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Pai narra a morte do filho e deixa lição sobre o tempo

"Espero que a partir desta tragédia você considere como prioriza seu próprio tempo", disse o empresário

10 set 2019 - 15h24
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O norte-americano J.R. Storment, de Portland, nos Estados Unidos, compartilhou em seu perfil na rede social Linked In o relato sobre como ficou sabendo da morte de seu filho. Considerado workaholic (viciado em trabalho), J.R. compartilhou sua perda e deixou uma lição para ser tirada da situação: passar mais tempo com quem você ama.

Foto: JT Storment/LinkedIn
Foto: JT Storment/LinkedIn
Foto: Getty Images / Minha Vida

Wiley, de apenas 8 anos, morreu de forma inesperada enquanto seu pai estava em uma sala de reunião. A família, originalmente composta por quatro integrantes, aprende agora a lidar com a falta deixada pelo pequeno.

É mais tarde do que você pensa

"Oito anos atrás, nesse mesmo mês, eu me tornei pai de gêmeos e co-fundei minha empresa, Cloudability. Há cerca de três meses, a Cloudability foi vendida. Há cerca de três semanas, perdemos um de nossos meninos.

Quando recebi a ligação, estava sentado em uma sala de conferências com 12 pessoas em nosso escritório em Portland, falando sobre políticas de banco de horas para funcionários. Minutos antes, tinha admitido ao grupo que, nos últimos 8 anos, não havia tirado mais do que uma semana de férias.

Minha esposa e eu concordamos que, quando um de nós liga, o outro responde. Então, quando o telefone tocou, me levantei e caminhei até a porta da sala de conferências imediatamente.

Eu ainda estava saindo pela porta quando respondi com 'Ei, o que foi?'. 

 Sua resposta foi gelada e imediata: 'JR, Wiley está morto'.   'O quê?', eu respondi incrédulo.   'Wiley morreu', ela respondeu. 'O que?! Não', eu gritei.   'Sinto muito, tenho que ligar para o 911.'

Essa foi toda a conversa. A próxima coisa que eu me lembro é de sair voando para a porta do escritório com as chaves do carro na mão, correndo ferozmente pela rua gritando 'Merda! Merda!'. Na metade do caminho eu percebi que eu não tinha o controle da porta da garagem. Correndo de volta para o saguão eu gritei 'Alguém me leva! Alguém me leva!'. Felizmente, um colega me ajudou.

Cheguei em casa doze minutos depois. A rua em que moramos estava cheia de veículos de emergência. Eu corri para a nossa porta, que estava aberta, e fui direto para o quarto que os meninos dividiam. Meia dúzia de policiais parou na minha frente, bloqueando o caminho. Quando uma criança morre repentinamente, aquilo se torna cena de um possível crime.

Foram duas horas e meia dolorosas antes que eu pudesse ver meu garoto. Depois de uma hora de espera, em choque, disse aos policiais armados vigiando a porta que não podia esperar mais. Eles me permitiram espiar pela janela de vidro. Ele estava deitado em sua cama, com as cobertas ordenadas. Parecia que estava dormindo pacificamente. Coloquei as mãos na janela e chorei.

Quando o médico legista finalmente terminou seu trabalho, fomos autorizados a entrar na sala. Uma calma estranha tomou conta de mim. Deitei ao lado dele, na cama que ele amava, segurei sua mão e fiquei repetindo: 'O que aconteceu, amigão? O que aconteceu?'.

Ficamos ao lado dele por cerca de trinta minutos acariciando seus cabelos, antes que voltassem com uma maca para o levar embora. Fui com ele, segurando sua mão e sua testa, enquanto descíamos pela garagem. Então, todos os carros foram embora. O último a sair foi a minivan preta com Wiley.

Nas últimas duas semanas eu tenho pensado em várias coisas das quais me arrependo. Elas tendem a ficar em duas categorias: coisas que eu faria diferente e coisas que me deixam triste por não ter visto ele fazendo. Minha esposa me lembra constantemente de todas as coisas que ele fez: Wiley foi para dez países, dirigiu um carro em uma estrada no Havaí, escalou na Grécia, mergulhou em Fiji, usava terno para uma fantástica escola preparatória britânica todos os dias, foi resgatado de um tubarão em um jet ski, ficou bom o suficiente no xadrez para me bater duas vezes seguidas, escreveu contos e desenhou quadrinhos obsessivamente. E, então, ele morreu em sua cama durante a noite.

A noite anterior foi normal. Wiley estava saudável e comprometido. Recebemos amigos com crianças no jantar. Todos nós pulamos no trampolim gigante que havia sido a primeira aquisição da casa para a qual mudamos há algumas semanas.

