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Defensora da ONU poupou mais de R$ 6 mil com vida sustentável e dá dicas de como economizar

Ambientalista aponta que má gestão do lixo no Brasil gera prejuízo de R$ 8 bilhões aos cofres públicos e explica quais iniciativas ecológicas ajudam a diminuir os gastos dentro de casa

25 set 2018 - 07h11
(atualizado às 12h11)
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Fernanda Cortez reduziu o consumo, passou a produzir menos lixo e economiza com hábitos de vida que respeitam o meio ambiente.
Fernanda Cortez reduziu o consumo, passou a produzir menos lixo e economiza com hábitos de vida que respeitam o meio ambiente.
Foto: Divulgação / Daniel Chiacos / Estadão

Não existe desculpa quando o assunto é ter qualidade de vida sem precisar gastar muito dinheiro, principalmente quando há boas orientações. É com essa visão que a integrante das Nações Unidas pela campanha Mares Limpos, Fernanda Cortez, reduziu o seu consumo e criou formas saudáveis e criativas de lidar com seus pertences.

A ambientalista deixou de gastar R$ 2 mil por ano em produtos de limpeza de casa e higiene pessoal ao trocar os químicos tradicionais por uma mistura de limão, bicarbonato, álcool, vinagre e óleo de coco. "Eu faço o meu desodorante caseiro e pasta de dente com o mesmo óleo de coco que eu uso para cozinhar. Além disso, ainda uso esses ingredientes para limpar a casa", afirma.

A iniciativa previne doenças respiratórias. Uma pesquisa da Universidade de Bergen, na Noruega, alertou que os sprays usados nas faxinas podem ser tão nocivos quanto fumar vinte cigarros por dia. O estudo, publicado em janeiro deste ano, é um compilado de exames realizados em 6.230 pessoas, ao longo de duas décadas, e mostra que as mulheres estão mais expostas aos problemas de saúde do que os homens.

Das 3.302 mulheres analisadas, apenas 197 (6%) disseram que não limpam a casa; já metade do sexo oposto afirmou que não faz esse tipo de atividade.

"Os produtos da grande indústria têm muito perfume, muitas vezes alergênico. Então, há muita gente com rinite e outros problemas sem saber que o motivo pode estar na roupa lavada com amaciante, que passa o dia em contato com o corpo", explica a ambientalista.

No vídeo abaixo, Fernanda Cortez explica como colocar em prática as dicas de limpeza.

A conta de Fernanda também inclui os gastos com a menstruação. Segundo ela, se as mulheres trocassem o absorvente por coletor menstrual, que dura cerca de dez anos e custa uns R$ 60, elas economizariam cerca de R$ 1 mil nesse período, além de diminuírem a quantidade de lixo produzido.

De acordo com a produtora de artigos femininos sustentáveis Korui, a mudança na higiene íntima, ao longo da vida, permite uma economia ainda maior. "Uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida e utiliza, em média, 20 absorventes por ciclo. Assim, estima-se que ela use dez mil deles durante toda a idade fértil", calcula. "Se considerarmos que cada um custe em média 60 centavos, chegamos ao valor alarmante de R$ 6 mil nesse tempo", afirma a equipe da marca.

Poupar para comer melhor

Um outro hábito que a defensora da ONU adotou foi o uso de xampu em barra, que dura cerca de quatro meses. "Eu pago R$ 20 nele. Pode parecer caro, mas é um produto que se mantém muito mais do que os que custam R$ 15 numa farmácia e duram, no máximo, um mês e meio", diz. "Uma pessoa sozinha conseguiria economizar em média R$ 60 por ano. Famílias grandes, ainda mais", completa.

Fernanda explica que os xampus tradicionais líquidos, muitas vezes, não são biodegradáveis. Portanto, além de pesar mais no bolso, incitam a poluição dos lençóis freáticos e aumentam o número de plástico, que pode levar séculos para se decompor na natureza quando mal descartado.

Ela reflete, ainda, que o dinheiro poupado, somado às demais reduções de custo, poderia ser investido em uma alimentação mais saudável e livre de agrotóxicos, considerada por muitos como algo caro e pouco acessível aos mais pobres.

