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Atendimento a casos de enfarte reduz 70% e cardiologistas reforçam a importância de ir ao hospital

Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) criou uma campanha para alertar que ao sentir sintomas é necessário procurar atendimento, mesmo em meio à pandemia de coronavírus

7 mai 2020 - 16h50
(atualizado às 17h56)
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Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) apontou que houve uma redução de 70% nos atendimentos de enfarte no País no mês de abril de 2020 em relação a abril de 2019. E, segundo o presidente da associação, uma possível causa é o medo das pessoas de ir para o hospital em meio à pandemia do novo coronavírus.

"Uma análise inicial em nosso registro de dados já identificou uma redução significativa nos procedimentos de angioplastia primária no período de quarentena em comparação com o mesmo período do ano anterior", destaca Ricardo Costa, presidente da SBHCI.

Foi pensando nisso que a organização criou a campanha de conscientização O enfarte não respeita quarentena, para incentivar que as pessoas procurem atendimento médico ao sentir sintomas de enfarte.

Para o médico, a principal hipótese por trás dessa queda é que as pessoas estão com receio de ir para um hospital mesmo com sintomas e sinais de enfarte e possivelmente contrair o novo coronavírus enquanto estão sendo atendidas, ou expor familiares para o risco de contágio. "Este é um fenômeno que já foi reportado em outros países que estão sofrendo com a pandemia, e pode ter como consequência o aumento de mortes por enfarte", comenta Costa.

Ele observa, porém, que não há necessidade de ter esse medo, já que os hospitais têm se preparado para atender e separar pessoas com doenças cardiovasculares: "Sabemos que muitos hospitais têm desenvolvidos protocolos de atendimento com triagem inicial onde já é possível identificar pacientes com quadros suspeitos de problemas cardiológicos agudos".

Outro ponto que Costa levanta é que, sem atendimento médico, o enfarte pode levar à morte. "Apesar dos riscos da infecção e do desenvolvimento da doença covid-19, os riscos de morrer em decorrência de um enfarte não tratado ou não tratado a tempo são muito maiores. O enfarte e as doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil e no mundo. É importante estar alerta. O enfarte não respeita quarentena", enfatiza o médico.

Assim, as pessoas devem ficar atentas aos principais sinais de um enfarte: dor no peito, geralmente como um tipo de queimação ou aperto que pode se alastrar para os braços, ombro, pescoço, queixo e costas, além de mal estar, suor excessivo, sensação de cansaço, fraqueza, falta de ar, náuseas e vômitos. Caso esses sintomas sejam detectados, deve-se procurar atendimento médico imediatamente.

"Não podemos ser negligentes com nossa saúde"

Anna Paula Graboski Correia Lima, de 31 anos, perdeu o pai, Miguel da Rocha Correia Lima, no dia 29 de abril. Miguel morreu devido a um enfarte, aos 55 anos de idade. A filha relata que ele chegou a ser atendido por profissionais de saúde após desmaiar em casa, enviado ao hospital e passou por um procedimento cirúrgico de urgência, mas não foi suficiente.

"Analisando com minha família como foram as horas e dia anterior, percebemos que ele teve dores no peito dezoito horas antes do desmaio, e achou que não era sério e que não valeria o risco de ir ao hospital devido a pandemia", relata Anna Paula.

Como Ricardo Costa destacou, o atendimento rápido após sentir os sintomas do enfarte é essencial para aumentar as chances de sobrevivência do paciente, o que não ocorreu neste caso pelo medo de ir ao hospital. "O covid-19 mata, mas as outras doenças também. Não podemos ser negligentes com nossa saúde", alerta a filha.

Tiago Cação Martinelli, de 43 anos, passou por uma situação semelhante. Sua mãe, Beatriz Cação Martinelli, morreu em 1º de abril, aos 73 anos, vítima de um enfarte. Beatriz chegou a ter uma parada respiratória dentro da ambulância enquanto era levada para o hospital. "Ela passou pelos procedimentos, foi super bem atendida e assistida, mas infelizmente veio a falecer", relata Tiago.

Ele observa que a alteração de rotina, com a necessidade de isolamento e o afastamento do resto da família, além de todos os cuidados para evitar a contaminação do novo coronavírus, acabaram estressando a mãe.

"Acredito que em função de querer preservar os filhos e a família e não se expor à questão da covid-19, ela não tenha dito que estava com uma dor mais intensa, pois assim levaríamos ela para a emergência com certeza", comenta Tiago. "Não tenham medo de ir à emergência. Se sentir algum sintoma, avise seu filho, marido, familiares, amigos, não esconda os sintomas, ou se automedique. Mãe e pai sempre querem preservar a família, mas nessas horas é preciso preservar a vida", conclui ele.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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