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Figurinista de 'Samantha!' conta como nasce o visual de uma série

Letícia Barbieri explica o processo criativo dos looks de cada personagem

3 ago 2018 - 16h56
(atualizado às 17h47)
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Samantha!, a primeira comédia brasileira da Netflix, conta a história de uma ex-artista mirim (que dá nome a série) que, mesmo após quase três décadas, faz de tudo para se manter no estrelato.

O figurino é um dos destaques, especialmente por causa dos flashbacks dos anos 1980, que se passam em um programa de auditório apresentado pelos Plimplons (Samantha, Bolota e Tico) com peças muito específicas. É o caso da coroa da protagonista, do mascote Zé Cigarrinho (Ary França), e as roupas de palco da cantora já adulta.

Em conversa ao E+, Letícia Barbieri, que também foi responsável pelo figurino de filmes como Os Homens São de Marte... E é pra Lá que Eu Vou! e Bruna Surfistinha, conta como foi o seu processo criativo para montar os looks de cada personagem da série e também como funciona o processo criativo para montar a identidade fashion de um seriado. Confira:

Como foi o seu processo de criação em Samantha!? Por mais que seja uma série atual, tem muitas referências aos anos 1980… Comecei com o figurino dos Plimplons. Os anos 1980 são aquela década muito criativa esteticamente, ocorreram muitas mudanças importantes, tanto na moda quanto comportamentais. Trouxe a liberdade da época para o figurino e vivi os anos 1980, então não precisei procurar muitas inspirações, lembrei justamente do universo de programas infantis.

As roupas das crianças foram inspiradas em um futurismo retrô, em como eles imaginavam que seria o futuro naquela época. A Samantha é uma guerreira espacial, uma super heroína. O Bolota é um astronauta e o Tico é um cowboy espacial. Para o figurino atual, me inspirei na época também, até para ter um link com os flashbacks.

Qual foi a parte favorita desse figurino? Gosto muito do figurino dos Plimplons. Amo o Zé Cigarrinho, acho ele maravilhoso. Fiquei muito satisfeita com o resultado, porque é difícil fazer um boneco que é um cigarro que participa de um programa infantil. Ele tinha que ter bossa, charme, cores harmônicas… Também amo a coroa dela. De todas as peças, é o meu xodó, porque foi totalmente desenhada para isso, pensada para a Samantha criança e adulta. A coroa é uma personagem que foi desenhada por mim.

Como a personalidade forte da Samantha aparece no figurino? Ela quer brilhar para sempre. é muito vaidosa, preocupada com a imagem. Foi um caminho natural. Na minha cabeça, o figurino dela atual também tem uma coisa de super heroína, uma mulherona, que luta no dia a dia, mas tem vontade de se manter nos holofotes.

E onde você encontra as peças? Você tem um acervo, ou é produção? É bem misturado. O figurino do programa dos Plimplons foi todo confeccionado. Os adultos que aparecem nos flashbacks tem muita coisa de brechó, um pouco de confecção. As roupas atuais vem de lojas de hoje. O processo é esse, procura, pesquisa, acha. Tem alguns caminhos que só são alinhados realmente na prova de roupa.

Já aconteceu de você trocar o figurino depois da prova de roupa? Acontece. Você só finaliza o figurino na hora de filmar. Às vocês você imagina o figurino, na prova de roupa dá tudo certo, mas na gravação tem todo um cenário que você pode não ter visualizado, tem outras pessoas na mesma cena. Deve existir uma harmonia entre o figurino, os personagens e o cenário.

Você tem que deixar a atriz muito confortável e muito segura dentro da personagem. Acontece sim de mudar na hora. Eu sempre falo para as pessoas que trabalham comigo que o figurino só é fechado depois da filmagem.

Quanto tempo demora o processo de montar o figurino? Em Samantha! tivemos seis semanas de pré-produção. Nesse tempo a gente estuda o roteiro e faz reuniões de direção de conceito com o diretor geral e o de arte. A partir daí começamos a produzir, pesquisar, procurar tecido, confeccionar. Eu faço uma cartela de cores para cada personagem, então depois tem as provas de roupas, nas quais os caminhos vão ficando mais definidos. Isso é a pré-produção. Depois começamos a filmar, o que demora mais ou menos seis semanas também.

E quantos figurinos são utilizados em uma trama como essa? De cabeça eu não sei, a Samantha tinha muitas trocas de roupas. Na primeira temporada foram mais de 30 looks, porque um episódio podia se passar em mais de um dia. O capítulo do reality show, por exemplo, são vários dias. Isso falando de looks, né? De peças são muitas mesmo, não sei nem quantas.

Você falou que faz uma cartela de cores para cada personagem. Por que? É um instinto. O meu olhar é aguçado para isso, sou figurinista há mais de dez anos. Quando vamos fazer a prova de roupa, olho na arara e vejo que uma cartela de cores se formou. A Samantha, por exemplo, não usa verde em nenhum momento. Depois, vou afinando, olhando as fotos, decidindo por cores mais harmônicas entre si. Também tem a questão da cor da pele, que fica melhor com certos tons. Não é muito técnico, é mais instintivo. Vamos juntando, como se fosse um quebra cabeça, porque tem que ser harmônico entre os personagens, mas não muito parecidos.

Tem diferença criar o figurino para um filme ou uma série? Não. É o mesmo processo. É claro que a série tem mais cenas - pelo menos as que eu fiz. Então acaba tendo mais trabalho, mas o processo criativo é o mesmo. Tem a leitura do roteiro, pensar no conceito, pesquisa, prova de roupa e filmagem.

Estadão
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