que pode ser feito de maneira despreparada e sem a correta avaliação. Muitos outros centros de oncologia pediátrica estão tentando iniciar, mas é algo que precisa de tempo e experiência", diz Epelman.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade