Qual o segredo do cérebro dos 'superidosos'? Veja o que diz a ciência
A principal descoberta é que os cérebros deles apresentam menos atrofia (encolhimento) do que o normal para a idade
Um grupo de cientistas tem dedicado pesquisas a um subgrupo fascinante apelidado de "superidosos". São pessoas com 80 anos ou mais que mantêm uma memória equivalente à de indivíduos 20 a 30 anos mais jovens.
A maior parte dos estudos sobre a terceira idade foca na demência, o lado da aceleração da perda cognitiva. Mas, para Emily Rogalski, professora de Neurologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, é essencial olhar para todo o espectro do envelhecimento. Ela publicou um dos primeiros estudos sobre o tema em 2012.
O que torna o cérebro dos superidosos especial?
Um novo artigo, publicado em abril na revista científica Journal of Neuroscience, trouxe mais luz sobre a singularidade do cérebro desses indivíduos. A principal descoberta é que os cérebros dos "superidosos" apresentam menos atrofia (encolhimento) do que o normal para a idade.
A pesquisa foi conduzida com 119 octogenários na Espanha: 64 "superidosos" e 55 idosos com memória típica para a faixa etária. Os participantes passaram por testes de memória, habilidades motoras e verbais, além de exames cerebrais e análise do estilo de vida.
Os cientistas notaram que os "superidosos" tinham volumes superiores em áreas cruciais para a memória, como o hipocampo e o córtex entorrinal. Eles também apresentavam maior conectividade entre as regiões frontais do cérebro envolvidas na cognição.
Bryan Strange, professor de Neurociência Clínica da Universidade Politécnica de Madri, na Espanha, e líder do estudo, explicou que ambos os grupos tinham sinais mínimos do Alzheimer:
"Ao termos dois grupos com baixos níveis de marcadores de Alzheimer, mas com diferenças cognitivas e cerebrais marcantes, estamos realmente falando de uma resistência ao declínio relacionado à idade," afirmou.
Esses achados corroboram a pesquisa inicial de Rogalski, que já havia mostrado que o cérebro dos "superidosos" se assemelhava mais ao de pessoas de 50 ou 60 anos, e se atrofiava em um ritmo mais lento ao longo dos anos.
O que há de comum neste público tão peculiar?
Embora sejam "relativamente raros" (representando bem menos de 10% da população que Rogalski atende), os reconhecemos facilmente os "superidosos" por sua energia. Haja pique! Strange os descreve como "pessoas realmente muito enérgicas, você consegue ver. Indivíduos idosos, mas motivados e com muita disposição."
Os especialistas ainda não têm uma receita para alcançar essa longevidade cognitiva, mas notaram algumas diferenças de estilo de vida no grupo espanhol:
- Melhor saúde: Os "superidosos" apresentavam melhor saúde mental e física, com melhor controle da pressão arterial, do metabolismo da glicose e desempenho superior em testes de mobilidade.
- Atividades na meia-idade: Eles não eram necessariamente mais ativos na velhice, mas relataram ter sido mais ativos fisicamente durante a meia-idade.
- Conexões sociais: Um fator consistente notado pela pesquisa era que esses indivíduos tendiam a ter relacionamentos sociais sólidos.
No entanto, o mais surpreendente foi a quantidade de semelhanças entre os "superidosos" e os idosos comuns. Não houve diferenças significativas em termos de dieta, quantidade de sono, histórico profissional ou uso de álcool e tabaco, como observou Strange: "Há muitas coisas que não são particularmente impressionantes sobre eles."
Apesar de a busca por um segredo ("comer seis tomates todos os dias") ser tentadora, a cientista Tessa Harrison, colaboradora de Rogalski, acredita que a chave está em "algum tipo de predisposição à sorte ou algum mecanismo de resistência no cérebro em nível molecular que ainda não compreendemos," possivelmente ligada à genética.
Ainda assim, a ciência reafirma que manter uma alimentação saudável, ser fisicamente ativo, dormir bem e cultivar conexões sociais são, de modo geral, hábitos essenciais para um envelhecimento cerebral saudável.