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Com foco em moda sustentável, projeto Trama Afetiva chega à segunda edição

'Uma marca só é relevante quando não pensa apenas na matéria prima, mas também nas pessoas', diz Jackson Araujo, diretor criativo da iniciativa

1 ago 2018 - 11h47
(atualizado às 12h54)
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"É preciso se renovar para se manter relevante". A frase do jornalista cearense Jackson Araujo poderia funcionar em muitos contextos diferentes, mas faz especialmente sentido quando se pensa em novos caminhos para a moda. Reutilizar sobras de materiais, inserir minorias no mercado de trabalho e entender as novas formas de consumo sustentável são pensamentos recorrentes na mente criativa de Jackson, que, ao lado de Luca Predabon, detém a direção criativa e de conteúdo do projeto Trama Afetiva.

A iniciativa, criada pela Fundação Hermann Hering em 2016, chega agora à segunda edição com o objetivo de desenvolver uma linha de produtos feitos a partir do reaproveitamento de malhas de algodão de antigos estoques e de resíduos têxteis gerados pela Cia Hering. O resultado final é fruto do trabalho colaborativo de um grupo de dez pessoas previamente selecionadas por uma comissão comandada por Araujo. Durante o processo, os escolhidos participam de uma imersão criativa sob orientação de nomes como o estilista Alexandre Herchcovitch, o designer Marcelo Rosenbaum e a estilista Itiana Pasetti, co-fundadora da marca Revoada, que reutiliza câmaras de pneus e nylon de guarda-chuvas como matérias-primas para produzir bolsas, mochilas e carteiras.

Para escolher dez entre os 445 inscritos, Jackson conta que o critério é formar um grupo diverso e multidisciplinar, com pessoas de diferentes origens e formações profissionais. "Entre as inscrições, a pessoa mais velha é de 1954 e a mais nova, de 2001. Uma distância que mostra o interesse amplo que existe sobre essa pauta, e que as pessoas precisam se juntar para construir um pensamento novo", diz o diretor.

O processo criativo tem início no próximo dia 8, com o seminário Design para um Mundo Melhor, que oferecerá palestras abertas ao público no IED (Istituto Europeo di Design), em São Paulo. Na programação, serão discutidos temas como novas formas de descarte para tecidos, ativismo negro, desperdício de alimentos e reaproveitamento de matéria prima. O conteúdo multidisciplinar e focado em inovação funciona também como impulso para que os participantes do Trama Afetiva comecem a pensar no que irão produzir. "Todo mundo participa trazendo as suas habilidades e constrói junto", define Jackson. "É uma construção colaborativa a partir do papel de cada um no mundo".

Economia afetiva

No projeto, o movimento pela sustentabilidade vai além do upcycling. É também sobre conexão de pessoas e economia afetiva, um conceito que foca na importância do coletivo e na transmissão de uma mensagem ética por parte das empresas, que envolva ainda compartilhamento de informação e preservação do meio ambiente, e não só ganho pessoal. Para Jackson Araujo, o grande desafio é fazer com que essas ações comecem a aparecer não só em marcas independentes, mas também nas grandes empresas que dominam o mercado.

"No fim de 2017, com a Fundação Hermann Hering, montamos uma startup de moda dentro da Hering para discutir resíduo têxtil e o que fazer com aquilo. Depois de seis meses de estudo, conseguimos dar função para o que fica parado em estoque e criamos o projeto Folha, que agora está lançando sua primeira coleção, feita só com material já existente. A Farm está fazendo algo parecido com uma iniciativa chamada Re-Farm, produzindo peças com as sobras de tecido das marcas do grupo Soma [que detém Farm, Animale, A-brand e FYI]. Esse tipo de pensamento tem que ser facilitado, até porque gera impacto positivo de grana também. É economia de espaço", conclui.

Matéria humana

Para Jackson, uma marca só é realmente sustentável - e relevante - quando não pensa apenas na matéria prima, mas também nas pessoas. Ele cita iniciativas como a de Catarina Mina, que faz bolsas artesanais com a mão de obra de mulheres que estavam em realidade social de abandono - "mulheres que eram crocheteiras e hoje são empreendedoras", explica Jackson. Outra é Kátia Ferreira, da Apoena: "ela começou a reunir mulheres que faziam crochê para recuperar a tipologia do cerrado. Elas ficaram íntimas e entendeu-se que sofriam violência sexual dentro de casa. Assim, passaram a usar o bordado para construir um processo de transformação, juntando o 'saber fazer' com a vontade de ser alguém, rejeitando violência, exclusão e se colocando dentro de um mercado de trabalho".

O diretor criativo menciona ainda o projeto Ponto Firme, que oferece um curso técnico de crochê na penitenciária masculina Adriano Marrey, em Guarulhos. "Ele [Gustavo Silvetre, criador do Ponto Firme] entendeu que existia necessidade de mão de obra especializada. É inteligente, afetuoso e coloca as pessoas dentro de uma nova plataforma de pensamento. Esse é o mundo que interessa. Tem que fazer com que a indústria entenda que a matéria humana descartada é a mais importante", afirma.

Para Jackson Araujo, o maior desafio é também o lado mais gratificante de seu envolvimento no projeto - "entender o potencial individual na construção de uma transformação coletiva". "Este é meu papel como comunicador: juntar as pessoas certas", diz ele. "Tem que valorizar o que é renovável, e a criatividade é a grande fonte de renovação".

Serviço

Seminário Design para um Mundo Melhor

8 de agosto

9h às 17h

IED (Istituto Europeo di Design)

Rua Maranhão, 617 - Higienópolis, São Paulo

Estadão
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