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Sites de relacionamento apostam em cheiro e exame de saliva

Candidatos participam de evento em que cheiram camisetas para testar poder de atração de feromônios

27 mar 2014 - 11h26
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Foto: BBC Mundo

Em um bar no leste de Londres, homens e mulheres se amontoam ao redor de uma mesa repleta de sacos plásticos contendo camisetas. Eles retiram as camisetas dos sacos, aproximam elas do nariz e inalam para sentir o seu cheiro. Esse é o ritual típico de um novo tipo de evento organizado pelo lucrativo mundo das empresas de relacionamento online. 

A ideia é encontrar o par perfeito através do efeito do seu "cheiro", ou melhor, do poder de atração dos feromônios - substâncias químicas que podem ter efeitos sociais ou sexuais em seres humanos, e no mundo animal, em particular, podem gerar reações específicas, além de ter o papel de ajudar na identificação de gênero.

Os participantes do encontro, em busca de um parceiro ou parceira, dormiram com a mesma camiseta por três noites; essas são colocadas em sacos plásticos numerados. 

Pretendentes colocam as camisetas em sacos plásticos numerados
Pretendentes colocam as camisetas em sacos plásticos numerados
Foto: BBC Mundo

Quem gostar do cheiro de uma camiseta pode ter sua foto tirada segurando o saco plástico numerado.

As fotos são então projetadas em uma parede, e o dono da camiseta fica livre para procurar a pessoa segurando seu número.

Quebrando o gelo

Uma das pessoas participando é Claire Selby. Para ela, o cheiro tem um importante papel no poder de atração. "Eu acho que uma vez que você começa a sair com alguém, ou a relação fica mais séria, o perfume natural da pessoa é um dos três fatores mais importantes." "Você não pode sustentar um relacionamento com alguém que cheira muito mal. Não dá!"

Outro participante, Bruno Mayor, diz que a noite providência uma boa maneira de quebrar o gelo, já que todos estão envolvidos no que ele chama de uma "estranha" atividade.

Ele acredita que, para um namoro dar certo, você precisa encontrar pessoalmente o outro para determinar se existe atração, e é nesse quesito que relacionamentos online falham. "Eu diria que a pior coisa sobre sites de relacionamento é quando você passa a olhar para as pessoas como se elas fizessem parte de um catálogo."

"E quando você encontra alguém pessoalmente é diferente, porque você pode conversar com a pessoa e pensar 'Ah, eu gosto desse outro detalhe dessa pessoa'."

<p>Participantes s&atilde;o convidados a cheirar as camisetas para encontrar seu par perfeito</p>
Participantes são convidados a cheirar as camisetas para encontrar seu par perfeito
Foto: BBC Mundo

Questão de química

Para a especialista em relacionamento Christie Hartman, a desvantagem sobre relacionamentos online é a grande expectativa que se cria antes do primeiro encontro. "Normalmente você precisa conhecer alguém um pouco para criar uma 'química'", diz Hartman.

"Você está ali sentando com alguém sobre quem você sabe nada... é difícil criar essa 'química' tão rapidamente."

Para ajudar nesse processo, um estudante de genética da Universidade de Oxford, Laurynas Pliuskys, está usando testes de laboratório. Ele é o criador do site de relacionamento LoveGene, e está usando seu conhecimento para incorporar informações biológicas ao processo dos relacionamentos online.

Ele acredita que fatores biológicos têm um papel importante na atração, compatibilidade e relacionamento. "Quando falamos de química, é sempre uma mistura de várias coisas", ele explica.

"É a conversa que você tem, personalidades que se combinam, e é também a biologia."

Taxa de compatibilidade

O LoveGene usa testes genéticos para mapear e analisar os feromônios de uma pessoa. Como resultado, as pessoas podem marcar encontros com alguém com quem elas provavelmente terão uma boa química.

Quando os usuários se cadastram no site, eles recebem um kit de coleta de saliva, que a empresa então irá testar, procurando por genes relacionados aos feromônios.

Essa informação é usada pela empresa para determinar o quão compatível as pessoas são quando elas clicam nos perfis umas das outras, calculando uma "taxa de compatibilidade". "Com o aumento no número de aplicativos de relacionamento, vemos as pessoas cada vez mais marcando encontros sem saber quem exatamente a outra pessoa é," diz Pliuskys.

"Eles logo percebem, até mesmo nos primeiros segundos em que veem a outra pessoa, que na verdade não é aquilo que estão procurando, porque simplesmente não existe química."

"Com esse serviço, estamos tentando trazer a química de volta para os relacionamentos."

Rituais importantes

No entanto, não importa o quão confiáveis feromônios podem ou não ser para determinar atração e compatibilidade, alguns especialistas em relacionamento alertam sobre os perigos do uso da ciência no jogo de sedução.

A terapeuta Sara Nasserzadeh pensa que depender de fatores biológicos no processo de relacionamento pode alterar significativamente os rituais de flerte, paquera e namoro. Esses rituais são importantes para mostrar a potenciais parceiros nossas habilidades, e permitir que eles nos conheçam e confiem em nós, diz ela.

"Mas se você começa um relacionamento e diz 'Ok, fomos unidos pela química', aquele primeiro passo é ignorado", diz o Nasserzadeh.

Além disso, ela acha que o excesso de confiança na ciência pode fazer com que as pessoas se esquivem de sua responsabilidade por suas escolhas, inclusive a escolha pela pessoa com quem vai se relacionar. "Na vida real, dificilmente alguém vai encontrar um parceiro para você e que tudo será um mar de rosas."

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