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No TikTok, influenciadoras viralizam com conteúdos de moda que vão além do 'arrume-se comigo'

Para além da famosa trend, o 'fashion TikTok' ampliou o acesso ao conhecimento sobre moda e fez com que grifes entrassem na plataforma

12 mai 2022 - 06h10
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"Isso é estiloso ou só estiloso porque ela é magra?". Essa é a pergunta que transformou a vida de Amanda Pieroni, de 26 anos, formada em engenharia química e apaixonada por moda. A jovem viralizou no TikTok após começar a reproduzir looks de artistas e it girls, como Kendall Jenner, Hailey Bieber e Jade Picon. Depois de um vídeo atingir 50 mil visualizações, Amanda resolveu se arriscar e passou a criar conteúdo com mais frequência.

"Eu pensei '50 mil pessoas já viram o meu rosto, eu gosto de moda e vou começar a falar sobre isso na internet'", conta a influenciadora, que hoje soma mais de 1 milhão de seguidores na plataforma. Com o quadro 'isso é estiloso?', a intenção de Amanda é mostrar que as tendências nem sempre incluem todos os tipos de corpos. Interessada pelo mundo da moda desde pequena, ela conta: "Sempre fui uma criança e adolescente gorda. Nunca fui magra, então sempre tive esse tipo de pensamento".

Se uma peça viraliza no TikTok, ela faz questão de mostrar no quadro, já que o mais comum é que apareça apenas em pessoas com o corpo padrão. Como critério para saber se o visual é realmente estiloso ou não, a paulistana diz que depende de como se sente ao vestir a roupa e como as pessoas reagem, por exemplo, ao verem uma mulher gorda de cropped.

@amandapieroni Conta oq vcs acharam ! Sugere uma tendência pra eu testar! Me siga pra mais looks e dicas! #issoéestiloso #fashionnews ? Blue Blood - Heinz Kiessling & Various Artists

Para a influenciadora, o trabalho passou a fazer mais sentido quando ela começou a ter um retorno positivo de mulheres que passaram a se sentir mais confortáveis para usar determinadas roupas. "Já me falaram que, por causa dos meus vídeos, tiveram coragem de usar alguma peça específica. E se eu ajudar uma pessoa a se sentir melhor, já fico muito feliz", afirma Amanda.

O questionamento da jovem serve para enxergar as tendências com um olhar crítico e refletir sobre o que é aceito apenas porque está em um corpo magro e o que é rejeitado quando o padrão é quebrado.

Democratização da moda

Assim como Amanda, jovens de todo o mundo utilizam a plataforma para discutir, se inspirar ou apenas ficar por dentro das tendências fashion. O TikTok ampliou o acesso a uma área considerada elitista e modificou a lógica de quando apenas as grifes ditavam a moda. Para não serem deixadas para trás, agora elas buscam se inserir na plataforma.

"O TikTok é uma plataforma viva que reflete as novas formas de consumo e de expressão. Diante disso, é natural que as marcas também migrem para o nosso ambiente. Na última Semana de Moda de Paris, a Off-White, por exemplo, levou seu desfile para além da passarela do evento por meio de uma live interativa no TikTok que conectou fãs e consumidores ao redor do mundo", conta Ronaldo Marques, Head de Parcerias de Conteúdo do TikTok Brasil.

Para ele, o alto consumo de moda na plataforma é resultado das mudanças que o próprio TikTok oferece, como a forma que as pessoas se entretêm e se conectam. Com a democratização dos conteúdos que costumavam ser restritos a uma parcela da população, agora é possível acessá-los na palma da mão.

Como exemplo, Ronaldo cita: "Na tendência Get Ready With Me (#GRWM), ou #ArrumeSeComigo, em português, os criadores encontraram uma maneira autêntica de mostrar seu estilo e interagir com a comunidade. Hoje, já são mais de 24 bilhões de visualizações na hashtag #GRWM e mais de 1,8 bilhão na #ArrumeSeComigo".

Quem concorda que o TikTok abriu portas para os amantes do mundo da moda é a jornalista Jeniffer Reis, de 26 anos. Natural de Piracicaba, no interior de São Paulo, a jovem tinha o sonho de trabalhar em uma revista de moda e acabou se encontrando como criadora de conteúdo digital. Hoje, ela une o jornalismo e a moda e, além de ter um público fiel nas redes sociais, trabalha como criadora de moda em um e-commerce.

"Tanto no TikTok quanto no Instagram, eu falo de pautas e assuntos que gostaria de escrever em uma revista. Então, gosto de dizer que eu tenho a minha revista pessoal", diz Jennifer, que acumula mais de 100 mil seguidores no TikTok. Assim como Amanda, ela também produz um conteúdo de moda para além dos vídeos de 'arrume-se comigo'. Com a moda dos anos 2000 em alta, criou um quadro chamado 'Mulheres Consideradas Gordas dos Anos 2000', e viralizou com um vídeo em que fala sobre a atriz Raven-Symoné e a pressão estética que ela sofria quando atuava em As Visões da Raven.

Por gostar de dança, Jeniffer entrou na plataforma para acompanhar as famosas 'dancinhas', mas viu uma oportunidade de explorar outro gosto pessoal. "Eu comecei a falar sobre isso e mostrar para as pessoas o que a moda realmente significa. Que não é algo fútil, que é expressão, arte. E esse sempre foi o meu objetivo dentro da plataforma, mas também trago o meu estilo pessoal e dicas de moda plus size", explica.

@isthatjenn Vamos falar de um icone injustiçado? #moda #fashiontiktok ? Serah - Raven-Symoné

Ciclo de tendências

Apesar da democratização do conhecimento sobre moda que a plataforma oferece, a área fashion tem esbarrado em uma questão que está diretamente ligada ao mundo digital. Por ser uma plataforma de comunicação rápida, as tendências também mudam aceleradamente e fica cada dia mais difícil estar em dia com as novidades.

Carol Garcia, pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica e consultora de negócios para o mercado das indústrias criativas, explica: "A velocidade na apresentação leva à ampliação do consumo e altera a durabilidade da tendência. Isso gera o que chamamos de modismos de curta duração". Para ela, na tentativa das pessoas estarem sempre na moda, o consumismo aumenta mas, ao mesmo tempo, surge a contra-tendência, ou seja, um grupo contrário a essa lógica, que dissemina outro estilo de vida, como o retorno à natureza ou o minimalismo.

A influencer Amanda concorda que o ciclo de tendências se tornou mais curto com o uso em massa do TikTok. "É um período curto em que as coisas viralizam, as pessoas cansam e aí vem uma outra peça e começa tudo de novo. Todo mundo quer, todo mundo usa e todo mundo enjoa", comenta.

Além disso, assim como em todas as outras plataformas digitais, é preciso ficar atento à veracidade das informações disseminadas e à superficialidade de assuntos que viralizam - inclusive no campo da moda - mas não são tratados com a seriedade necessária. Mesmo assim, Carol destaca o lado positivo do conhecimento construído em rede. "Essa cultura da convergência gera um debate mais amplo e permite que as coisas se construam em equipe, com a participação de produtores e de consumidores de conteúdo", finaliza.

Estadão
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