"Quando nós investimos em comida orgânica, ficamos muito menos doentes. Então, aquele dinheiro que gastamos com remédio, pode ser investido para evitarmos a doença", aconselha. "O consumo consciente traz uma outra maneira de pensar a nossa existência e como tomamos as decisões no dia a dia", complementa. Segundo o DataSUS, 34 mil pessoas foram intoxicadas com agrotóxicos entre 2007 e 2014 no Brasil.

'É tudo uma questão de procurar bem o produto e de conversar com o produtor local', diz Fernanda. Ela afirma pagar R$ 3 em alface orgânico e, às vezes, o mesmo alimento está na feira por R$ 4.
'É tudo uma questão de procurar bem o produto e de conversar com o produtor local', diz Fernanda. Ela afirma pagar R$ 3 em alface orgânico e, às vezes, o mesmo alimento está na feira por R$ 4.
Foto: Divulgação / Estadão

A ativista aponta, ainda, que poupou cerca de R$ 4 mil em sua mudança de apartamento ao comprar móveis usados e ao reutilizar itens da antiga moradia em vez de jogá-los fora.

Assim, a youtuber consegue alcançar uma poupança de quase R$ 10 mil em dois anos em relação ao que ela gastaria com um consumo tradicional.

'Visual na moda não faz sentido num mundo que polui'

Fernanda diminuiu a frequência com a qual compra roupas, aderiu aos brechós e faz uso da técnica do armário cápsula, que consiste em um guarda-roupa com 37 a 72 peças. Esse número não considera acessórios, sapatos, bolsas e itens para ocasiões especiais, como casamentos.

A ideia é diminuir a compulsão pelo consumo de novos trajes e fazer com que a pessoa repita mais vezes o mesmo visual. Assim, evita-se o desperdício de água em lavagens constantes e se reduz os impactos que o mercado da moda causa no planeta.

"Usar looks do dia para ficar por dentro da moda não faz mais sentido, considerando que vivemos num planeta de recursos finitos em que a indústria do ramo gasta milhões de litros de água para produzir o que você usa, polui rios e mata um monte de peixe", alerta ela, que produziu uma série de vídeos ensinando a fazer o armário cápsula; assista abaixo:

O mais recente relatório da Ellen McArthur Foundation espelha a afirmação da defensora das Nações Unidas. A indústria têxtil é a quinta que mais polui no mundo, e um caminhão de tecido é queimado ou jogado no lixo a cada segundo.

O levantamento estima que a concentração de dióxido de carbono no mar suba para 26%. Fora isso, 22 milhões de toneladas de microfibras - incluindo as recicladas - serão lançadas nos oceanos por esse setor até 2050.

O estudo aponta, também, que o Brasil é um dos países com o nível mais crítico de desperdício de água para produção de roupa, estando lado a lado com potências como China e Estados Unidos.

"Até pouco tempo atrás, as pessoas falavam que a roupa de brechó tem uma energia estranha, mas, para mim, energia estranha é a que vem desse sistema de produção e do trabalho escravo que pode existir por trás. Você está fazendo espécies, incluindo a humana, morrerem por conta da roupa que você compra", critica.

'O Poder Público trata o lixo com descaso'

A preocupação de Fernanda ganha sustentação ao se pensar a gestão do lixo no Brasil. Em 2010, foi sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (nº 12.305/10) para redução de resíduos e o aumento da reciclagem.

Pelo texto, todos os lixões do País deveriam ter sido fechados até 2014, mas dados da plataforma Perfil dos Municípios Brasileiros, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que apenas 54,8% dos municípios brasileiros têm um Plano Municipal de gestão do lixo.

A lentidão ao aplicar a medida vai na contramão das metas da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu a redução dos impactos ambientais do lixo no território até 2030.

"O Poder Público perde R$ 8 bilhões por ano com descarte inadequado. Então, os governantes precisam criar um prazo concreto para implementação desta lei, e não tratá-la com descaso. Ela é muito elogiada em vários lugares do mundo por abranger a substituição dos lixões por aterros e o uso da compostagem", afirma Fernanda.

Diante dessa realidade, a influenciadora fundou o movimento Menos1Lixo, que promove eventos de educação ambiental para conscientizar sobre o impacto que a falta de sustentabilidade tem na vida pessoal e do planeta. "Tudo começou quando topei o desafio de banir os copos descartáveis e carregar comigo um copo retrátil", conta. Em um ano, Fernanda deixou de usar 1.618 copos, o que a ajudou a gerar menos resíduo.

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais

Estadão
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