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Consumo de bebidas açucaradas no Chile diminui após tributação e regulação da publicidade

Pesquisa revela que chilenos estão comprando menos refrigerantes e sucos industrializados

14 fev 2020 - 12h46
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Em outubro de 2014, o governo do Chile decidiu aumentar em 5% o imposto sobre bebidas com alto teor de açúcar. O consumo dos produtos teve redução de 3,4%. Na época, 52% dos adultos e 34% das crianças com menos de seis anos estavam com sobrepeso ou obesas.

Dois anos depois, o país implementou a Lei de Rotulagem e Propaganda de Alimentos, que determinou o uso de selos de alerta nos rótulos frontais de alimentos com alto teor de açúcar, sal ou gorduras saturadas, restringiu a publicidade desses alimentos direcionada às crianças e proibiu sua venda em escolas e no comércio próximo.

Agora, quase seis anos após o início da implementação do pacote de políticas públicas, os chilenos estão comprando menos produtos com grande quantidade de açúcar.

Esse é o resultado de um estudo que reuniu cientistas do Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos da Universidade do Chile, da Universidade da Carolina do Norte (EUA) e do Instituto Nacional de Saúde Pública do México. Os dados foram publicados na revista científica internacional Plos Medicine.

A pesquisa mostra que o consumo de bebidas açucaradas por domicílio caiu 23,7% comparada à tendência observada no período antes da regulamentação, o que representa uma redução de 22,8 ml por pessoa diariamente.

A maior queda na compra domiciliar foi de sucos de fruta açucarados, com 42% de redução, seguida pela compra de bebidas lácteas. A pesquisa analisou dados de consumo de mais de 2.300 casas em áreas urbanas no Chile e comparou os hábitos de compra antes e depois da implementação do pacote de políticas contra a obesidade.

No Brasil, rotulagem de alimentos é estudada

No Brasil, a taxa de obesidade passou de 11,8% para 19,8%, entre 2006 e 2018. Os dados são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2018), divulgada em julho de 2019 pelo Ministério da Saúde.

"O Chile é um pioneiro em medidas regulatórias para diminuir a obesidade e o sobrepeso e as evidências apresentadas mostram que o modelo aprovado lá, e proposto aqui no Brasil, é o mais eficaz para proteger a saúde da população", afirma Paula Johns, diretora geral da ACT Promoção da Saúde. A ACT participa da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, movimento que reúne organizações da sociedade civil, e que pretende proibir a publicidade dirigida ao público infantil e a restrição da publicidade de alimentos ultraprocessados.

A rotulagem de alimentos está sendo estudada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em dezembro, o órgão concluiu a primeira etapa de uma consulta pública sobre o novo modelo de alerta nos rótulos de alimentos com açúcar, sal e gordura em excesso. A ação recebeu mais de 23 mil contribuições.

O modelo de rotulagem proposto pela Anvisa, em formato de lupa, não possui evidências científicas que comprovem sua eficácia e é diferente do modelo chileno, que consiste em selos individuais para cada uma das substâncias em excesso.

"As pesquisas comprovam que as políticas chilenas de prevenção da obesidade estão no caminho certo. O Brasil precisa avançar na mesma linha, com a aprovação do modelo de rotulagem frontal de advertências. Para começar, esperamos que a Anvisa aprove o mais rápido possível o modelo de triângulos, que é o mais embasado em evidências científicas", explica a coordenadora do Programa de Alimentos do Idec, Ana Paula Bortoletto. O Instituto também faz parte da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável.

Influência da exposição das crianças ao consumo de açúcar

Outras duas pesquisas recém-publicadas sobre o Chile mostram também os impactos positivos da Lei de Rotulagem e Publicidade na saúde das crianças. Um desses estudos, publicado na revista Public Health Nutrition, analisou táticas de marketing dirigido às crianças e comparou a publicidade de alimentos com alto teor de açúcar, sal e gordura antes e depois da nova lei.

A exposição aos anúncios destes produtos teve queda de 44% entre as crianças na primeira infância e queda de 58% entre adolescentes após a nova lei. E a exposição das crianças a embalagens com personagens infantis também caiu 35% na faixa etária até seis anos e 52% entre adolescentes.

A outra pesquisa analisou as embalagens de cereais matinais que usam táticas para direcionar seus produtos às crianças. O estudo, publicado na International Journal of Environmental Research and Public Health, mostrou que a porcentagem de embalagens de cereais com alto teor de açúcar que usavam imagens apelativas para o público infantil (como crianças, desenhos animados e super-heróis, por exemplo) caiu de 36% antes da lei para 15% após sua implementação.

Estadão
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