Figurino da série 'Pose' é retrato exuberante da cena LGBT dos anos 80
Produção, criada por Ryan Murphy, mostra a cultura dos bailes em Nova York
Na Nova York da década de 1980, o auge dos engravatados de Wall Street, dos power suits e cabelos com topetes altíssimos definia boa parte do que se via pelas ruas da cidade. Mas era em bairros mais afastados do centro, como o Harlem, que a cena underground efervescia: lá aconteciam os bailes criados pela população LGBTQ+, em que diferentes grupos, conhecidos como casas, competiam entre si em desfiles temáticos e disputas de dança. As houses (termo inspirado nas grandes maisons da moda) funcionavam também como abrigo para jovens rejeitados por suas famílias. É desse cenário que trata Pose, a nova produção de Ryan Murphy - o nome por trás de séries como Glee, American Horror Story e American Crime Story.
Fazendo jus à cultura dos bailes que quis capturar, essencialmente frequentados por jovens negros, latinos, gays e transexuais, Pose se destaca por ser a produção com o maior elenco transgênero na história da televisão, com cinco atrizes transexuais negras e uma equipe de 140 pessoas LGBTQ+, entre escritores, cineastas e produtores. Os lucros, aliás, vão ser 100% revertidos a organizações ligadas a essa comunidade. O programa, que estreou nos EUA em junho pelo canal FX e chega ao Brasil no segundo semestre via Fox Premium, já teve sua segunda temporada confirmada para 2019. Na série, o figurino é parte essencial da narrativa: em sintonia com o visual exagerado e ultracolorido da época, os looks das personagens - especialmente aqueles usados durante os bailes - enchem os olhos.
A responsável pelas roupas é a figurinista Lou Eyrich, que já havia trabalhado também em Glee e American Horror Story: Freak Show. Em uma parceria com Analucia McGorty, ela viajou de Santa Fé a Minneapolis em busca de peças vintage. O longo caminho compensou: entre os achados, estavam itens de grifes como Mugler, Lacroix e Versace - que foram direto para o guarda-roupa da personagem Elektra Abundance, vivida por Dominique Jackson, que comanda a casa de Abundance, uma das mais tradicionais do universo da série.
Como inspiração, Lou Eyrich aponta o documentário Paris is Burning, de 1991, que segue a comunidade LGBTQ+ em diferentes momentos dos anos 1980 em Nova York; além dos visuais de nomes como Diana Ross, Michael Jackson e Madonna, que estava no início da carreira.
"Nunca gastamos mais de 30 dólares em uma peça, porque na vida real, eles também não teriam investido mais do que isso", conta a figurinista em entrevista ao LA Times. "Também não queríamos fazer os figurinos sofisticados demais, de modo que não parecessem feitos pelas próprias personagens".
Uma das cenas mais icônicas da produção acontece quando os membros da casa de Abundance vestem roupas (literalmente!) da realeza europeia, roubadas de um museu. No dia a dia, os protagonistas também aparecem com peças características da década, como blazers com ombreiras, bermudas de cintura alta e roupas de ginástica em tons neon.
Pose ainda encontra espaço para abordar temas sociopolíticos, como o boom do vírus HIV, além da pressão social de se adequar a uma estética considerada feminina e da marginalização de transexuais, que experienciavam transfobia dentro da própria comunidade gay.
Assista ao trailer abaixo.