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Pelo SUS, centro de reabilitação de São Luís foca tratamento intensivo

Usando preceitos da análise do comportamento aplicada, serviço atende 70 crianças com profissionais de diversas especialidades

23 set 2018 - 07h11
(atualizado às 12h14)
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Desde abril do ano passado, São Luís, capital do Maranhão, virou um ponto fora da curva no cenário de atendimento a crianças autistas pelo SUS. Na altura do número 70 na rua Domingos Rodrigues, próximo ao mar, está localizado o Centro Especializado em Reabilitação (CER) Olho D'água, que oferece rotina intensiva de terapias para crianças autistas com foco na análise comportamental aplicada (ABA).

O centro tem capacidade para atender até 70 pacientes com TEA, que são submetidos a sete horas e meia de intervenção por semana, pouco mais de uma hora por dia, com uma equipe de profissionais que inclui psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos, educadores físicos e terapeutas ocupacionais.

Ao ingressar no serviço, o paciente é submetido a uma avaliação inicial na qual são propostos objetivos de desenvolvimento de habilidades, que são mensurados regularmente. Na falta de um protocolo nacional para atendimento a pessoas com TEA, o equipamento utiliza um protocolo importado dos Estados Unidos, que é traduzido e disponibilizado pelo Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA).

"O foco é uma intervenção intensiva, individualizada e multiprofissional, e nós fazemos registros de análise comportamental, criamos gráficos de desempenho. Assim, conseguimos medir semanalmente como está o desenvolvimento daquele paciente com base no programa que a gente propôs e mensurar se essa intervenção está funcionando ou não. É uma terapia baseada em evidência, e isso não é muito comum na rede pública", explica Flávia Neves Bacelar, mestre e doutora em teoria do comportamento e coordenadora do centro de reabilitação.

A coordenadora conta que o objetivo, no longo prazo, é realizar e publicar pesquisas científicas para aferir os resultados obtidos pelo centro. Como são realizadas avaliações periódicas, se os objetivos propostos inicialmente para um paciente foram cumpridos, ele pode ter alta e ser transferido para modalidades menos intensivas. "Semestralmente, a gente avalia e vê se há outros pontos a serem trabalhados. Já teve paciente que a gente observou que a partir de certo momento precisava de atendimento menos intensivo e apenas com terapeuta ocupacional, outros precisam focar em fonoaudiologia, então a gente encaminha", explica Flávia.

"O que já podemos notar a partir dos nossos protocolos é que muitos pacientes que entraram com comportamentos problemáticos e autolesivos, que tinham baixa colaboração, que não conseguiam ouvir instruções ou não atendiam ao próprio nome, alguns deles já permanecem sentados durante toda a uma hora e meia de sessão, por exemplo", diz. "O grande segredo é o caráter intensivo, essa rotina é melhor para os pacientes".

O serviço atende crianças de até 12 anos, mas não há um piso - atualmente, o paciente mais novo tem um ano e oito meses - e há planos de criar novos centros para adolescentes adultos, a depender dos resultados. É consenso entre os profissionais que atuam com autistas, porém, que as intervenções comecem o mais cedo possível.

"A gente chama de projeto piloto, estamos iniciando a proposta e aprendendo com nossa própria experiência, ajustando os nossos protocolos para acertar o máximo possível", comenta a coordenadora, que acredita que a expansão de serviços desse tipo só vai ocorrer com maiores investimentos na especialização de profissionais. Ainda são poucas as instituições públicas e privadas de ensino superior que oferecem cursos de extensão e mestrados e doutoradas na área de análise do comportamento - felizmente, a demanda está cada vez maior e essa realidade está mudando aos poucos.

Na rede pública de saúde em todo o País, pessoas com autismo são atendidas na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), como mandam as diretrizes do Ministério da Saúde. Essa rede inclui equipamentos diversos, como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e também os Centros Especializados em Reabilitação (CER). Entretanto, nem todas os municípios contam com serviços desse tipo, então muitos pacientes acabam se submetendo a atendimentos pouco especializados em Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

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Estadão
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