Naquela noite, Wiley foi mandão com as outras crianças (além de sua mãe, ele era uma das pessoas mais opinativas que eu conheço) e começou a dizer a todos que estavam jogando errado. Eu o puxei para o lado. Eu era severo com ele. Severo demais, lembrando agora. E eu o fiz chorar. É uma das últimas interações que tivemos e me machuca pensar nisso. Ainda vejo as lágrimas escorrendo pelo rosto e os protestos de 'Mas você não está me ouvindo. Ninguém me escuta'.

Algumas horas depois, as coisas se acalmaram. Wiley comeu sua refeição favorita. Então, colocamos as crianças na cama. Eu tive um momento muito doce com Wiley na hora de dormir e pedi desculpas por fazê-lo chorar. Demos um abraço e eu fui para a cama. Cerca de quinze minutos depois, eu estava deitado na cama e, no quarto escuro, o vi subindo as escadas para o nosso quarto: 'Papai, eu não consigo dormir'. Havia música alta tocando em uma festa na casa de um vizinho e isso o mantinha acordado. Eu o acompanhei de volta ao seu quarto e fechei todas as janelas. Ele disse que estava melhor. Tivemos outro momento doce. Então, fui para a cama.

Por volta das 5h40 da manhã seguinte, acordei para uma série de reuniões. Andei de bicicleta, fiz uma ligação com a analista do meu escritório em casa, uma com um colega no caminho para o trabalho e depois no escritório. Ninguém parece tão importante agora. Saí naquela manhã sem me despedir ou olhar os meninos.

No ano passado, Wiley foi diagnosticado com uma forma leve de epilepsia chamada Epilepsia Rolândica, que é mais comum em meninos entre 8 e 13 anos. Normalmente , ela se resolve sozinha na adolescência. Em Wiley, era leve: só vimos uma única convulsão confirmada. Isso aconteceu cerca de 9 meses atrás. Todos os pediatras e neurologistas com quem discutimos sua condição disseram que havia pouco com o que se preocupar.

Por isso, a conclusão sobre a causa da morte foi Morte Súbita Inexplicável de Epilepsia. Geralmente, ela é vista como imprevisível, inevitável e irreversível quando é iniciada. Pode estar ligada a uma convulsão, mas, muitas vezes, o cérebro simplesmente desliga.

Muitos perguntaram o que podem fazer para ajudar. Abrace seus filhos. Não trabalhe até muito tarde. Quando não tiver mais tempo, você vai se arrepender de muitas das coisas para as quais você provavelmente está se dedicando. Você tem agendado regularmente um tempo com seus filhos? Se há alguma lição a tirar disso, é para lembrar aos outros (e a mim) a não perder as coisas que importam.

Enquanto eu escrevia este post, meu filho vivo, Oliver, veio pedir pra ver TV. Em vez de dizer o habitual 'não', parei de escrever e perguntei se poderia brincar com ele. Ele ficou surpreso com a minha resposta e nos conectamos de uma maneira que antes eu teria perdido. Pequenas coisas importam. Um aspecto importante dessa tragédia é a melhora no relacionamento que tenho com ele. Nossa família deixou de ter duas unidades de dois (os pais e os gêmeos) e passou a ser um triângulo de três. Esse é um grande ajuste para uma família que sempre teve quatro cantos.

Como minha esposa escreveu: 'Por favor, pergunte-nos sobre a vida e a morte de nosso filho. Nós nos curamos em pequenos pedaços enquanto conversamos sobre isso'. Dessas cinzas, surgiram muitas conexões novas e restauradas. Espero que a partir desta tragédia você considere como prioriza seu próprio tempo."

O que é Epilepsia?

A epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos e se expressa por crises epilépticas repetidas. A causa pode ser uma lesão no cérebro, decorrente de uma forte pancada na cabeça, uma infecção (meningite, por exemplo), neurocisticercose ("ovos de solitária" no cérebro), abuso de bebidas alcoólicas, de drogas etc. Às vezes, algo que ocorreu antes ou durante o parto. Muitas vezes não é possível conhecer as causas que deram origem à epilepsia.

Como lidar com o luto?

A perda de uma pessoa próxima traz um grande vazio em nossas vidas. O luto, sentimento de grande angústia, deve ser vivido e lidado com carinho e atenção. "É uma etapa que precisamos encarar, compreender, vivenciar para continuarmos vivendo de forma equilibrada e saudável. Assim nestas situações talvez tudo que nos caiba seja de fato um bom abraço, uma oferta de colo, de ajuda com questões burocráticas ou mesmo a nossa presença ao lado. Mostrando que a tristeza atinge a todos, mas que estão ali unidos para chorarem e se ajudarem nesta fase difícil de vida" explica a psicóloga Raquel Baldo.

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