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Bebida quente aumenta risco de câncer de esôfago; veja outros fatores

Estudo determinou que chás a uma temperatura de 60ºC elevam em 90% as chances de desenvolver a doença

21 mai 2019 - 07h13
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Nada melhor do que um bom chá, chocolate ou cafezinho quente em um dia frio. A sensação de aconchego é imediata e os sabores trazem um fio de alegria para quem não gosta do clima. Mas, apesar do prazer, é preciso ficar atento à temperatura da bebida, pois o consumo constante dos líquidos quentes pode elevar o risco de desenvolver câncer de esôfago.

A informação parece alarmante, mas não há motivo para grandes preocupações se a moderação e o bom senso nortearem esse caminho. A relação entre bebida quente e a doença já era conhecida pelos especialistas, mas, pela primeira vez, uma investigação analisou de forma objetiva a temperatura.

Segundo um estudo publicado em março no International Journal of Cancer, beber 700 mililitros de chá quente por dia, a uma temperatura igual ou superior a 60ºC, aumenta em cerca de 90% o risco de câncer de esôfago.

Mais de 50 mil pessoas do nordeste do Irã, entre 40 e 75 anos de idade, participaram do estudo. Elas foram acompanhadas por uma média de dez anos e, entre 2004 e 2017, foram identificados 317 novos casos de câncer esofágico. Todos foram associados à preferência por chá muito quente e menor tempo de espera para a bebida esfriar.

"Sabemos que o câncer de esôfago no Brasil é aumentado nos Estados do sul, muito provavelmente pela ingestão do chimarrão quente", diz Raphael Araujo, cirurgião oncológico do aparelho digestivo e professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele explica que, ao passar pela boca e esôfago, a temperatura da bebida tende a diminuir, mas ainda assim há um risco.

"Isso leva a uma lesão do tecido de revestimento interno do esôfago, a mucosa. Com essa lesão, o órgão fica mais facilmente exposto a novos agentes carcinogênicos porque perde a barreira natural de proteção", explica o médico. O resultado é semelhante à ingestão crônica de bebida alcoólica, um dos principais fatores para o câncer esofágico.

O epidemiologista de câncer Farhad Islami, um dos autores do estudo, disse que o risco da doença aumentou consistentemente conforme a temperatura. Ele destaca que a investigação focou em pessoas que consumiam grandes quantidades de chá e muito quentes. "Mais estudos são necessários para avaliar os efeitos de quantidades menores de chá a altas temperaturas", falou ao E+.

Com base nos resultados, o pesquisador recomenda que as pessoas consumam a bebida a uma temperatura menor que 60ºC. Porém, dificilmente alguém terá um termômetro sempre à mão para fazer essa medição. Como saber quando é o momento certo para beber o chá?

Islami avalia que isso depende de muitos fatores, como o tipo e o tamanho da xícara em que a bebida é servida, o uso de tampas e a temperatura ambiente. "Em nosso estudo, o risco não pareceu aumentar com uma duração de cinco minutos ou mais entre o chá ser servido e bebido", afirma.

Fatores de risco para o câncer de esôfago

Araujo afirma que o tabagismo e o alcoolismo são as causas mais comuns da doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, foram registrados 10.790 novos casos de câncer de esôfago em 2018 e, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer, foram contabilizadas 8.338 mortes em 2016, dado mais recente. A enfermidade é dividida em dois tipos: carcinoma espinocelular, alvo do estudo de Islami, e adenocarcinoma.

Segundo o pesquisador, o primeiro tipo, também conhecido como carcinoma de células escamosas, constitui entre 85% e 90% de todos os casos de câncer de esôfago no mundo. Além do cigarro, álcool e bebidas quentes, outro fator de risco é a baixa ingestão de frutas e vegetais. Já o segundo tipo ocorre mais devido ao fumo e refluxo gástrico associado ao excesso de peso.

Sintomas do câncer de esôfago

O cirurgião oncológico afirma que, quando começa, a doença não apresenta sintomas. A pessoa só percebe que algo está diferente a partir do momento que tem dificuldade e dor para ingerir e perda de peso. Isso ocorre porque o tumor cresce voltado para a parte de dentro do esôfago, estreitando a passagem do alimento.

Mas nem sempre esses sintomas podem ser sinônimo de câncer. Por isso, ao primeiro sinal, é recomendado ir ao médico especialista para uma investigação detalhada. A doença do refluxo gastroesofágico também pode causar dor e queimação.

Para determinar do que se trata, o exame mais prático e objetivo é a endoscopia digestiva. Caso seja encontrada alguma elevação na parede interna do esôfago, uma amostra é recolhida para biópsia. Se o diagnóstico for de câncer do esôfago, que tem cura, planeja-se o tratamento.

Tratamento para câncer de esôfago

Quanto mais cedo a doença for diagnosticada, melhor, ainda mais porque ela apresenta risco de metástase (ir para outros órgãos). A indicação de tratamento depende do estado clínico da pessoa e do estágio do tumor, diz Araujo.

Para casos iniciais, em que apenas a mucosa do esôfago é afetada, uma ressecção por endoscopia pode ser indicada. Nesse método, há preservação do órgão. Em níveis mais avançados, só cirurgia ou cirurgia precedida por quimio e radioterapia resolvem o caso.

Em relação à intervenção cirúrgica, o esôfago é retirado quase totalmente, restando apenas um pedaço cervical para ligar com o estômago. O pós-operatório, segundo o médico, é tranquilo e as recomendações incluem moderar o consumo de calorias e de refeições diárias. "A pessoa deixa de fazer três grandes refeições por dia e passa para seis em menores quantidades. Com possibilidade de refluxo, ela não pode, por exemplo, deitar logo após comer. Fora isso, leva uma vida normal", diz Araujo.

Estadão
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