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Aumento nos casos de AVC durante o inverno exige maior atenção

Além dos cuidados, buscar ajuda médica imediata é essencial para evitar sequelas ou até mesmo a morte

14 jul 2020 - 10h12
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O inverno é um período tradicionalmente associado a um aumento de doenças respiratórias, mas as baixas temperaturas também geram outros riscos para a saúde, e um deles é uma chance maior de ocorrência do acidente vascular cerebral (AVC). Esse cenário demanda alguns cuidados de grupos tradicionalmente mais vulneráveis ao chamado derrame cerebral, e uma atenção redobrada ao surgimento dos sintomas.

O AVC é caracterizado como uma alteração no fluxo de sangue na região do cérebro, e é dividido em dois tipos: o isquêmico, quando há uma obstrução em um vaso sanguíneo e uma ausência de sangue no cérebro, e o hemorrágico, quando ocorre um rompimento de um vaso, com transbordamento de sangue. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2017, é a segunda principal causa de morte no Brasil.

Ana Paula explica que a maior probabilidade de ocorrência de AVC no inverno está ligada a uma tentativa do corpo de manter uma temperatura corporal alta para lidar com o frio. Para isso, organismo libera algumas substâncias, como as catecolaminas, que têm a função de comprimir o vaso sanguíneo.

"Quando você reduz o calibre [do vaso], aumenta a pressão arterial, e isso favorece o aparecimento de AVC", explica a neurologista. Outro mecanismo de aquecimento inclui uma mudança na composição do sangue, que fica mais grosso e viscoso. Essas características facilitam a formação de coágulos, que servem como barreiras e entopem o vaso sanguíneo.

A neurologista Ana Paula Peña Dias ressalta que, no geral, os idosos compõem o grupo mais vulnerável ao AVC, e portanto devem estar mais atentos. No entanto, a médica destaca que existem cuidados simples que reduzem a chance de ocorrência do acidente para qualquer pessoa.

É comum no inverno que as pessoas sintam menos sede, por exemplo, mas a diminuição da quantidade de água no corpo torna o sangue mais grosso, facilitando a coagulação e o AVC. Assim, é importante aumentar a ingestão diária de líquidos.

Outro fator que o frio traz é uma maior tendência a sentir uma certa preguiça, geralmente acompanhada de uma redução da prática de exercícios físicos. Mas isso não faz bem para o corpo. "É importante lembrar que a atividade física protege o corpo de todos os fenômenos cardiovasculares, inclusive o AVC", alerta Ana Paula.

É importante também se atentar à alimentação, e evitar um consumo exagerado de alimentos mais gordurosos. Outra ação simples que ajuda a reduzir o risco de AVC é se manter bem agasalhado e com cobertores. A lógica, nesse caso, é simples: quanto mais aquecido, menos o corpo precisa trabalhar para manter a temperatura do corpo.

Importância do atendimento rápido

Além dos cuidados preventivos, é importante que as pessoas prestem atenção aos sintomas do AVC: dificuldade para falar (seja encontrar palavras ou articulá-las na boca), falta de força em braços e pernas, desvio do lábio (boca torta em um dos lados), dificuldade para andar, desequilíbrio, alteração na visão.

A neurologista destaca que os sintomas do AVC surgem de forma súbita, ou seja, se você identificou um deles mas os sente há alguns meses, o mais provável é que não seja um AVC. Mas, caso qualquer um deles apareça de forma súbita, é necessário ir imediatamente para o hospital.

Um atendimento rápido diminui em muito as chances de sequelas ou morte. "As sequelas variam muito da localização do AVC e do tamanho dele, e principalmente pelo tempo que demorou para a pessoa ser socorrida. Vai dos pacientes que ficam sem nenhuma sequela até o paciente que fica acamado e precisa de cuidador 24 horas. A gente tem uma ampla gama de possibilidades de sequela".

Hoje em dia os hospitais já possuem procedimentos e medicamentos específicos para quem sofreu um AVC, aumentando as chances de recuperação se o atendimento ocorrer dentro de quatro horas e meia após o surgimento dos sintomas. A pandemia do novo coronavírus trouxe, porém, um novo problema: muitas pessoas estão com medo de ir para o hospital pois acham que irão contrair a covid-19.

"Isso é um fenômeno mundial, a OMS mostrou redução de mais de 50% das pessoas que dão entrada em serviço de emergência com AVC", alerta Ana Paula. O medo, porém, acaba sendo infundado, já que os hospitais têm tomado cuidados para garantir a proteção dos pacientes. O medo de ir para o hospital e suas consequências já trouxe reflexos no Brasil: entre fevereiro e abril de 2020 houve um aumento de 14% nas mortes em casa em todo o País.

A importância da ida ao hospital é tão importante que levou à criação da campanha #AVCNÃOFIQUEEMCASA, alertando para os riscos da falta do atendimento do AVC e explicando os seus sintomas.

"As pessoas têm que ficar absolutamente tranquilas. Se tem um lugar para estar protegido [do novo coronavírus] é dentro do hospital. Tanto os públicos quanto os privados estão preparados para atender quem está com suspeita de covid-19 e quem não está", explica Ana Paula.

A neurologista destaca que os hospitais no geral têm realizado uma separação física dos pacientes com e sem covid-19, e toda a equipe profissional usam equipamentos de proteção individual (EPIs), que são descartados após cada atendimento e impedem a contaminação.

Assim, é muito importantes que as pessoas não tenham medo e se dirijam para um hospital assim que um dos sintomas do AVC for sentido. "Não pode esperar para ver se vai passar", alerta a neurologista.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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