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Engordar e emagrecer repentinamente pode causar problemas cardíacos e diabete

Chamado 'efeito-sanfona' pode ter explicações biológicas, genéticas, hormonais ou emocionais

4 mar 2019 - 12h10
(atualizado em 6/3/2019 às 11h16)
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Você começa o ano engajado e motivado para mudar o estilo de vida. Emagrecer é um dos principais itens da sua lista de objetivos para 2019. Então, se matricula na academia e inicia uma dieta rigorosa, pouco calórica, com diminuição do consumo de gordura, carboidrato e açúcares. A ideia é chegar rápido no peso ideal.

No entanto, após um curto espaço de tempo, vai fazendo pequenas concessões alimentares em festinhas, deixa de fazer exercícios físicos com tanta regularidade e, quando vê, recupera o peso que perdeu inicialmente. E essa situação pode se tornar realmente um problema quando percebe que todo ano é assim. Esse 'engordar rápido e emagrecer' é chamado de efeito-sanfona.

"Esse é um desafio que enfrentamos todos os dias no acompanhamento dos pacientes. O reganho de peso tem grande variação individual. Segundo estimativas, a cada ano, 42% da população mundial tenta perder peso. Mesmo que a perda inicial seja bem-sucedida, muitas pessoas recuperam o peso com o tempo e apenas uma pequena parte será capaz de manter o padrão nos próximos anos", explica a endocrinologista Lívia Marcela, mestre em Endocrinologia pela Unifesp.

Uma meta-análise nos Estados Unidos, que faz a avaliação de 29 estudos de dietas hipocalóricas aplicadas com ou sem exercícios com seguimento em um prazo de dois anos, mostrou que, em média, mais da metade do peso perdido é recuperado em 24 meses. Até pacientes que recorrem à cirurgia bariátrica podem ter o reganho de peso.

Mas, por que algumas pessoas não conseguem manter o peso perdido com saúde?

"Muitos fatores estão envolvidos: biológicos, incluindo genética, questões hormonais, histórico de expansão do tecido adiposo ao longo da vida, fatores ambientais, gastrointestinais, comportamentais e até socioeconômicos", enfatiza Lívia Marcela.

O cardiologista Guilherme Renke, que também é endocrinologista, chama atenção para outras consequências do efeito sanfona, como problemas cardiovasculares. "Com as repetidas perdas ocorre déficit progressivo da massa muscular e aumento da massa de gordura corporal causando o que chamamos de alteração do 'set-point' metabólico. A partir desse momento, a taxa metabólica cai de forma importante e diversos hormônios produzidos pela gordura corporal tornam-se prevalentes como o TNF e citocinas inflamatórias que geram uma inflamação crônica global e aumentam o risco de lesões vasculares", avalia.

Como evitar o efeito sanfona?

Quando diminuímos o peso só com dieta, sem exercício físico, perdemos massa gorda e magra. "Esse ponto de perder massa magra já não é tão bom. A medida que perdemos músculo, nosso gasto calórico basal diminui e fica mais fácil ganhar novamente o peso", esclarece a endocrinologista Lívia Marcela.

Na opinião do cardiologista Guilherme Renke, o ideal é encarar a mudança de vida com um profissional e com uma alimentação saudável: "Óbvio que cada indivíduo tem uma necessidade diferente, por isso, jamais siga uma dieta da moda padrão, pois a chance de errar é enorme. Manter hábitos saudáveis pelo menos em 80% da sua semana e praticar exercícios regularmente são grandes aliados na prevenção das doenças cardiovasculares".

Sobre a frequência na academia de ginástica, aquela que estava mais intensa no começo do ano, mas que já está diminuindo, a endocrinologista Lívia Marcela faz um alerta: "Às vezes você nem desistiu com todas as letras da academia. Está pagando, mas indo muito pouco. A pior notícia é que, quanto mais vezes fazemos a famosa 'sanfona,' mais difícil fica para emagrecer. Quando recuperamos peso, normalmente o porcentual de massa gorda que volta é maior que o de massa magra. Isso faz com que cada vez o nosso gasto metabólico fique menor".

Estadão
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