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Papinha ou alimentos em pedaços: qual a melhor receita?

Baby Led Weaning, método que incentiva autonomia do bebê durante as refeições, tem conquistado adeptos na Europa, nos EUA e no Brasil.

14 jun 2017 - 16h53
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Basta um pedaço de cenoura cozida na mão para Stella ficar feliz. Hoje com um ano e meio, ela começou a comer alimentos sólidos com quatro meses. A mãe da menina, Bruna Guerra, conta que optou por esse tipo de alimentação desde o início porque queria que a interação da filha com a comida fosse a melhor possível.

Bebê precisa conseguir ficar sentado sem muito apoio para poder começar a comer alimentos sólidos sozinho
Bebê precisa conseguir ficar sentado sem muito apoio para poder começar a comer alimentos sólidos sozinho
Foto: iStock

"Eu queria que ela explorasse, se aventurasse e gostasse de experimentar coisas novas", diz. Bruna lembra que não se restringiu a um método, fez o que funcionava no caso dela, sempre tentando priorizar que a filha comesse sozinha e pedaços de comida ao invés da papa.

Em todo o mundo, a partir dos seis meses de vida de um bebê, os pais começam a avaliar com qual método de alimentação mais se identificam para complementar o leite materno. Há poucos anos, não se pensava muito sobre o assunto. A papa bem amassadinha era a receita certa. Mas os tempos são outros. Hoje a preocupação com a origem dos alimentos é muito mais presente, e isso se reflete naturalmente na introdução alimentar de uma criança.      

Antes de decidir o que fazer, a mãe de Stella leu muito. Ela estudou diferentes métodos de alimentação para bebês, inclusive o Baby Led Weaning (BLW), que incentiva a autonomia da criança durante as refeições e tem conquistado cada vez mais adeptos na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, também no Brasil. O termo, criado pela britânica Gill Rapley, refere-se a uma alimentação sem o uso de colheres, papinhas ou mingaus – basicamente guiada pelo bebê, com as próprias mãos.

Guiados pelo instinto

As famílias inglesas que adotaram esse tipo de alimentação deixam que a criança decida quando e qual tipo de alimento ela vai querer comer pela primeira vez. Elas acreditam que o bebê saiba instintivamente de quais nutrientes está precisando. Por isso, acaba escolhendo o alimento certo de maneira automática. Quando não quiser mais comer, a criança pode saciar seu restinho de fome com o leite materno. 

Como ainda não existem evidências científicas sobre o impacto na nutrição das crianças que são submetidas a alguns novos métodos, como o Baby Led Weaning, no Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o aleitamento materno de forma exclusiva até os seis meses de vida, devendo  ser complementado, após essa idade, com a introdução de outros alimentos. E reforça: mesmo recebendo outros alimentos, a criança deve continuar mamando no peito até os dois anos ou mais.

No entanto, esse posicionamento do ministério não é definitivo. A assessoria da pasta informou que o Guia Alimentar para menores de dois anos está sendo revisado e que os métodos de introdução alimentar estão sendo amplamente discutidos pelos especialistas envolvidos.

Alimentação balanceada

Na Alemanha, o conceito da introdução de alimentos em pedaços é muito discutido. A Associação de Pediatras do país, por exemplo, desaprova. "É muito importante oferecer uma alimentação balanceada para garantir a saúde da criança", afirma Herrmann Josef Kahl, porta-voz da entidade. "Bebês que se alimentam de pedaços de comidas com as próprias mãos podem perder alguma coisa no caminho. Pode ser que venham a ter uma carência de ferro, por exemplo."

Kahl explica que, pouco depois de a mãe parar de amamentar, a reserva de ferro no organismo do bebê é praticamente zero. "A criança quase não adquire ferro quando apenas chupa um pedaço de carne. Além disso, crianças com dificuldade de coordenação motora acabam em desvantagem. Se ela mal consegue colocar um pedaço de brócolis na boca, vai acabar comendo menos do que precisa para se sentir saciada. Sem falar no perigo de engasgar", alerta o pediatra.    

Já a Associação de Parteiras da Alemanha acredita que, se os pais observarem os sinais atentamente, o risco de a criança engasgar não é maior do que em outros métodos. Para elas, conhecer e experimentar alimentos diferentes é um bom começo para estabelecer a base de uma alimentação saudável.

Condições e benefícios

Entretanto, de acordo com a Associação de Parteiras, é preciso atentar para algumas condições necessárias antes de começar com o Baby Led Weaning: o bebê precisa demonstrar interesse em experimentar alimentos, conduzir a comida à boca sozinho e conseguir ficar sentado sem muito apoio. Em geral, crianças de seis meses de idade já estão prontas para consumir alimentos sólidos.  

Bruna, brasileira que vive na Alemanha há seis anos, relata que a filha comia melhor e com mais variedade do que os bebês da idade dela pouco depois da introdução alimentar.

"A  Stella teve o primeiro dente com um ano de idade, mas muito antes disso já comia carne, frango. Não sei o que ela fazia. Acho que aprendeu a mastigar com a gengiva", diz. "A coordenação motora fina dela é ótima e foi mais avançada que os bebês da mesma idade que comiam papa."

Hoje a mãe de Stella não dá papinha de jeito nenhum. Ela acredita que, depois de completar um ano de idade, o bebê deve comer sozinho a comida da família (se for saudável, lógico). Bruna lembra que o pediatra não foi contra nem a favor. Mas confessa que sentiu que o médico não gostava muito da ideia.

"Ainda assim, ele me deu liberdade de escolher. Só falou que eu deveria ficar atenta, porque, com esse método [Baby Led Weaning], o bebê não ingere tanta comida, tinha que tomar cuidado", conta. "Mas a Stella comia super bem. Acho que muitos pediatras já ouviram falar do método, mas não estudaram profundamente o assunto."

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S.O.S Amamentação:
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