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Alunos que moram na USP temem avanço do coronavírus por falta de estrutura e condições de higiene

Sem internet, também dizem não saber como continuarão a assistir às aulas e a fazer provas

28 mar 2020 - 21h41
(atualizado em 28/7/2020 às 02h02)
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Enquanto o novo coronavírus avança no País, com 114 mortos e mais de 3,9 mil casos confirmados, alunos que moram no conjunto residencial da Universidade de São Paulo (Crusp), no câmpus Butantã, zona oeste da capital paulista, relatam falta de estrutura e de condições de higiene para enfrentar a pandemia, e dizem temer pela própria saúde. Por falta de internet, também dizem não saber como continuarão a assistir às aulas e a fazer provas, que passaram a ser online.

"Nas cozinhas, não tem pia que funcione. Não tem nem fogão nem onde lavar roupa. Na semana em que tivemos o primeiro caso de coronavírus confirmado na USP (em 11 de março, um aluno da Geografia), um dos blocos ficou sem água por seis dias", relata a estudante de pedagogia e moradora do conjunto Carina Matheus, que se identifica como Cacau.

Segundo o estudante de meteorologia Welton Silva, os problemas são de longa data, mas vieram à tona com o surto da covid-19. "Com o avanço da pandemia, o que preocupa é sobretudo a questão da saúde. Se tivermos algum caso da doença aqui, acho que a coisa sai do controle", diz Silva.

Ao passo que a estrutura preocupa os alunos pela possibilidade de alastramento do novo coronavírus, a falta de internet nas residências dificulta que eles continuem estudando. "Parei de acompanhar as aulas porque, para isso, tenho de usar dados móveis, o que acaba consumindo muito", diz o aluno de ciências sociais Friedrich Wendell, de 19 anos. "Só semana passada foram R$ 40, e isso porque só tive uma aula e uma monitoria."

Para buscar apoio, no dia 20 de março os moradores do conjunto protocolaram uma carta na reitoria. "Hoje, não temos a devida infraestrutura básica para viver, sobretudo nesse quadro de isolamento e quarentena no Crusp", escreveram. Os estudantes também se reuniram com a Superintendência de Assistência Social (SAS) da universidade na semana passada, quando foram prometidas a reforma emergencial das cozinhas e a instalação de dispositivos de álcool em gel.

USP admite necessidade de reparos

Procurada, a USP mostrou, por meio de sua assessoria de imprensa, documento enviado aos alunos, onde admite a necessidade de manutenção do conjunto. "As cozinhas coletivas do Crusp necessitam de manutenção para funcionar. É triste dizer, mas o estado precário das cozinhas se deve, na origem, ao mau uso, à falta de limpeza pelos usuários, ao roubo de peças, tais como torneiras e queimadores do fogão", informa o texto.

A instituição também afirmou ter instalado dispensadores de álcool em gel em locais estratégicos do Crusp e fornecido materiais de limpeza a todos os apartamentos, além de ter colocado à disposição a estrutura de três institutos onde os alunos poderiam usar internet, sendo eles os institutos de física, o de astronomia, geofísica e ciências atmosféricas e o de geociências.

Para o aluno de química Samuel Feitosa Vanique, as medidas ainda não dão conta das necessidades dos alunos. "A USP havia disponibilizado três institutos, mas um deles já cancelou, no outro você tem de marcar com 36 horas de antecedência e só pode ficar até as 16 horas, e o terceiro, onde só podemos ficar até as 18 horas, é a céu aberto", afirma Vanique, que tem monitorias online às 18h30.

Já o estudante de odontologia Gustavo Raime, de 23 anos, diz ao Estado que foram instalados menos dispositivos de álcool em gel do que o prometido, e que "não há nem esboço" de manutenção da estrutura do prédio. "A situação é insalubre. Temo pela vida dos estudantes daqui", diz. Segundo ele, que vem de São Bernardo do Campo, muita gente do Crusp não conseguiu voltar para suas cidades de origem para passar a quarentena, tanto por falta de condições materiais quanto para evitar contato e resguardar a saúde dos parentes mais velhos. "Longe de casa, acabamos fazendo uma nova família, que são nossos colegas. Temos de cumprir a quarentena aqui, porque esse é o nosso lugar agora."

Estadão
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